Dia da Mulher: data para comemorar as conquistas, mas seguir na luta

mulheres reforçam a importância do feminino em diversos espaços de poder

Nessa quarta-feira, 6, a Rádio Ibiá Web realizou uma live especial do Dia da Mulher. Durante a “Conversa de Mulher”, a diretora do Jornal Ibiá, Maria Luiza Szulczewski, a Lica, bateu um papo informal com Elisabete Griebeler, Executiva de Finanças, Controladoria e Gestão Estratégica em empresas de grande porte e operações LATAM; Cleusa Tânia de Oliveira Spinato, Delegada de Polícia há 24 anos e responsável pela Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher de Montenegro; e Danielle Araujo, bacharel em Direito, integrante da Cufa Montenegro e presidente do Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Mulher (Comdim).

Lica afirma que no mundo inteiro, as mulheres enfrentam obstáculos únicos, desde o acesso igualitário à oportunidades de emprego até a luta contra a violência. Para aquelas que residem nas periferias, esses desafios muitas vezes são agravados pela falta de recurso, discriminação e barreiras estruturais. Em live, as grandes mulheres destacaram a importância da presença feminina em diversos setores de atuação.

Promoção de igualdade dentro das periferias
Danielle Araújo afirma que o trabalho para a promoção de igualdade dentro das periferias é assunto muito complexo. Isso porque, segundo ela, quando se trata de mulheres periféricas, em sua grande maioria, são negras. Sendo assim, além de sofrerem racismo, vão sofrer ainda com machismo e o preconceito social. “Para, de alguma forma, tentarmos igualitar estas mulheres, temos que perder primeiramente nosso preconceito social.

Quando falamos de pessoas periféricas estamos falando muitas vezes de pessoas que não têm um estudo, um ensino médio completo ou até mesmo fundamental. São pessoas que muitas vezes tiveram que fazer uma escolha, ou estudava, ou colocava arroz e feijão na mesa”, explica. Assim, Danielle define que é preciso dar oportunidades para estas pessoas, mas também uma qualificação profissional.

Dificuldades no mercado de trabalho

Danielle reforça a importância da presença feminina nos espaços de poder

Elisabete Griebeler relembra que como atua em uma área majoritariamente masculina, passou por vários momentos de preconceito por ser mulher. Para ela, é nos detalhes que muitas vezes se acaba percebendo este tipo de atitude preconceituosa. “Muitas vezes eu não me dei conta, mas quando eu amadureci a questão do feminino, eu identifiquei pequenas coisas que são sutis, mas que vão formando este preconceito. A gente, como mulher, também tem que se posicionar, escutar e entender um pouquinho destas questões de carreira que enfrentamos”, destaca. Mesmo assim, ela relembra que há bons exemplos pelo caminho. “Tem homens que ainda têm muito a aprender, mas tem homens que já estão nos ajudando e entendem que a gente não é nenhum inimigo e sim parceira deles”.

Cleusa Spinato ressalta que a área de segurança, onde atua, também é essencialmente masculina e relembra seu início de carreira. “Os servidores estranhavam, diziam que não queriam trabalhar comigo, com delegada mulher. Eu falava ‘querido, pede para sair’. Falavam que chegamos para fazer perfumaria na polícia”, relembra. Ela pontua que as mulheres chegaram para ficar, estão assumindo seus espaços e isso é extremamente importante. “Muitas vezes, na área policial, a sensibilidade feminina é muito importante. Muda a visão de trabalho. Na área do atendimento à mulher é imprescindível porque elas se sentem mais à vontade para serem atendidas por uma policial mulher”, afirma. Hoje, segundo a delegada, a polícia civil do Rio Grande do Sul é a que tem maior atuação feminina do Brasil.

Danielle, por sua vez, confirma que na área de Direito, a presença masculina também é muito forte, o que tem mudado gradativamente. Ela conta que em sua última turma da faculdade, a maioria dos formandos eram mulheres. “Estamos tomando posse de algo que sempre tivemos direito e sempre nos foi excluído. É muito importante estarmos nestes ambientes”, diz. Para ela, o olhar da mulher é mais “humano”. “Temos um olhar diferente, mais acolhedor, por exemplo na questão de violência doméstica, porque nos colocamos no lugar daquela mulher. Daí vem a necessidade da gente ocupar estes lugares e não só na delegacia, como no Ministério Público, no judiciário. É muito necessário que as portas se abram e que a gente ocupe estes lugares de poder”, acrescenta.

Dependência no relacionamento amoroso

Elisabete atenta para a dependência financeira

Elisabete pontua que a falta de preparação dos jovens em relação à independência financeira faz com que as mulheres fiquem extremamente dependentes. “Fazem questão que a mulher fique realmente dependente, pedindo para ela não estudar, ficar em casa, cuidar do lar. Eu vi muitas mulheres não entendendo nada de dinheiro, sem a mínima preparação. Por isso, muitas vezes ficam presas à renda da pessoa que está ao lado dela”, salienta. Por isso, ela reitera a importância do papel das famílias e das escolas na preparação dos jovens na questão financeira.

Danielle afirma que para prevenir este tipo de situação, não apenas o Condim atua, mas a rede em conjunto. Ela conta que a maioria das mulheres periféricas tem de 3 a 5 filhos, o que se torna um ponto de atenção. “Como eu vou sair de casa com os filhos se eu não tenho de onde tirar dinheiro?”, indaga. O trabalho da rede vai desde o alerta às mulheres de quais são os tipos de violência e aconselhamento de onde buscar ajuda. Ela atua diretamente dentro das comunidades com a realização de rodas de conversa justamente levando este conteúdo para as mulheres, afirmando que existe uma nova perspectiva de vida e que nunca é tarde para terminar uma relação abusiva e buscar pela independência financeira.

Diferença salarial

Cleusa destaca o medo de mulheres reconhecerem seu valor profissional

Não é novidade que em diversas empresas, mulheres ainda recebem menos do que os homens mesmo atuando na mesma função. Elisabete destaca que para pôr o fim nesta situação, a iniciativa deve ser principalmente das empresas. “Neste sentido eu não acredito em hipótese alguma que a lei vá funcionar se não houver uma conscientização da população e dos empresários de que a gente tem que ganhar igual caso as competências sejam iguais”, avalia. Ela conta que por algum tempo sofreu na pele com essa disparidade de salário. “As mulheres têm medo de pedir o que é delas e os homens não. É preciso se valorizar”, acrescenta.

Cleusa reitera que a mulher tem a mesma função, às vezes tem até mais capacidade que o homem, mas fica amedrontada de reconhecer o seu valor com medo de perder o emprego, por exemplo. Ela ainda analisa que a mulher ainda passa pela problemática de ser vetada do trabalho pela questão da possível gestação e afastamento ou até mesmo por já ter filhos.

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