Dançar em um Centro de Tradições Gaúchas (CTG) pode ser viciante, mas quem cultiva esse hábito garante que também faz muito bem para o corpo. Em todas as “estâncias”, é ensinado que são os peões que conduzem os passos, mas é a destreza delas que torna o bailado especial. As moças que admiram a cultura do Rio Grande do Sul e ensaiam muito para as apresentações se destacam não apenas pela beleza, mas também pela docilidade e pela praticidade. A prenda representa toda a simplicidade do público feminino no sul do país e a cultura deixada pelos antepassados por onde passam. A grande dificuldade de manter viva essa tradição, ao menos em Montenegro, é financeira.
Samantha Drower, de 19 anos, dança em vários cantos do Estado em nome do CTG Reminiscências. Ela começou a cultuar essa tradição há cerca de dois anos, mas o amor pelo Rio Grande do Sul passou de geração para geração. “Meu pai veio de Tupanciretã quando eu ainda era bem pequena e a cultura gaúcha lá é uma prioridade. Isso sempre foi forte dentro da minha família”, comenta.
Desde que começou a se equilibrar de pé sozinha, Samantha já arriscava alguns passos, mas foi aos sete anos que teve vontade de aprender a dançar. Ela foi inscrita em um curso de balé, no qual aprendeu as primeiras técnicas de dança e foi nessa nova experiência que descobriu uma atividade essencial para a sua vida. “Em 2013, conheci o João Vitor, meu namorado, e ele dançava em CTG. Com o apoio da família e com ele ao meu lado, entrei também. Depois nós e mais alguns amigos fundamos o Reminiscências”, conta.
O maior problema para os tradicionalistas tem sido financeiro. Samantha afirma que a falta de incentivo ao tradicionalismo na cidade faz com que o número de adeptos caia. “A cidade não se esforça para manter a cultura. Aliás, não mantém nada. Não temos uma cara. Se recebêssemos uma ajuda financeira do governo, poderíamos pagar pelas vestimentas, para aquelas que estão recém entrando, e muitos poderiam participar e manter viva essa chama”, explica.
A menina que levou os pais para o CTG
Na maioria das vezes em que se conta a história de uma prenda, o interesse pela dança e pela cultura gaúcha vem da família, como no caso da Samantha. Porém, com Érica Weizenmann da Silva, de nove anos, foi diferente. Ela se interessou pelo movimento tradicionalista ao ver um amigo seu se apresentando e os pais concordaram em deixar a menina participar. “Comecei a ensaiar com o grupo mirim do CTG Estância do Montenegro e logo a mãe se interessou. Depois o pai também gostou e hoje eles até fazem dança de salão aqui no CTG”, conta.
Érica mora na localidade de Muda Boi, mas não se importa com a distância do centro de tradições. Ela garante que, para se manter dançando e aprendendo mais sobre o RS, vale o esforço. “Também é legal quando outras crianças olham as nossas apresentações. Acredito que mais pessoas deveriam conhecer a nossa cultura, pois tem histórias muito bacanas e é importante saber das nossas origens”, comenta.
Destaques na Ciranda Cultural
No dia 25 de junho, aconteceu a 48ª Ciranda Cultural de Prendas, organizado pela 15ª Região Tradicionalista (RT). O evento aconteceu em Portão e marcou a coroação das duas montenegrinas. Samantha ficou em primeiro lugar na categoria Prenda Adulta e afirma que foi um grande privilégio. “Isso é o reconhecimento de muito esforço. Eu não esperava o primeiro lugar, mas me empenhei bastante. O que eu gosto na Ciranda é que ela valoriza todas as prendas pela beleza, conhecimento, ações, e tantos outros aspectos”, comenta.
Já Érica recebeu a faixa de Prenda Mirim da 15ª RT e acredita que isso é muito importante para o seu futuro. “Fiquei muito feliz e me fez pensar em continuar nessa estrada. Quero também convidar mais amigos para fazerem parte do CTG porque o CTG também é uma família para quem participa”, diz.