Alceu Scherer, aos 81 anos, é um exemplo de dedicação e perseverança no campo. Morador de Linha Pinheiro Machado, em Brochier, ele compartilhou sua história de vida e trabalho na agricultura familiar, destacando as dificuldades enfrentadas e as conquistas alcançadas ao longo dos anos.
Desde criança, Alceu foi introduzido ao trabalho na roça. “Antigamente não era como hoje, que tem lei que não pode criança trabalhar. Eu trabalhava com muito prazer, porque a gente via os pais fazerem e gostava de ajudar também. Ajudava a dar água para os porcos, limpar a estrebaria, isso com sete, oito anos”, relembra.
Nascido na localidade de Nova Holanda, Alceu se mudou para Linha Pinheiro Machado após se casar com dona Neusa. “A gente casou e, no início, moramos com o sogro, que nos deu logo metade da terra para trabalhar. Eles nos ajudaram bastante, e aí a gente foi crescendo. Tivemos muitas batalhas na nossa vida, mas não perdemos a guerra”, conta.
Em 2011, Alceu sofreu um grave acidente com o trator enquanto trabalhava. “Perdi a perna devido a complicações após o acidente. Fiz seis cirurgias em um ano e pouco, mas tive que amputar. Sempre tive esperança e era positivo, muitos falavam que eu não conseguiria voltar para a roça, mas eu mostrei que era possível”, comenta.
Em 2015,ele conta que conseguiu se adaptar à prótese e voltou a trabalhar normalmente na agricultura até o início da pandemia, quando foi infectado pela Covid-19, e não consegui mais trabalhar. A vida de Alceu também foi marcada por uma tragédia familiar. Ele perdeu seu filho de 11 anos em um afogamento, mas encontrou forças na família. “Depois, tivemos uma filha que nasceu no mesmo dia em que fez um ano do falecimento do nosso filho. Foi uma prova de que Deus tira, mas devolve”, diz.
Comemorando 60 anos de casamento, Alceu reconhece a importância do apoio da esposa, que sempre esteve ao seu lado. “Ela me ajudou muito, sempre ao meu lado, e nunca vou conseguir devolver tudo o que ela fez por mim”, destaca. Apesar das dificuldades, Alceu e Neusa sempre se dedicaram à agricultura. “Conseguimos comprar nosso primeiro trator, depois fomos trocando por tratores melhores. No começo, plantávamos milho e engordávamos porcos. Com o dinheiro da agricultura, pagamos a faculdade da nossa filha, porque notamos que o estudo é o maior patrimônio que podemos dar para uma criança”, declara.
Nos seus 81 anos, Alceu viu os primeiros carros zero quilômetro chegarem aos agricultores, graças aos lucros da venda de suínos. No entanto, ele lamenta as dificuldades enfrentadas recentemente. “Há quatro ou cinco anos, tivemos uma seca feia, e nos últimos anos foram quatro frustrações seguidas. Investimos em maquinário e implementos agrícolas, mas, com essas perdas, não sabemos se conseguiremos continuar plantando. Isso enfraqueceu todo mundo”, declara.
Alceu ressalta a necessidade de apoio para os pequenos agricultores. “Deveriam entender que sozinhos não somos ninguém. Deveriam pensar mais no agricultor familiar, que produz a maior parte dos alimentos que vai para a mesa das pessoas. Os grandes produtores estão preocupados em exportar, mas quem abastece o mercado nacional com hortaliças, verduras e frutas são os pequenos. Fazemos a nossa parte para contribuir”, conclui. Para ele, o Dia do Colono é uma data importante para lembrar principalmente da resiliência e o papel fundamental dos pequenos agricultores na sustentação da agricultura familiar e no abastecimento alimentar do país.