Colorado, casado e pai de três filhos, o Juíz da 2ª Vara Cível e Juizado da Infância e da Juventude, de Farroupilha, Mario Romano Maggioni também é escrito nas horas vagas.
Centrados no tema adoção, os textos falam sobre amor, dedicação e emocionam dezenas de leitores que o seguem em suas redes sociais. “Desde abril de 2015, passei a escrever praticamente só crônicas de adoção, pois me parece que o assunto é extremamente relevante e muitas vezes não lhe é dada a atenção que merece”, afirma.
Os textos são escritos semanalmente para o jornal O Farroupilha, e compartilhados nas redes sociais do magistrado para que mais pessoas tenham acesso. “O que me move é a ideia de que as crianças e os adolescentes tenham pais suficientemente bons para que possam se desenvolver integralmente”.
As crônicas são baseadas em histórias reais e mescladas com as observações romantizadas do juiz. “Inspiro-me muito no poeta Manoel de Barros e nas coisas simples e lindas do nosso dia a dia”, afirma Maggioni.
Ele relata que, como juiz, busca agilizar os processos de adoção e, nos casos em que não há ninguém dentro do perfil de uma criança ou adolescente ou grupo de irmãos, são contatados possíveis interessados fora do perfil.
Alguns perfis ainda encontram resistência
Segundo Maggioni, crianças mais velhas, adolescentes, crianças com deficiência, negras ou grupos de irmãos ainda encontram resistência no processo de adoção. Os dados apontam que quase 100% dos pais habilitados para adoção têm preferência por crianças menores de oito anos.
De acordo com a Coordenadoria da Infância e Juventude do Rio Grande do Sul (CIJRS), do total de candidatos a adotantes, apenas 1,83% aceitam crianças acima de 10 anos. O Estado tem hoje 5.560 pretendentes habilitados aguardando na fila de adoção. Na outra ponta, 625 crianças e adolescentes estão em abrigos, à espera de um novo lar. Por trás dessa conta desproporcional está um dos principais problemas envolvendo o tema: o perfil procurado. São 566 jovens com 10 anos de idade ou mais, 430 que pertencem a grupos de irmãos, 36 que têm deficiência física, 96 que possuem deficiência mental e 30 com HIV.
“No finalzinho do ano passado, eu tinha uma menina de 14 anos apta para adoção; ela não tinha nenhum problema de saúde. Cadastrei ela no CNA – Cadastro Nacional de Adoção. Não havia, em todo o Brasil, nenhum habilitado no perfil dela”, recorda. Há em torno de 35.000 habilitados cadastrados no CNA.
Segundo o juiz, as questões emocionais interferem na busca por determinados perfis de crianças. “Muitos querem a emoção de trocar fraldas, ensinar a caminhar, a falar. Isso é bom. Sou pai. Acho fantástico ver os filhos crescendo. Mas, o problema é que não há muitas crianças neste perfil”.
A campanha “Deixe o amor te surpreender” objetiva conscientizar os pais a cogitar a experiência de adotar crianças mais velhas. “Alguns acham que adotando “pequenos” não “darão problemas”. É uma falsa ideia. Os filhos crescem. Os filhos “não darão problemas” se forem bem cuidados. Os filhos necessitam de pais suficientemente bons. Isso é fundamental na construção de uma sociedade digna e justa”, argumenta o juiz.
DNA da Alma
O grupo de apoio à adoção DNA da Alma reúne-se todas os primeiros sábados de cada mês, das 9 às 11 h, no Instituto Federal de Farroupilha. O objetivo é trocar informações, experiências e contribuir com o processo.
Tem acompanhamento de profissionais da área da psicologia, da assistência social, do direito. “São pessoas que querem adotar ou que já adotaram, dividindo suas experiências”, afirma Mario Maggioni. O grupo tem surtido efeito no processo de adoção e no alargamento dos perfis buscados pelos pais. “É a inserção da comunidade dentro do trabalho da rede. Isso é muito bom”. Os encontros são abertos à participação de todos.