Desde que o homem primitivo passou a viver em sociedade, a dança é uma de suas maneiras preferidas de expressar sentimentos. Os movimentos do corpo transmitem emoções que vão da alegria à tristeza, do amor ao ódio e do medo à coragem. Em todas as culturas, mexer-se de forma ritmada, desenhando coreografias com braços, pernas e tronco, é uma forma de libertação, muitas vezes, de si mesmo e das amarras de uma vida cheia de obstáculos e dificuldades.
Embora seja possível aprender a técnica da dança, nos grandes profissionais, ela é um traço do DNA. É o caso de Denian Martins da Silva que, aos 9 anos, não consegue ficar parado e tem o desejo de ser bailarino. “É que eu tenho habilidades ótimas e quero aproveitar isso, sabe?”, revela.
Conforme a mãe, Maria Conceição Martins, ele apresenta muita flexibilidade corporal. “Achávamos, no início, que se tratava de uma falha no desenvolvimento dele. Então o levamos a um traumatologista, achando que tinha algum problema, porque era demais”, afirma. Depois, os pais procuraram um vizinho da família, que é profissional da dança. “Aí ele disse: não, isso não é doença”, conta Conceição.
Para dar suporte ao garoto, Flávio Azeredo, o vizinho, que é professor de dança, enviou as fotos de Denian fazendo os movimentos a uma professora da Fundarte, que conseguiu matriculá-lo no curso de ballet.
A família mora no interior de Montenegro, na localidade de Fortaleza, e não possui condições financeiras para custear os sonhos dos filhos. Felizmente, o garoto conseguiu uma bolsa integral na Fundação, onde começará as aulas no início de agosto, com um profissional que lhe garanta segurança na hora de fazer os movimentos e o incentive a persistir no sonho.
Ao contrário dos pais, que têm medo de que Denian se machuque, o menino confessa que gosta de mostrar o que o diferencia dos demais. A escola é um dos lugares. “Alguns colegas dizem: ô Denian, faz um espacate. E eu faço porque gosto, não tenho medo de ser julgado”, afima.
Na família dos grandes talentos, o preconceito não faz moradia. “Isso é coisa de idiota. Nada a ver, sabe?”, aponta Denian, referindo-se a quem diz que ballet é para meninas. O fato de Conceição ter um filho bailarino não a constrange, muito pelo contrário. Orgulhosa, ela diz que Denian deve seguir a carreira pela qual optar. “Não tem que ser igual a todos. A gente cria os filhos para o mundo, mas também devemos ser cientes de que eles vão fazer o que quiserem, não importa para qual sexo a atividade foi designada pela sociedade”, reforça Conceição.
Denian dizia que não seguiria carreira. “Ah, vou ser o que Deus decidir pra mim. Antes eu pensava desse jeito. Mas agora não. Meu lugar é nos palcos”, assegura.
Talento de família
Denian não é o único da família com um talento incomum. Alisson Henrique de Moraes, com apenas 12 anos, irmão do menino, demonstra interesse pelo desenho. Ele ainda não sabe qual ramo irá seguir: pintura ou estilismo. Mas entre princesas, reis e rainhas, uma coisa é certa: o que o garoto gosta mesmo é de pintar. “Muitas vezes, já comprei revistas da Avon que vêm com uma página de pintar para ele. E não me importo com o fato de serem vestidos de princesas. Reforço a tese de que cada um deve fazer o que quiser”, completa Conceição. Sem dúvida, os meninos são talentosos e o seu futuro pode ser dourado se tiverem apoio.