Considerado perdido há décadas no Brasil, um manuscrito do compositor Heitor Villa-Lobos foi encontrado em Brasília pelo pesquisador Alexandre Dias, criador e diretor do Instituto Piano Brasileiro. A obra descoberta é a parte de piano do Concerto Brasileiro para Dois Pianos e Coro, estreado no Rio de Janeiro em 1934 pelo próprio compositor e pelo pianista José Vieira Brandão. “É como se perceber diante de um osso de um tiranossauro rex”, diz Dias.
Já pertencia ao acervo do Museu Villa-Lobos a partitura manuscrita referente às intervenções do coro, mas faltava o restante da música. “Na verdade, sem a parte do piano, não dava para entender exatamente o que o compositor buscava alcançar com a partitura. Agora, é possível enxergar com mais clareza o que ele propunha”, explica Dias.
Alexandre Dias encontrou uma partitura com a anotação Atrevido, escrita para dois pianos. “Ali o sinal de alerta acendeu, porque o Concerto Brasileiro foi uma homenagem a Ernesto Nazareth, e sabíamos que nele o Villa evocava duas obras dele, Atrevido e Odeon. Comparamos então com a parte do coro e elas se sobrepunham, encaixavam.”
No mesmo acervo, também apareceu a transcrição para piano dos estudos para violão, feita por Vieira Brandão. “Já conhecíamos os estudos de 1 a 8, mas agora encontramos os de números 9 a 12, ou seja, o ciclo completo, que vamos editar, trabalhando também com a pianista Sonia Rubinsky para que ela faça a estreia moderna dessas peças.”
Conforme Dias, o resgate da obra de um compositor segue três critérios. O primeiro deles é a criação de um catálogo, depois a edição com revisão crítica das obras, após todas as peças serem encontradas, e por último vem a realização de uma gravação integral. “No Brasil, hoje, o único compositor cujo trabalho de resgate cumpre esses critérios é Ernesto Nazareth. O único. Sabemos do modo como o País lida com seu passado, mas essa situação não pode ser aceita, considerada normal. Sei que praticamente todos nossos autores têm coisas perdidas por aí, e isso é algo que não consigo tirar da cabeça”, conclui.
