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Programa monitora qualidade dos hortifrutigranjeiros

Supermercados em busca de alimentos mais saudáveis ganham nova ferramenta para qualificar oferta aos consumidores

Com a carne, o leite e tantos outros produtos já é assim: você olha a embalagem e verifica a procedência daquilo que está comprando. Frutas, verduras e legumes seguem a mesma tendência e, cada vez mais, o consumidor verifica a procedência do item que vai colocar em cima da mesa para alimentar a família. É por isso que a Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) se uniu à Associação Brasileira de Supermercados (Abras) e, na última semana de outubro, lançou oficialmente no Rio Grande do Sul o Programa de Rastreabilidade e Monitoramento de Alimentos (Rama), que busca itens mais seguros e saudáveis, o que inclui o controle e a redução dos resíduos de agrotóxicos presentes em frutas, legumes e verduras vendidas nas prateleiras.

ANTÔNIO Cesa Longo, presidente da Associação Gaúcha de Supermercados

O presidente da Agas, Antônio Cesa Longo, conta que o Rama faz parte de um conjunto de ações da entidade para elevar o nível de qualidade dos hortifrutigranjeiros. “A qualificação precisa ser de ponta a ponta, desde a produção, passando pelos canais distribuidores e chegando ao ponto de venda. Há dois anos, a Agas proporciona encontros com entidades representativas da cadeia em busca de soluções para qualificar os produtos consumidos pelos gaúchos”, disse.

Na prática, o programa faz com que os supermercados adquiram frutas, legumes e verduras com procedência conhecida, ou seja, vende ao consumidor final itens que se sabe de onde vêm e como foram produzidos. Além disso, a iniciativa prevê a coleta de amostras em supermercados e o envio a laboratórios credenciados para serem analisadas.
Com esse sistema de controle, se o alimento apresentar algum problema, é possível identificar até mesmo o responsável técnico pela prescrição do agrotóxico utilizado na plantação. No RS, apenas as redes Zaffari e Carrefour aderiram ao Rama, até porque a adesão é voluntária. A expectativa, porém, é que outros 50 supermercados passem a fazer parte em um prazo de até 30 dias, conforme Longo. Em Montenegro, segundo a Agas, nenhum estabelecimento comercial entrou no programa até o momento. “Algumas empresas já vinham atuando com iniciativas isoladas nesse sentido, mas agora poderemos estender a toda cadeia”, afirma Longo. Com isso, o custo cai e então pequenos e médios estabelecimentos podem contratar a rastreabilidade.

Comercialização de frutas, legumes e hortaliças passará a ser mais segura após implantação do rastreio, diz a Agas

O Rama monitorou o passo a passo de 618 mil toneladas de frutas, legumes e verduras no primeiro semestre de 2017 — crescimento de 12% em relação ao mesmo período de 2016. No ano passado, o total rastreado chegou a 1,2 milhão de toneladas. O superintendente da Abras e coordenador do programa, Marcio Milan, afirma que o objetivo é fechar o ano com um incremento de 6,5% nesse resultado. “A rastreabilidade e o monitoramento são tendências no mercado global de alimentos. De forma crescente e evolutiva, supermercadistas, fornecedores e produtores vêm percebendo a necessidade e a importância do programa, que é referência como ferramenta no apoio ao controle de defensivos agrícolas”, destaca Milan.

Rastreabilidade ajuda a valorizar o produto
Produtor de hortaliças, Valdecir Zanovello começou há três anos o processo para fazer com que a atividade na sua propriedade, em Pesqueiro, interior de Montenegro, possa ser rastreada. A exigência veio da rede de supermercados Walmart, da qual é fornecedor. “Eles foram preparando os produtores, deram tempo para se adequarem e este ano começaram a colocar em prática”, explica.

Valdecir mantém caderno onde são anotados todos os procedimentos realizados nas plantas e apoia as exigências

Conforme o agricultor, o comprador valoriza a produção que pode ser rastreada e, por isso, paga mais por ela. “Mas o agricultor tem o compromisso de oferecer um produto dentro do padrão”, reforça.

Trabalhando com alface, couve, salsa, cebolinho e rúcula, Zanovello diz que a rastreabilidade do alimento traz segurança para o consumidor. “O trabalho é mais difícil, mas concordo com as exigências”, afirma. Além de ter que preencher um questionário com cerca de 100 questões sobre itens como higiene, manuseio, análise da água usada na lavagem das verduras, análise fitopatológica e de defensores químicos, o agricultor também precisa manter um caderno de campo para anotar informações como a data do plantio, os produtos aplicados nas plantas, sua dosagem e o nome, e a data da colheita. Esses dados são posteriormente repassados ao comprador. “Se precisar, se der algum problema, está anotado o que foi feito”, destaca, ressaltando os aspectos positivos dessa prática.

com o nível de exigência dos consumidores aumentando, a rastreabilidade passará a ser, em breve, também um importante fator competitivo no mercado do RS

Procedimento já faz parte da cultura dos produtos orgânicos

Geleias possuem certificado orgânico, o que já engloba rastreabilidade, diz Mariane

Localizada na comunidade de Coqueiral, interior de Pareci Novo, a agroindústria Sítio das Acácias aposta na produção de geleias orgânicas e também na venda de alguns frutos in natura. Trabalhando com seis funcionários, o empreendimento é certificado pela Ecocert, o que garante a rastreabilidade de seus produtos. “Com os orgânicos, a rastreabilidade é essencial. O mercado está crescendo e o consumidor precisa ter garantia que o produto é orgânico”, destaca a administradora da agroindústria, Mariane Rigatti Hartmann.

Na visão dela, esse sistema garante todo o processo produtivo e também serve como controle de qualidade para o próprio produtor. “Se tiver problema com o produto, tu sabe de onde veio. Isso traz qualidade e confiabilidade”, observa. A empreendedora destaca ainda a importância que tem o selo de certificação de orgânico. “É a garantia de que é a gente quem produz e que não compramos de terceiros”, explica a administradora.

Agroindústria produz as frutas que acabam virando geleia

Jogando com a quantidade de geleia a ser produzida conforme a demanda, o produto da agroindústria pareciense é vendido em diversas cidades do Vale do Caí e também em Porto Alegre. A ideia é, através de um programa do Sebrae, ganhar mercado também em São Paulo. Outro projeto é abrir as portas do empreendimento para visitas, tendo em vista que clientes já entraram em contato com esse objetivo. “O público do orgânico quer contato com a produção. As pessoas têm interesse e é baseado nisso que queremos abrir a propriedade”, comenta Mariane.

“É um caminho sem volta”, afirma distribuidor de frutas
Sócio-diretor da Distribuidora de Frutas Vale do Caí, Fabiano Van Grol, 41 anos, afirma que o Rama vem para melhorar a vida dos produtores de frutas, ou seja, a repercussão na região será importante. “O principal benefício é que o produto rastreado passa a ter credibilidade. No supermercado, entre uma fruta que você sabe de onde vem e uma que não sabe, qual você vai comprar? As redes de supermercado mais organizadas já nem compram mais nada sem procedência — mesmo caminho já percorrido pela carne, pelo leite. Então, a rastreabilidade será fundamental para garantir espaço no mercado. Não tem volta. É importante os produtores irem aderindo para, cada vez mais, terem a venda garantida”, explica.

Quase dois milhões de quilos
de frutas já foram rastreados pela Distribuidora de Frutas Vale do Caí

Segundo Fabiano, a exigência do consumidor não para de crescer e, neste sentido, os fruticultores precisam acompanhar essa tendência de mercado. É verdade que nem todos estão aptos a trabalhar nesse novo sistema, daí a importância de cursos de capacitação daqui para frente, conforme avançarem as técnicas de campo. “Dá um pouco mais de trabalho fazer o rastreio, mas depois que o produtor se acostuma não tem maiores problemas. Não é um bicho de sete cabeças. É só ele se organizar e dá para fazer o controle com um caderno de campo. Com tudo isso, acaba que os processos ficam até melhores”, aponta.

A Distribuidora de Frutas Vale do Caí já rastreou mais de 1,8 milhão de quilos de citros, manga, uva, abacate e outras frutas. São itens procedentes de várias partes do País e até mesmo importadas do Uruguai e da Espanha. No segmento dos citros, agricultores de Montenegro, Pareci Novo e outras cidades da região têm papel fundamental nas atividades da empresa. Parte deles, segundo o sócio-proprietário, já rastreava sua produção antes do surgimento do Rama em função de exigências dos supermercados.

“Os citricultores do Vale do Caí têm um papel destacado. Cerca de 70% dos citros consumidos no Rio Grande do Sul saem das propriedades daqui, o que representa entre 500 mil e 600 mil toneladas por ano. Já ocorreu de exportamos limão e laranja daqui para o Uruguai”, enaltece Fabiano.

Além de ter box na Central de Abastecimento do Rio Grande do Sul (Ceasa), a empresa da família Van Grol abastece as principais redes varejistas do Rio Grande do Sul e também produz citros. “Trabalhamos com citros há mais de 40 anos. Meu pai, Heleno, ainda planta citros em sua propriedade, aqui em São Sebastião do Caí. Todos os produtores da região, independentemente do tamanho, são vitais para o funcionamento da cadeia”, enfatiza.

Saiba mais
– A preocupação com a segurança alimentar e a qualidade dos produtos levou a Agas a elaborar um programa de treinamento de produtores rurais na área de gestão das propriedades, que iniciou em março e está capacitando 250 propriedades rurais em todo o Estado.

– Neste projeto, a Agas indicou 250 fornecedores de frutas, verduras e legumes do setor supermercadista para participarem do programa. Nesta lista, há dezenas de produtores do Vale do Caí, inclusive de Montenegro.

– O Rama rastreia o alimento desde a origem, no campo. Produtores, intermediários e supermercados incluirão todas as informações sobre os itens em um sistema interligado. Depois, são coletadas amostras de produtos nos supermercados para análises de conformidade com as normas vigentes. Quando encontrado algum problema, é possível vasculhar todo o caminho do alimento e a origem da irregularidade. Caso tenha sido o produtor, ele tem 30 dias para apresentar o plano de correção.

– O controle de qualidade e rastreabilidade é realizado mediante etiquetas nas embalagens, caixas de transporte e paletes. Esse padrão soma a integração entre o pedido do supermercado, a rastreabilidade do fornecedor e a identificação do produto.

– Empresas do setor de maior porte já atuam com outros fornecedores e fazem programas próprios de rastreabilidade, mas o consumidor também tem papel neste processo. Somente se ele exigir a nota fiscal em todas as compras é que terá a garantia de qualidade do produto que consume, alerta a Agas.

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