História e cultura têm seu endereço na Osvaldo Aranha

A beleza arquitetônica em meio a um amplo espaço verde, somada a sua história, fazem da Estação da Cultura uma referência em Montenegro. Prédio antigo, mas recuperado graças à mobilização comunitária e à parceria entre poder público e privado, a edificação chama a atenção de quem passa pela rua Osvaldo Aranha.

Museu histórico, através de suas exposições, permite à população conhecer hábitos e costumes do passado da cidade

O nome dado ao complexo não poderia ser melhor, pois remete aos tempos em que os trens tinham vida e carregavam a economia de Montenegro, com o papel exercido após a recuperação. O espaço reúne o Museu de Arte de Montenegro no seu prédio principal, com salas de exposições no térreo e piso superior, bem como local para reuniões, palestras, ensaios e apresentações nos outros dois prédios. Um abrigava antigamente o telégrafo e o controle de tráfego, enquanto no outro funcionava o restaurante da estação férrea.

O diretor de Patrimônio Histórico e Cultural do município, Marcelo Mello, observa que o complexo cultural é muito bem aproveitado pela comunidade. Ele lembra que, além dos eventos públicos ou segmentados, o local é um convite a uma tarde de lazer para tomar chimarrão e conversar com os amigos, por exemplo. O complexo cultural segue do outro lado da rua. Atravessando a Osvaldo Aranha, há outros prédios que também foram recuperados e passaram a ter novo uso. Um abriga o Museu Histórico Nice Antonieta Schüler e, o outro, o Arquivo Histórico e Geográfico Maria Eunice Müller Kautzmann.

Para ocupar o espaço
Interessados em realizar algum evento na Estação da Cultura devem solicitar via protocolo junto ao Palácio Rio Branco, sede da Prefeitura. É preciso detalhar as características e necessidades do evento para avaliação. É cobrada uma taxa que varia entre R$ 30,00 e R$ 100,00 por hora, mas também há alternativa de compensação do uso do espaço com algum serviço ou material. Exemplo: espaço para treinamento de funcionários de uma empresa que, em troca, garantirá a limpeza do telhado.

Maria da Glória Esswein mostra o caderno de atos do governador do Estado em 1898, que integra o acervo do arquivo

Documentos e imagens guardadas
Ao lado do museu histórico está o Arquivo Histórico e Geográfico Maria Eunice Müller Kautzmann, onde funcionava a farmácia dos ferroviários. Milhares de documentos e imagens foram digitalizados, garantindo a preservação de registros históricos de Montenegro. “Temos documento de metade do século XIX e de todo o XX”, afirma a responsável pelo atendimento no órgão, Maria da Glória Esswein.

A sala de entrada é decorada com móveis e objetos pessoais da patrona, na sequência há o espaço administrativo, seguindo para uma pequena sala de exposição e a mapoteca. O caminho segue para uma grande sala, onde vários estandes guardam os originais de milhares de registro e documentos que foram digitalizados, muitos deles repassados pelo Cartório Eleitoral.

Lisiane mostra o frisador, um “antepassado” da chapinha

Viagem no tempo através do museu
O complexo cultural inclui o Museu Histórico Nice Antonieta Schüler, onde funcionava a Cooperativa dos Ferroviários. Localizado em frente ao Museu de Artes de Montenegro, o espaço possibilita uma viagem no tempo, com acervo aproximado de 4 mil objetos cadastrados.

Na forma como são dispostos, alguns reproduzem ambientes antigos, como cozinha, quarto, sala de aula. Datas comemorativas também motivam exposições. Neste mês em que se comemorou o Dia Internacional da Mulher, alguns objetos chamam a atenção, mostrando um pouco de como elas cuidavam da beleza antigamente. A historiadora Lisiane Lopes mostra um modelador de bouclês, com data de 1942, para frisar o cabelo. De ferro, ele era colocado quente no cabelo e pode ser visto como o “antepassado” da chapinha e de escovas modeladoras.

Parte do piso ainda é original, há um banco e um cabide com boinas da época da Estação Ferroviária. Atualmente há uma exposição alusiva ao Carnaval com fotos antigas e fantasias, além de som ambiental com músicas carnavalescas

Nos trilhos da história
– A ferrovia chega a Montenegro e, no dia 2 de julho de 1909, são inaugurados o prédio central, armazéns e oficinas da Estação Ferroviária. Na década de 60, a Estação foi desativada, mas os trens passaram até o final da década de 70.

– A preocupação com invasões e a depredação do prédio, referência da história da cidade, mobilizou um grupo de cidadãos, pois era preciso dar destino adequado à edificação. No seu trabalho de conclusão do curso universitário, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o arquiteto Pedro Ernesto Bühler projeta a restauração do prédio. O projeto é lançado em 1980, mas era preciso dinheiro e interesse público para que saísse do papel.

– Com a mobilização, nasce o Movimento de Preservação do Patrimônio Histórico de Montenegro (MPPHM), em 1981. Dois anos mais tarde, ocorre tombamento histórico da antiga Estação Ferroviária, em 1983, pelo Governo Estadual. Em 1986, o complexo ferroviário foi entregue ao MPPHM em sistema de comodato. Em 1999, o Conselho Estadual de Cultura aprovou o projeto Estação da Cultura para ser beneficiado pela Lei de Incentivo à Cultura (LIC). Em 2003, há um incêndio no prédio onde funcionava o telégrafo e o controle de tráfego.

– Em janeiro de 2004, representantes da então Copesul visitam o complexo e, em novembro, a Efica anuncia que a restauração do prédio principal, onde hoje funciona o Museu de Artes de Montenegro, será patrocinada por essa companhia (mais tarde foi incorporada pela Braskem). As obras iniciaram em junho do ano seguinte. A inauguração ocorreu no dia 1º de dezembro de 2006.

– O passo seguinte foi a recuperação do segundo prédio do complexo, onde havia ocorrido o incêndio. O prédio foi restaurado e entregue à comunidade em março de 2009, com patrocínio da Braskem. Com várias salas, é usado principalmente para reuniões e palestras.

– A terceira etapa foi inaugurada em agosto do ano passado, com a recuperação do espaço onde antigamente funcionava o restaurante da estação ferroviária. Reconstruída, a sala ampla leva o nome de Espaço Cultural Braskem.

 

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