Recente desprendimento de um dos maiores icebergs do mundo chama a atenção para o aquecimento global
Em algum momento, entre os dias 10 e 12 de julho, um iceberg de mais de um trilhão de toneladas se desprendeu de uma plataforma de gelo na Antártida. A área do iceberg A-68, como vem sendo chamado, é de mais de 5.800 km², correspondendo a aproximadamente 12 vezes a área de Porto Alegre. Sua água congelada poderia encher o equivalente a 462 milhões de piscinas olímpicas.
O bloco se desprendeu de uma plataforma de gelo que já estava sendo observada há vários anos, chamada Larsen C, por pesquisadores do Projeto Midas, da Universidade de Swansea, no País de Gales. O motivo do estudo foi o colapso da plataforma Larsen A, no ano de 1995, e o rompimento súbito seguido de colapso da Larsen B, em 2002.
A área do A-68 correspondia a 12% da plataforma de gelo. Além disso, imagens de satélite mostram que outras fraturas estão se desenvolvendo na plataforma, alheias às que geraram o desprendimento. A partir de tais fatos, cientistas e especialistas estão preocupados que a Larsen C entre em colapso e se desintegre, como outras plataformas anteriormente fizeram, pois agora ela está mais instável.
O processo de desprendimento é algo natural na Antártida, mas o que chamou a atenção de cientistas do mundo todo foi a rapidez com que ocorreu e o tamanho do iceberg liberado, um dos maiores de toda a história. No período de duas semanas, a rachadura na Larsen C, que começou no ano de 2010, aumentou em 18 km. A velocidade do avanço na fenda já estava sendo alertada pelos pesquisadores desde o início do ano e, no mês de junho, já havia atingido o comprimento de mais de 200 km. Com isso, muitos cientistas levantaram hipóteses sobre a contribuição do aquecimento global para o ocorrido.
De chuvas inesperadas a ondas extremas de calor
O aquecimento global é uma mudança climática que se dá pelo aumento da temperatura média do mundo. O crescimento das emissões de gases de efeito estufa na atmosfera, como o gás carbônico, prende o calor na superfície do planeta, ocasionando chuvas inesperadas, faltas de chuva em determinadas regiões, ondas extremas de calor, entre outras consequências. Além disso, o aumento dessa temperatura média vem causando derretimentos em calotas polares, o que aumenta o nível do mar.
O que mais preocupa os cientistas e pesquisadores do assunto é o aumento na rapidez com que as mudanças climáticas vêm se agravando. A agricultura intensiva, a queima de combustíveis fósseis e o desmatamento são ações do homem que liberam os gases de efeito estufa na atmosfera do nosso planeta, e que devem ser realizadas com maior sustentabilidade, para que os impactos ambientais sejam menores.
É preciso pensar mais na sustentabilidade
O professor de Agrometeorologia da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Marcelino Hoppe, declara que considera a possibilidade da contribuição de mudanças climáticas como o aquecimento global e o efeito estufa no desprendimento do iceberg A-68. “Nunca foram liberadas tantas ppm (partes por minuto) de gás carbônico antes”, comenta o professor. Como consequência, o efeito estufa já aumentou a temperatura mundial em quase 1ºC, e continua aumentando.
Uma pesquisa divulgada recentemente por pesquisadores australianos do periódico Geophysical Research Letters diz que, se a liberação de gás carbônico continuar no nível que está, o planeta pode ultrapassar a linha de 1,5ºC aumentados dentro de uma única década.
“A maior temperatura que já tivemos em Santa Cruz do Sul foi 43,3ºC, em 17 de fevereiro de 1929. Desde então, tivemos temperaturas altas, mas nunca ultrapassaram esta”, declara Marcelino. O professor explica que, mesmo que a temperatura mais alta tenha ocorrido naquela época, aquele não foi o período mais quente, pois esse está sendo vivido agora, na época das mudanças climáticas.
Temperaturas médias ficando mais altas, geleiras na Antártida recuando ou aumentando, noites mais quentes do que antes: tudo isso são consequências. “No futuro, o aumento da temperatura vai ocasionar faltas de chuva em alguns lugares do mundo, e mais chuva em outros”, aponta Marcelino. “Temos que mudar nossos hábitos de consumo. Temos que ter hábitos mais pensados e voltados para a sustentabilidade”, declara o estudioso.
As mudanças atingem a todos e causam crescente preocupação
As mudanças climáticas podem ser sentidas por todos. A professora aposentada Glaci Barreto, por exemplo, conta que, na época de sua infância, as estações do ano eram mais definidas: aquelas em que era para fazer frio, fazia frio, e na primevera e no verão, fazia calor.
Sobre esse desequilíbrio das estações climáticas, também comenta o técnico operador Paulo Roberto Alves da Cruz. “Acontece que hoje, no inverno, tem mais dias quentes do que frios, por exemplo”, estranha. O técnico também declara que essas mudanças não atingem apenas a rotina, como a agricultura.
A
partir do momento em que a definição de “meses quentes” e “meses frios” acaba, Paulo acredita que pode ser um problema. “Por exemplo, no caso de Gramado, onde o pessoal investe em hospedagens pra passar a época de frio, o que acontecerá? Chega a época de frio e tá aquele calor todo”, comenta.
O aposentado Dionísio Sartori diz que, na época em que era pequeno, fazia bem mais frio do que hoje em dia. “Agora o frio diminuiu, mas acho que o calor também tem aumentado nos últimos tempos”, declara.
Para o estudante Bruno Marques, a explicação para essas temperaturas extremas tem a ver com a camada de ozônio: “o ser humano foi acabando com a camada de ozônio, por isso as temperaturas estão mais extremas”, teoriza.