Para os apaixonados e simpatizantes por rock gaúcho dos anos 1990, a banda Acústicos & Valvulados foi uma das figuras marcantes da época. Nascida em Porto Alegre, traz na bagagem sucessos como Fim de Tarde com Você, e Remédio. O vocalista, Rafael Malenotti, contou um pouco sobre a trajetória da banda desde o ano de formação, as músicas que fazem parte do show e a apresentação desse sábado, na Praça dos Ferroviários.
Jornal Ibiá: Há novidades no repertório ou continuam as músicas já conhecidas pelo público?
Rafael Malenotti: Todas aquelas músicas que fizeram parte de uma época, que foi o auge da banda, nesses quase 30 anos de história, do final dos anos 90 até a metade dos anos 2000, com as músicas que não saíam das paradas de rádio, isso é a grande parte do show. É o que qualquer banda com uma grande estrada faz.
Nós sabemos que tem uma série de canções que não podem faltar em um show. Obviamente, uma ou outra acaba saindo, por que a gente tem que ter a reposição de material novo, para não parecer que a banda estacionou em um estágio de tempos atrás. O show dos Acústicos & Valvulados privilegia as canções que são conhecidas: Até a Hora de Parar, Remédio, Fim de Tarde com Você, Milésima Canção de Amor, esses grandes estandartes da nossa história.
Depois, tem uma parte que a gente gosta de fazer, que são as referências aos artistas que são referências da nossa história, também musical e pessoal. Sempre tem uma carta na manga, a gente vai jogando conforme o show ou o que o público acaba pedindo.
JI: Como você classifica o rock atual no Rio Grande do Sul? Tem espaço para os outros ritmos ou já foi mais de ser apreciado?
Rafael: O rock and roll foi um estilo musical que era referência principal e cultural do mundo inteiro. Ele surgiu nos anos 50, através dos artistas da era pré Elvis Presley. Após, acabou vindo o próprio Elvis e logo em seguida, os The Beatles e o The Rolling Stones, como os maiores expoentes, nesse momento o mundo todo respirava rock and roll. Todo esse movimento foi se perpetuando com o surgimento das novas bandas, das novas tendências, o rock and roll sempre teve força muito grande.
No Brasil, teve a explosão do rock brasileiro nos anos 80, que casou com o primeiro Rock in Rio. Então ali na metade dos anos 80, foi quando surgiram as grandes bandas, popularmente falando, do rock brasileiro. As bandas dos anos 90 elas já eram os frutos daquela semente que tinha sido plantada nas décadas anteriores.
Hoje em dia, desde que o mundo tomou essa proporção de globalização, em que o público tem a possibilidade de ter todas as referências dentro de um smartphone, não só o rock perdeu força, como outros estilos musicais. Não existe um estilo de música, que seja dominante. Em compensação, a gente sabe que acaba tendo espaço para todo mundo, basta os artistas produzirem material condizente com seu público, para que a roda não deixe de girar.
JI: Como é o Rafael sem a banda, também solo nos palcos?
Rafael: Na verdade, um produto só não é o suficiente para cobrir toda a agenda de um mês inteiro. Então, o Acústicos & Valvulados por ter uma estrutura muito grande, o custo muito alto, se torna inviável em determinadas situações. O que não acontece com o fato de eu poder ir com o meu violão e poder tocar sozinho.
Como aconteceu na própria abertura do show do Elton John e do James Taylor no Beira Rio, eu queria, eu ofereci o Acústicos & Valvulados para fazer a abertura, mas, a logística internacional, vinda da produção do show, deixou um clima de “você só vai tocar por que é por lei”, senão eu não iria tocar.
Então como é por lei, a única coisa que liberaram foi uma caixa pro meu violão e um microfone, se eu não quisesse sem a banda iam arranjar outro que se adequasse a logística deles. Eu não ia deixar essa vitrine passar, então conversei com os guris da banda, tive autorização de todo mundo, e fui lá fazer o show de uma maneira mais enxuta.
Toquei as nossas músicas, nesse caso, com a permissão dos meus colegas, e foi um show muito bonito. Pena que não podia todo mundo no palco, porque já envolve passagem de som, bateria, uma montagem mais complexa de equipamento.
JI: Você já estiveram várias vezes no Vale do Caí. Como é estar nas terras onde a há uma cultura alemã forte, mas que tem pessoas que apreciam o rock?
Rafael: O cabelo é justamente para agradar essa população (risos). Brincadeiras à parte, o que mais nos chama à atenção, é que o publico gaúcho abraça o trabalho dos Acústicos & Valvulados, assim como abraçam uma série de outros artistas. Mas é uma sintonia muito fina, entre o público e a banda, tanto é que nosso show continua levando a galera para dançar e cantar. A gente fica feliz de poder subir no palco depois de tantos anos de estrada, ver que continua essa reciprocidade e a parceria da banda com o público.
JI: Um show inesquecível, na tua opinião, com o Acústicos & Valvulados?
Rafael: A gente já vez mais de 1.500 shows. Tem uns que são muito importantes na nossa história. Eu gosto de lembrar um que foi em 98, já faz mais de 20 anos, me pareceu ter sido um divisor de águas, que foi o show que nós fizemos a abertura para a banda O Paralamas do Sucesso, no Estádio do Gigantinho. A gente não tinha ainda um disco gravado em português. Só viríamos a gravar no ano seguinte, mas já estávamos tocando as músicas que seriam o embrião desse trabalho. Foi um show curto de abertura, com o Gigantinho abarrotado, ali foi o nosso “vestibular”.
Eu fiquei muito nervoso, chorava muito antes do show, enervando e aumentando o nível de tensão dos guris da banda, que falavam assim “Cara, é só um show, não precisa ficar nesse estado” e eu particularmente falava “Não, cara, não é só um show, esse é o show que a gente vai colocar em prova se nós realmente vamos ter que repensar muita coisa ou se vai ver o barco começar a navegar com uma maior leveza”.
O show foi espetacular, foi muito bacana, e dali em diante o Acústicos & Valvulados conseguiu ter uma trajetória bacana, em 1999, gravamos o disco, e dali construímos uma história que felizmente dura até hoje.