A previsão de que haveria nova seca assolando o Rio Grande do Sul, a segunda no período de um ano, assustou, sobretudo, agricultores. A verdade é que as mudanças climáticas deixarão este fantasma rondando constantemente a civilização; e reverter as consequências da intervenção humana levará tempo (e ainda precisa começar). Então, de imediato, são necessárias algumas soluções práticas para estocagem de água. Mas em longo prazo, essas transformações no sistema de trabalho devem ser mais profundas, inclusive nos sistemas de manejo das lavouras.
O engenheiro agrônomo da Ecocitrus, Daniel Büttenbender, defende a adoção de sistema de cultivo capaz de mitigar os efeitos das estiagens. O Verão 2021 – que iniciou segunda-feira – está sob efeito do fenômeno La Ninã (aquecimento espetacular das águas dos oceanos), o que nunca é tranquilizador, ainda que novos prognósticos meteorológicos afastam a hipótese de escassez hídrica.
E em relação à situação atual, o profissional alerta que é errado se despreocupar depois de passado o momento mais severo de 2021, vendo as plantações novamente verdes. Este esplendor cria uma “falsa sensação de segurança”, pois, após longos dias sem chuva, as precipitações do Inverno foram insuficientes para repor o lençol freático.
Büttenbender afirma que a pobreza da reserva subterrânea pode ser confirmada nas nascentes de rios e no nível de açudes. “A terra não tem muita água para oferecer. Ela está seca, apesar de ainda estar tudo verde por cima”, descreve.
Capim é um protetor da terra
Uma melhora imediata está nas mãos dos agricultores, que podem começar adotando formas de manejo menos agressivas e mais ecológicas. A principal diz respeito à manutenção da cobertura do solo. Já vão longe os dias de aplicação do método da terra limpa trazido pelos bisavôs. Não é preciso capinar toda a semana, tirando a menor muda de capim.
A terra pelada não segura água, pois está exposta ao sol e ao vento. Inclusive o vento é ainda mais nefasto do que o calor para arrancar umidade das plantas, o que pede a adoção de “quebra-ventos” naturais as margens da plantação. E aquele mato que cresceu e foi arrancado, ou roçado, pode ser deixado para virar palha, pois é uma ótima esponja natural e excelente protetor solar.
Poço artesiano vira problema no futuro
Abertura de açudes ainda é a grande solução para as propriedades rurais, especialmente para armazenar água da chuva. Por outro lado, Büttenbender não recomenda a perfuração de poços artesianos, ainda mais se for a única fonte de irrigação. Ele representa uma solução agora e um problema para o futuro. Isso por que também “bebe” do lençol freático, e esta água extraída precisa ser reposta por chuvas.
“Água não se forma do nada”. E depois de esgotar o nível de captação, ou seca e é abandonado ou traz mais custo ao proprietário que precisa aumentar sua profundidade. Outra hipótese é puxar do Rio Caí, ou de riachos, o que, alerta o agrônomo, implica em questões de lei. Isso porque, se todos apostarem nesta solução, logo os cursos d’água também serão saturados.
Plantação deve seguir as curvas de nível
A experiência de Büttenbender no Vale do Caí permite trazer outro ensinamento. Com propriedades de característica estreita e comprida, os pomares acabam sendo plantados em linhas que seguem a geografia do declive. E a passagem constante com o trator seguindo está direção solidifica sulcos que escorrem, rapidamente, a água para o ponto mais baixo. A orientação é plantar nas curvas de nível, atravessando o aclive, para que, ao invés de canais de drenagem, o trator abra barragens de contenção.
Dica natural
Incorpore composto orgânico na plantação, em substituição ao adubo químico. Ele é capaz de reter até 20 vezes seu peso em água sobre o solo. Além de sua decomposição enriquecer sobremaneira o solo ao criar Húmus.
Você sabia?
Esta mania de carpir constantemente a lavoura, sob argumento que capim é sinônimo de relaxamento, ou que tira força do crescimento da plantação, foi trazida pelos imigrantes. A explicação é bem simples e tem relação com o clima de frio extremo das terras que haviam deixado. Isso porque na Europa realmente é necessário deixar o solo descoberto, pois a palha impede que descongele, tornando impossível capinar e semear, mesmo após o Inverno. Isso também explica o ato de lavrar, que é para deixar a terra porosa.
Em casa
Ao cortar a grama, ou podar plantas ornamentais e frutíferas, não jogue no lixo doméstico. A grama cortada, inclusive, pode ser deixada no jardim como retentor de umidade. Outra opção é usá-los como matéria orgânica para adubar e reter água na hortinha do quintal. Em casa também é possível coletar água da chuva para ser usada na irrigação.