A escolha da roupa depende de fatores diversos, como estilo, ocasião, temperatura, condição financeira… E você sabe o impacto ambiental da roupa que decidiu usar? Seja na produção da matéria-prima que dá origem ao tecido ou no processo industrial, o reflexo inclui o uso de agrotóxicos, fertilizantes químicos, uso de energia e água, além de produtos químicos necessários na fabricação de alguns tecidos.
O professor do mestrado em Tecnologia de Materiais e Processos Industriais e do curso de Moda da Feevale, Luiz Carlos Robinson, cita como exemplo o algodão tradicional, que usa em torno de 25% de todo o agrotóxico e fertilizante químico utilizado na agricultura no mundo. “A viscose pode gerar resíduos perigosos quando não processados ou descartados inadequadamente”, acrescenta.
Ele menciona ainda as fibras sintéticas, como o poliéster, a poliamida, o elastano e o acrílico, entre outros, que são derivados do petróleo. O professor observa que, além do impacto na exploração dessa matéria prima, trata-se de um recurso finito, do qual poderá haver problema de disponibilidade no futuro. Em relação aos tecidos feitos com fibras naturais, ele acrescenta que, de forma geral, dependem muito da disponibilidade de água para o cultivo das plantas que dão origem a eles.
Embora não tenha como evitar o impacto da indústria têxtil no meio ambiente há, pelo menos, formas de reduzir esse reflexo. Entre os tecidos com menor efeito, Robinson cita principalmente o algodão e a lã orgânicos, além das fibras recicladas de garrafa PET. Ele menciona também a fibra de bambu artificial, desde que processada adequadamente. Neste caso, com ciclo fechado de produção, no qual a água, os resíduos e os produtos químicos gerados voltam continuamente ao processo. “E por não necessitar de agrotóxicos e fertilizantes químicos no seu cultivo, além do rápido crescimento e das ótimas propriedades de suas fibras quando utilizadas em peças do vestuário”, acrescenta.
A redução do impacto ambiental do setor têxtil passa pela produção da matéria-prima, industrialização e pelo consumidor final. Robinson observa que há diversas iniciativas nesse sentido, que incluem ações como a minimização da geração de resíduos e a escolha de materiais alternativos, bem como da utilização de fibras naturais e de fontes renováveis na produção. Entre outros, ele cita ainda a transformação de roupas usadas em outras peças ou a comercialização em brechós.
Esse comércio tem crescido, principalmente pela viabilidade econômica, pois se mostra como uma opção mais barata para o consumidor. Ao mesmo tempo, requer pouco ou nenhum investimento inicial a quem vende, que pode começar fazendo o desapego do próprio guarda-roupa. Além da viabilidade econômica, no entanto, o reaproveitamento de peças e o consumo consciente favorecem o meio ambiente, aumentando a vida útil de um produto.
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Como está a evolução da indústria de vestuário em relação a medidas para reduzir o impacto ambiental dessa atividade?
– modelagem mais eficiente, com melhores encaixes;
– utilização de materiais alternativos;
– modelagens mais limpas;
– transformação de resíduos em novos produtos;
– implantação de políticas de produção mais limpa, resíduo zero, entre outros;
– qualificação da mão de obra;
– utilização de materiais e processos de menor impacto ambiental
O que o consumidor pode fazer para reduzir o impacto das suas roupas no meio ambiente?
– identificar quem fez a roupa dele e de que forma;
– consumo consciente
– procurar por materiais e produtos de menor impacto ambiental
– compartilhar peças do vestuário
– manter em bom estado a roupa mesmo quando quiser dispensá-la e disponibilizá-la para outros (aumentar a durabilidade)
– não descartar peças inservíveis no meio ambiente
– comercializar em brechós
Fonte: Luiz Carlos Robinson, professor do mestrado em Tecnologia de Materiais e Processos Industrial e do curso de Moda da Feevale
Dicas
– Invista em roupas de qualidade. Elas podem ser mais caras a curto prazo, mas provavelmente durarão mais do que itens baratos e descartáveis.
– Para cada novo item que você comprar, considere doar pelo menos um item mais antigo. Além de ajudar alguém, essa atitude irá abrir espaço no seu guarda-roupas, sem precisar aglomerar roupas que você não precisa mais.
Solidariedade, economia e consumo consciente
Em meio às araras e mesas cobertas por roupas de inverno, a designer Thaís Araújo, 21 anos, escolheu suas peças na lojinha de roupas usadas da Cáritas São João Batista. Com apenas R$ 50,00, ela comprou cinco casacos que vão mantê-la aquecida durante o inverno. Foi sua primeira compra no local, mas ela afirma que está habituada a procurar roupas em brechós. Esse hábito leva em conta a economia e o aspecto ambiental.
Thaís observa que, no comércio convencional, não compraria uma das cinco peças que adquiriu com o valor gasto na Cáritas. Os artigos vendidos no local têm boas condições de conservação, possibilitando o uso por um bom tempo. A designer afirma que evita o consumismo desenfreado e procura comprar o que realmente necessita. Ela observa que o consumo consciente contribui para a preservação do meio ambiente, tendo em vista o impacto gerado com a produção da matéria-prima e a industrialização dos tecidos. Aumentar a vida útil de um produto é uma forma de contribuir com a preservação de recursos naturais.
A dona de casa Adriana Vanessa Garcia, 38 anos, é frequentadora assídua da lojinha da Cáritas. Ela aproveita a qualidade e os preços acessíveis dos artigos para vestir toda a família. “Sempre compro aqui”, afirma. Entre outros produtos, ela já adquiriu calças, blusas, toalhas de banho e de mesa. “O preço é bom, a qualidade e o atendimento também”, elogia.
Além da economia e da colaboração com o meio ambiente, a compra na “lojinha da Cáritas” é um gesto de solidariedade. Todo o valor das vendas é utilizado na compra de alimentos para os cadastrados na entidade. Conforme a voluntária Marlene Reidel, são 40 famílias beneficiadas, das quais 20 são mães que frequentam as oficinas de trabalhos manuais, e há 20 idosos. A compra no brechó da Cárias pode ser realizada nas tardes de terça e quinta-feira.