Semana do Hip Hop também é cultura da cidadania

Arte. Evento teve muita música, mas não esqueceu de falar sobre realidades

A 2ª Semana do Hip Hop de Montenegro encerra nesta quarta-feira, 16, após seis dias de conscientização e arte. O último dia dará espaço ao elemento gráfico da Cultura Hip Hop, com o artista Jefinho (Jeferson Fiedeler Martins) realizando Grafite no muro da Biblioteca Pública Hélio Alves de Oliveira. O dia ainda terá diálogo com jovens através do Projeto Hip Hop Além dos Palcos.

Foi este projeto de reflexão que abriu a programação, na sexta-feira, 11, na Escola Estadual Cel. Aurélio Porto, no Centro. O idealizador da Semana e Embaixador do Hip Hop no RS, MC Pedrão, conduziu a conversa a respeito de revolução pessoal e persistência para mudar a realidade. Para tanto, relatou experiências pessoais, em paralelo com o tema racismo. Em momento descontraído, os alunos também puderam contar seus relatos e questionar o MC sobre diversos assuntos. “Eles colocam as opiniões deles também, principalmente vendo a forma como o País está hoje, a forma como o Brasil nos trata como pessoa periférica, branco pobre e preto pobre”, destaca.

No sábado, 12, a abertura oficial na Estação da Cultura foi palco para artistas locais. O Rap foi até as 22 horas, com nomes como os Guerreiros da Perifa, MC Tony a Trajetória, DJ JR VP, Henry, MC Bk, Espelho da Periferia, Poetas do Gueto, Igg Clay, Fernandinho Poeta e MC Pedrão. “Somos um movimento social. Desde 2000, sem um real, já ajudamos mais de mil pessoas”, ressaltou. Os artistas retornam ao palco da Estação no feriado de terça-feira, 15, com convidados de nível nacional, como Veron, Duda Fita de Favela, Dano de Rua, Ato Concreto, Ong Vida Breve, Ativista S.A., DJ TH, Galo Cinzento, Du Gangstar, Preto Speed, BFN, Rapper Dreice, Chapa Halls, Mano Norton e Função Atual. No fim da tarde aconteceu a entrega do Prêmio Acredit Produções a pessoas e entidades que valorizam o bem social.

Semana garante espaço para os rapper’s locais mandarem seu recado

Periferia usa a voz na Semana do Hip Hop
A Cultura Hip Hop é, sobretudo, a voz do povo excluído. Então, a Semana abriu uma janela na noite da segunda-feira, 14, para os moradores do Senai. A roda de conversa sobre ‘Políticas públicas para a periferia’ foi na quadra poliesportiva da Vila Esperança, sendo a Administração Municipal representada pelo diretor de Turismo, Jaime Buttenbender.

Ele levou ao governo uma série de reivindicações, que partem da estrutura do ginásio até o apoio na busca de financiamento para projetos socioculturais. O ativista cultural e rapper MC Tony, integrante do Núcleo Senai e coordenador da Casa de Cultura Senai, defendeu as pautas recordando das oficinas de Slam, dança de rua, teatro e Carnaval promovidas em três anos. Um trabalho com apoio voluntário que não recebe devido incentivo e visibilidade do Poder Público.

Representantes do Coletivo Slam Montenegro questionaram a respeito de incentivo, tanto para realização de eventos da Cultura Hip Hop na cidade, quanto para participarem em outros locais do Brasil, levando o nome de Montenegro. Buttenbender alertou os jovens para ficarem atentos aos editais para o setor publicados pelos governos.

Programação da Semana do Hip Hop

Quarta-feira – dia 16
10 horas – Grafite no muro da Biblioteca – tema ‘Educação, Arte e Livros’
Local: Biblioteca Pública Municipal
-Projeto Hip Hop Além dos Palcos
15h às 16h: Escola Pedro João Müller
19h30min às 20h30min: Escola AJ Renner

Voz da periferia foi ouvida em roda de conversa na quadra da Vila Esperança

Veron traz exemplo de trabalho e ousadia
A qualidade da Semana do Hip Hop está em todas as ações promovidas e nas pessoas envolvidas. Para sintetizar esta característica, o rapper Veron é um ótimo exemplo, inclusive para explicar a Cultura Hip Hop. “Ela é uma ferramenta de transformação social que foi implantada no Brasil há décadas. Começou lá no Bronx (distrito de Nova Iorque), onde um grito de liberdade do povo das periferias”, explicou.

Veron: Rap novo e mensagem tradicional. Foto: Divulgação

Pela música, o portoalegrense, nascido Márcio Rodrigues, ganhou o Brasil com a Banda URC, que foi apadrinhada dos Racionais (1998). Veron aproveitou as postas que abriram, laçou carreira solo e em 2004 fez turnê pela Europa. Após três anos de pausa, em dezembro, lança seu sexto álbum; antecipado pelo clip da música Gritos do Silêncio, onde aborda a violência contra as mulheres.

Este mais recente trabalho é intitulado Estrada da Vida, em uma surpreendente homenagem ao cantor sertanejo José Rico, da dupla Milionário e José Rico. “Eles eram os rappers da época”, ilustra, ao lembrar que a música sertaneja “raíz” descrevia o cotidiano e os desejos da mulher e do homem do campo.

Essa consonância com outras vertentes não é novidade para Veron, que soube ler a cena cultural e em 2017 partiu para um Rap mais “pop”, com influencias do rock, do jazz e do blues; em detrimento das letras grandes e melodias cruas. Ousadia que o levou ao prêmio de melhor clipe no Festival de Cinema de Santos (2021); duas indicações no Prêmio Açorianos (2018 e 2022) e semifinalista do Prêmio Profissionais da Música 2022.

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