Maicon Garcia, que mudou-se há dois anos para a capital Lisboa, não vê motivos para voltar a viver no Brasil novamente
Passear por belas paisagens, poder andar livremente às 3h da madrugada sem medo de assaltos e da violência. Estes podem ser o desejo de muitos brasileiros e tornaram-se realidade para o montenegrino Maicon Garcia, 32 anos, no momento em que desfez as malas em Portugal, há dois anos.
Instalado inicialmente na capital Lisboa, ele conta que, antes de ir, programou-se, juntou dinheiro durante quase dois anos, tirou passaporte e carteira internacional de habilitação, pesquisou valores de passagens aéreas e locais para trabalhar e chegou até a estudar duas línguas diferentes, Inglês e Japonês.
“Quando eu decidi sair do país, por influência de um amigo, pesquisei e encontrei em Portugal um porto seguro para brasileiros. Principalmente pela facilidade do idioma e de conseguir o visto de residência para uso descendente, porque Portugal tem uma ligação histórica com o Brasil”, explica.
Em Montenegro, Maicon atuou como radialista, segurança, como funcionário do antigo Cine Tanópolis, mas tinha dúvidas sobre o que fazer quando chegasse ao novo país.
“Como tenho um profundo amor pela cultura oriental, especificamente japonesa, incluindo a culinária, tive a ideia de me qualificar na área, após ir a um restaurante típico. Eu gosto de comer e de cozinhar, então pensei: por que não trabalhar com isso?”, relembra.
Maicon então fez dois cursos pela escola de sushi do Japão, em Curitiba, e atrasou em três ou quatro meses sua ida por conta disso. Porém, todo o preparo rendeu frutos e, vinte dias após sua chegada a Lisboa, foi contratado. “Inicialmente, eu escolhi a capital pela maior oferta de emprego e por ter maior número de estrangeiros. Acreditava ser o melhor lugar para mim. Mas, em junho, por querer algo diferente, mudei para a cidade do Porto. Aqui tem uma arquitetura meio dark, sombria, mas é tão encantadora ao mesmo tempo, com aquelas casas coloridas à beira do rio…”, relata, com carinho.
Saudades do bom e velho churrasco
Ouvir o português marcado pelo sotaque característico do brasileiro, amigos e afilhadas são algumas saudades – das poucas listadas por Maicon – desde sua mudança. Outra grande falta que vem sentindo, conforme relata o montenegrino, é do bom e típico churrasco gaúcho. “Mesmo comprando tudo e fazendo em casa, ou com o tanto de churrascarias que tem aqui, não é a mesma coisa. Não sei se a diferença é o carvão, a carne ou vem da minha própria cabeça”, brinca.
No mais, adaptar-se à cultura, segundo ele, não foi tão difícil. “Porque a culinária brasileira tem muita origem portuguesa, e porque há mais de 100 mil brasileiros vivendo em Portugal”, diz.
Mas o que o montenegrino mais gosta, de todas as características e recursos locais, é o direito de ir e vir, sem medo da violência. “E isso dá para destacar bem. Aqui consigo exercer esse direito. Posso sair à meia-noite no Centro Histórico do Porto, que dificilmente serei assaltado. E fora algumas diferenças culturais, a variação de preços, entre Portugal e o Brasil, também é grandes. Aqui, literalmente, é possível comer e beber o que se quer. Você tem esse direito, porque, trabalhando, é possível adquirir essas coisas, mesmo que recebendo um salário mínimo. Essa condição, no Brasil, impede de fazer muita coisa”, salienta.
Choque de realidades foi impressionante
O Brasil é um país violento, com preços elevados em produtos e serviços e acentuada desigualdade social. Todos têm pelo menos alguma noção, mesmo que mínima, disso. Em Portugal, Maicon se deparou com um cenário completamente diferente e lembra-se de que, poucos meses após sua chegada, teve esse choque de realidade.
“A pessoa que vem pra cá, trabalha honestamente, consegue adquirir as coisas com facilidade. É tudo muito mais fácil, simples. Ano passado, comprei um Citroën, ano 2015, e pago R$ 113,00 por mês. A gasolina é R$ 1,40 o litro. Então eu consigo ter um bom carro, abastecê-lo tranquilamente e adquirir bens com a facilidade que no Brasil eu não tinha”, destaca.
Outras questões para as quais chama a atenção são o abismo que há entre o ensino dos dois países, desigualdade social e violência. “Quando eu falo, aqui, que alguém é morto por causa de um tênis da Nike, eles me olham com uma cara de: como assim? O custo desse produto em Portugal é de 50, 60 euros. Com um salário mínimo, é possível comprar cinco ou seis tênis, e isso para corredores profissionais. Eles nem acreditam que tem pares que chegam a custar R$ 1.000,00 no Brasil, e ficam abismados que alguém possa matar por isso”, destaca o montenegrino.
Maicon tem um canal no YouTube, “Realidade Europa”, com mais de seis mil inscritos, em que conta suas experiências e dá algumas dicas para quem pretende se aventurar nas ruas portuguesas. E, recentemente, convenceu a namorada Elizandra Amaral a juntar-se a ele.
“Claro que o Brasil é um lugar bom, mas, definitivamente, não me vejo indo morar novamente no Brasil, de maneira nenhuma. Atualmente não consigo imaginar sequer o motivo que faria eu retornar. Não há essa possibilidade na minha cabeça”, conclui.