Casa na beira do rio é possivelmente a mais antiga de Montenegro

No local funcionou a venda da família Schilling, onde foi o ponto de encontro da cidade por muitos anos

Você sabe qual a é a casa mais antiga de Montenegro? A resposta foi dada pelo historiador Eduardo Kauer, que aponta que uma residência localizada na esquina da rua Dr. Flores com a rua do Comércio, próximo à beira do Rio Caí, possivelmente é a mais antiga ainda preservada na cidade.

A casa é rodeada de histórias e tem uma importância enorme para o município. Estima-se que a residência ficou pronta em 1861, quando passou a funcionar ali a venda de Jacob Schilling, um imigrante alemão que chegou ao Brasil no ano de 1829. Schilling trabalhou como marceneiro, comerciante e foi pioneiro da navegação no rio Caí.

Segundo Kauer, nessa época a vila de Montenegro era uma freguesia e havia poucas pessoas que moravam na região, dentre essas cerca de nove famílias evangélicas luteranas. Foi na venda de seu Jacob Schilling que se iniciaram os cultos evangélicos em Montenegro. O local tornou-se o ponto de encontro para a realização dos cultos e foi onde, em 1864, reuniram-se 18 famílias evangélicas e decidiram criar uma comunidade filiada à Paróquia de Hamburgo Velho, que posteriormente se transformou no que é hoje a Comunidade Luterana de Montenegro.

O venda da família Schilling era o ponto de encontro da cidade, as pessoas iam comprar e vender produtos, buscar cartas que vinham de Porto Alegre e havia até um professor que dava aulas no local. “Os pais iam lá e pagavam o professor para o filho aprender a ler, escrever, somar, subtrair, multiplicar e dividir. O professor era o comerciante Philip Keller, que tinha uma tecelagem na Ramiro, então esse era um serviço paralelo que ele prestava para a comunidade”, conta Eduardo Kauer.
Também era no local que acontecia a venda de passagens de barco para ir até Porto Alegre. “O Jacob Schilling tinha um barco a vapor, que era o meio de transporte mais moderno que havia em 1861, e foi um dos pioneiros do transporte a vapor no Vale do Caí. Então se tu querias comprar uma passagem pra Porto Alegre era ali na venda do Jacob”, afirma Kauer.

Estima-se que a venda da família Schilling funcionou por cerca de 30 anos. Jacob Schilling faleceu no ano de 1870, mas a o comércio e a empresa de navegação continuaram sendo administradas pela sua esposa, Maria Luiza Shilling, e pelos filhos até o ano de 1890. Após esse período o local foi comprado pela família Schuler.

Reforma da casa ajudou a entender a história do local
Atual proprietário da casa, o engenheiro eletricista Edson Shuller conta que a residência pertencia a seu avô, Livino Otelmo Schuler. “Ela foi cedida por ele a meu pai, Nilo Celestino Schuler, quando casou e voltou a viver em Montenegro. Então nasci e vivi até os 6 anos de idade nessa casa, depois nos mudamos para a rua Assis Brasil, perto do Colégio São José, onde minha mãe era professora”, afirma.

Schuler conta que após o falecimento do avô, a casa passou a ser de propriedade definitiva de seu pai. Mas em 1986, com todos os filhos fora, ele a vendeu.  “A casa foi sendo revendida e cada vez mais deteriorada por ser muito grande, de construção antiga e em uma região onde há enchentes”, relata. Em 2008, Schuler comprou a casa novamente, ele conta que no local funcionava uma pensão simples e também um bar. Foi durante uma reforma da casa que o engenheiro passou a observar os detalhes da construção e resolveu fazer uma reconstituição de como seria a construção original.

Reconstituição de Edson Schuler de como seria a venda de Jacob Schilling

Segundo o engenheiro eletricista, a primeira construção no local foi a casa, localizada na rua do Comércio. “Esta construção tem paredes externas de 30cm, com uma argamassa que não usava cimento e o interior era dividido em três peças. Havia também um poço de água a uns metros do prédio, para oeste, que foi fechado quando meu pai se mudou de volta em 1972. O piso se ergue a 80 cm sobre o nível da rua e o pé-direito é alto, cerca de 4 metros, com as portas de 2,70 metros de altura”, relata Schuler.

Na parte da frente da casa, localizada na rua Dr. Flores, o engenheiro eletricista constatou que funcionava o depósito das mercadorias, que inicialmente seria um grande galpão. “Com a prosperidade resultante do seu trabalho e a movimentação crescente do lugar, em algum momento foram construídos muros até a altura do piso do armazém com pedras de alicerce de 50cm de espessura. Em uma ocasião posterior, completou-se o fechamento da área com paredes da mesma espessura”, conta Schuler.

O engenheiro acredita que a adaptação do prédio em residência foi feita pelo seu avô para disponibilizar a casa ao seu pai quando se casou. Outra alteração constatada foi o levantamento do assoalho da casa em mais 60 cm após a enchente de 1941. “Isso verifiquei ao substituir o assoalho, porque os marcos das portas desciam muito abaixo, até o nível anterior. Dentro da caixa do contador de luz original havia também uma marca e uma nota com a letra de meu avô que dizia: 15cm acima da enchente de 41”.

As informações e desenhos de reconstituição da antiga casa onde funcionava a venda da família Shilling foram repassados por Edson Schuler para auxiliar na pesquisa do historiador Eduardo Kauer. Atualmente o prédio ainda pertence a Schuler e é usado como residência quando ele está em Montenegro.

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