Lenta recuperação. Dados do Caged apontam números positivos, mas no Sine a oferta de vagas ainda é baixa
O Ministério do Trabalho divulgou dados relativos às vagas de emprego no Rio Grande do Sul referentes ao mês de março com base no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que apontou retomada do mercado para os trabalhadores e, consequentemente, reflete o processo de recuperação das empresas desde a crise que teve início em 2014. De um lado, Montenegro fechou 501 postos de trabalho em março, mas por outro abriu outras 658, o que resulta em um salto positivo de 157 pessoas contratadas no período.
Apesar do sinal positivo, ainda há bastante terreno a ser recuperado, porque nos últimos meses, conforme o Caged, a quantidade de pessoas formalmente empregadas no município encolheu 0,96%. Foram 6.224 demissões frente a 6.061 admissões no período, ou seja, 163 vagas a menos.
A agência local da Fundação Gaúcha do Trabalho (FGTAS-Sine) tem procurado estimular a geração de emprego e renda junto às empresas. “Nós, enquanto governo do Estado, estamos preocupados com o desemprego. Chamamos as empresas para ofertar vagas através do Sine. É uma maneira de ajudar a empresa a encontrar um profissional”, aponta o agente administrativo do órgão, Nelson Timm.
Para ele, o Sine de Montenegro passa por um momento de baixa oferta de vagas. Nem mesmo a safra de citros deve impulsionar a geração de emprego na cidade. “Deve haver um crescimento mais vigoroso no fim do ano e no início de 2018. Acreditamos que a indústria e o comércio devem abrir novas vagas. Nesse momento de reformas trabalhistas, notamos que até os empregadores estão aguardando para saber qual o rumo que a economia e as regras do mercado vão tomar”, afirma Timm.
De acordo com o Ministério do Trabalho, setores como indústria e comércio tem impulsionado a economia com a criação de mais de 6.500 novos postos de trabalho no Rio Grande do Sul, durante o mês de março. Já setores como construção civil e agronegócio fecharam cerca de 1.400 vagas de trabalho no mês mais recente pesquisado pelo Caged.
O drama de quem está fora do mercado
Ontem, dezenas de profissionais se candidataram a oito vagas disponibilizadas no Sine de Montenegro. Entre os que aguardavam na fila, os relatos são de longas esperas. Alguns estão há mais de um ano sem carteira assinada. Fica a sensação de que a cidade não tem mais o que oferecer. “Venho todo dia ao Sine. Não tenho mais onde deixar currículo. Perdi de ser chamada em São Leopoldo porque não moro lá. Tenho 35 anos e sou mãe de quatro filhos”, relatou a cozinheira Celeste de Oliveira, em tom de tristeza.
Segundo ela, o fator idade seria um aspecto a seu favor, já que muitos jovens assumem vagas e acabam desistindo dias depois, mas nem isto a ajuda. “Nem todo jovem é comprometido com o trabalho. Tem uns que não ficam um dia no emprego. Sabemos o que é ter compromisso por já ter casa e
filhos pra cuidar. Um dos meus filhos é excepcional, mas ninguém bate na nossa porta para ajudar. Somente na época de pedir voto que passam lá”, desabafou Celeste, enquanto aguardava entrevista para uma vaga na área de limpeza.
Já a auxiliar de serviços gerais Silvia Regina da Silva, 45 anos, está na mesma situação. “Há um ano busco por emprego com carteira. Está complicado. Larguei currículo por tudo aí. A gente paga aluguel. Para ajudar em casa faço uns ‘bicos’ de vez em quando”, afirma Silvia.
Dona Maria di Camargo, 50 anos, tentou a vida fora de Montenegro. Subiu a Serra em direção a Bento Gonçalves. Permaneceu três meses longe da família, mas ainda assim não encontrou nenhuma oportunidade de trabalho. “Tem vaga, mas para homem. Achei que era mais fácil de conseguir emprego lá e, como não encontrei nada, vim embora.” Para ajudar nas despesas de casa, ela ajuda a filha fazendo lanches e alimentos pra vender pra fora. “Precisei até da ajuda do meu ex-marido. Vendo cachorro-quente e pastel na casa dele. Já tinha experiência nessa área. E agora, depois de voltar para Montenegro, já começa a entrar uma renda pra ajudar”, conta