Pajador: a arte de expressar a história em versos

JAYME CAETANO BRAUN segue inspirando gaúchos de diversas regiões do Estado

Durante os festejos da Semana Farroupilha de 2024, o Rio Grande do Sul presta uma homenagem especial a Jayme Caetano Braun, celebrando o centenário de nascimento do artista que imortalizou a figura do pajador. Reconhecido como um dos maiores expoentes da cultura gaúcha, Jayme, nascido em 30 de janeiro de 1924, em São Luiz Gonzaga, deixou um legado de versos e músicas que exaltam a vida campeira, as tradições e a natureza da Região Missioneira. Em 2024, a Secretaria de Cultura (Sedac) propôs o decreto que dedica o ano a honrar sua memória, destacando sua importância para a cultura do Estado.

Braun iniciou sua carreira como pajador em 1954, durante o 1º Congresso Tradicionalista Gaúcho, e ao longo das décadas seguintes consolidou-se como “O Payador dos Payadores”, com sua poesia improvisada, acompanhada por violão. Seu nome é sinônimo de uma tradição que sobrevive graças a gaúchos de várias partes do Rio Grande, que, assim como Edson Müller, 37 anos, de Pareci Novo, são apaixonados por essa arte.

Inspirado por Jayme Caetano Braun, Edson construiu sua trajetória como pajador no CTG Charla Galponeira. Mas essa paixão não foi à primeira vista, prova de que sempre é tempo para viver novas experiências.

Edosn começou sua caminhada aos 20 anos, movido pela paixão pela dança e pela vontade de fazer parte das tradições que admirava desde criança. “Via os grupos do Charla se apresentando e tinha vontade de dançar, mas também receio. Só entrei quando comecei a namorar minha esposa, Renata, que já fazia parte do CTG”, conta Edson.

Além de dançar, ele se aventurou na declamação, inicialmente para cumprir requisitos no ENART (Encontro de Arte e Tradição Gaúcha). O que começou como uma necessidade acabou se transformando em uma verdadeira paixão, levando Edson a se dedicar ao estudo e à prática da declamação. A influência de Jayme Caetano Braun foi constante nesse processo. “Embora não tenha conhecido pessoalmente, tenho como grande mentor o Jayme Caetano. Ele me ajudou muito com sua maneira de interpretar”, afirma Edson.

Mesmo afastado das competições, Edson mostra que ainda está “afinado”

Para Edson, a arte de declamar não é apenas recitar versos, mas sim saber transmitir o que cada poema carrega em suas palavras. Mesmo afastado do CTG atualmente, ele mantém o desejo de um dia retornar, inspirado pelo legado de Braun e, quem sabe, incentivado por seu filho Mateus, de dois anos, a quem espera apresentar o universo do tradicionalismo.

A celebração do centenário de Jayme Caetano Braun na Semana Farroupilha de 2024 não apenas relembra o grande pajador, mas reconhece a importância de todos aqueles que, como Edson, perpetuam a cultura gaúcha através da palavra e da tradição.

Concentração e interpretação
O processo de preparação de Edson sempre envolveu um nível profundo de concentração. “Geralmente eu decorava as poesias na madrugada, sob o silêncio absoluto. Buscava uma paz de espírito para conseguir me concentrar”, conta. Para ele, a chave da declamação está em viver a história que está sendo contada. “Na declamação, a gente transmite algo que foi escrito por outras pessoas, tentando passar da maneira mais fidedigna, como se tivesse vivido aquela situação.”

Hoje, Edson está um pouco afastado do CTG, dedicando-se à paternidade e à reconstrução de sua vida após as enchentes que afetaram sua cidade. No entanto, ele acredita que o futuro o trará de volta ao universo do tradicionalismo. “Meu filho Mateus poderá me trazer de volta para o CTG. Se ele quiser, terá o apoio do pai e da mãe”, conclui.

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