Têm os motoboys, mas também têm as MOTOGIRLS

Conheça a montenegrina que empreendeu na profissão que ainda é dominada pelos homens

Mãe, esposa, empreendedora, motogirl. Desde o ano passado, a montenegrina Caroline Tasca Fraga, 36 anos de idade, deu uma guinada na vida, deixou seu emprego e foi trabalhar em negócio próprio numa área ainda notadamente dominada pelos homens: as entregas de moto. “Esses dias, eu cheguei na casa de uma cliente e ela ‘ah, mas uma menina fazendo entrega?’. Eu disse: ‘pois é! A gente tem que se adaptar ao mundo de hoje”, lembra Caroline, entre risos.

A própria lei que regulamentou a profissão à qual a empreendedora vem se dedicando, em 2009, traz o termo “motoboy” em sua descrição. A palavra – criada no Brasil, apesar de se apropriar do inglês – é a junção de “moto” com “boy”, termo da língua estrangeira que significa “garoto”, do sexo masculino. Mas as “girls” (garotas) já vem, aos poucos, pegando algumas fatias desse mercado.

“Desde que eu me conheço por gente, sempre foi homem. Mas quando eu comecei a ir pra rua e prestar atenção nisso, eu percebi que já tem muita mulher também fazendo”, aponta Caroline. “São mulheres donas de seus próprios negócios, que entregam para não pagar uma terceira pessoa; ou que estão terceirizando mesmo.” Estudo do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostra que já são mais de 950 mil brasileiros, entre homens e mulheres, que atuam na profissão – quantidade que aumentou em meio a pandemia de coronavírus.

“Eu sempre tive moto e eu vi que as pessoas estavam procurando essa questão da facilidade e da comodidade. Muitas evitam sair de casa, então estava tendo procura por esse serviço. E eu falei: vou meter a cara”, conta a motogirl. Isso foi em novembro. Recém saída de um emprego na área comercial que não estava lhe fazendo bem, Caroline registrou empresa e foi fazendo os primeiros contatos com empresários do comércio local; muitos recém implementando a funcionalidade de tele entrega em suas lojas em função das restrições impostas para conter a pandemia. Era o começo de tudo.

Caroline Tasca Fraga decidiu pela profissão no fim do ano passado; e está cheia de planos pra crecer

Sempre em frente, com os olhos no horizonte
Pouco menos de um mês na nova profissão, Caroline firmou parceria com uma comerciante de Novo Hamburgo, que fazia vendas online de calçados, bolsas e carteiras e tinha que vir a Montenegro entregar às clientes. A montenegrina assumiu o serviço e deu um up em seu negócio. Hoje, além dos demais trabalhos de motogirl, recebe as caixas de mercadoria e faz a distribuição na cidade com sua moto. “Eu já tô organizando um espaço na minha casa para armazenar o que ela traz”, relata.

E apesar da surpresa de um outro cliente ao ver o sexo de sua entregadora, a empreendedora não fala em discriminação nesses primeiros meses de profissão. “Eu acho que não tem mais aquela coisa mistificada de ter que ser novinho, ter que ser homem. Tem espaço pra todos”, pontua. Com experiência profissional anterior como cuidadora de idosos, vendedora e atendente em creche, ela diz-se realizada por poder ter liberdade de horário, estar perto do público e ter um negócio que é só seu. “Sempre é um sonho tu ter uma empresa própria. E eu acho que a gente tem sempre que seguir o coração da gente.”

Pro futuro, a motogirl pensa em expandir para as entregas de produtos alimentícios, adaptando sua motocicleta também ao ramo. E tem outras ideias. O plano é que, em breve, o filho mais velho também possa começar a entregar numa segunda moto, ampliando o alcance da empresa. Mais pra frente – Caroline já começou a pesquisar – ela avalia a possibilidade de ter um carro para buscar mercadorias fora da cidade e, assim, firmar parceria com varejistas e atacadistas maiores, como o Mercado Livre. Essa acelerada no mundo do empreendedorismo tem tudo pra ir longe!

Sobre a profissão – Apesar de ser regulamentada só em 2009 pelo governo federal, a atividade de motoboy (e motogirl) já existia muito antes, pelo menos desde meados da década de 80. Foi quando as entregas de moto se popularizaram, dada a necessidade de transportar objetos com rapidez nos grandes centros urbanos que já sofriam com engarrafamentos no trânsito. Em 2020, com a pandemia de coronavírus e as restrições à circulação de pessoas e abertura de estabelecimentos, a profissão teve nova onda de popularização; e tornou-se a opção de muitos para garantir a renda familiar.

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