Manter o esquema vacinal atualizado é uma das principais estratégias para garantir a proteção individual e coletiva contra doenças que já causaram epidemias e mortes em massa no Brasil e no mundo. A vacinação não é apenas um cuidado pessoal, mas uma medida de responsabilidade com toda a sociedade.
A enfermeira Nicole Ternes, do setor de imunizações da Secretaria Municipal de Saúde de Montenegro, ressalta que a vacinação não deve ser encarada como atitude individual, mas sim uma ação coletiva.
Segundo ela, mesmo pessoas que se consideram saudáveis devem se vacinar, pois circulam em ambientes com indivíduos mais vulneráveis. “Não é porque eu estou bem, que eu nunca fico doente, que eu não vou fazer. Eu convivo com pessoas que são mais sensíveis. Numa fila, por exemplo, pode ter um idoso na sua frente, um bebê. É importante que todo mundo mantenha essa vacinação em dia.”
Dados do Ministério da Saúde mostram que, graças à vacinação, doenças como poliomielite, sarampo e rubéola foram erradicadas ou tiveram significativa redução no Brasil. A varíola, por exemplo, foi considerada erradicada do mundo em 1980. A poliomielite não registra casos no país desde 1989. No entanto, a queda nos índices de cobertura vacinal nos últimos anos tem preocupado especialistas, pois aumenta o risco de reintrodução dessas doenças.
Os calendários vacinais dos diferentes ciclos de vida contemplam 27 vacinas que protegem o indivíduo contra várias doenças, desde o nascimento. Segundo o Ministério, a meta mínima de cobertura vacinal para a maioria das vacinas do calendário nacional é de 95%, mas muitas cidades não atingem esse percentual. Isso compromete a chamada imunidade coletiva, que protege inclusive quem não pode receber a vacina, como pessoas imunossuprimidas ou com contraindicações médicas.
Além de manter em funcionamento as salas de vacina em todas as unidades de saúde, Montenegro conta com profissionais preparados para esclarecer dúvidas da população. “A gente está sempre aberto à solução de dúvidas, tanto na Vigilância Epidemiológica quanto em qualquer uma das nossas unidades. Tem alguma dúvida? Tem um fake news? Pode nos procurar”, afirma Nicole.
Atualmente, o município não registra falta de vacinas e orienta a população a buscar os postos com a caderneta de vacinação em mãos. O esquema vacinal contempla todas as faixas etárias, desde a infância até a terceira idade, e é fundamental para evitar surtos de doenças já controladas.

“O vírus precisa de pessoas para circular….”
Manter uma alta cobertura vacinal é essencial não apenas para proteger quem recebe a dose, mas também quem não pode ser vacinado por questões de idade ou condições de saúde. Esse efeito é conhecido como imunidade coletiva, ou imunidade de rebanho, e é considerado um dos pilares das estratégias de controle de doenças infecciosas.
A enfermeira Nicole Ternes, explica que, quando a maioria da população está vacinada, a circulação do vírus se interrompe. “O vírus precisa de pessoas para circular. Se eu estou vacinada, eu não estou transmitindo. E, dessa maneira, também protejo quem não pode receber a vacina.”
Esse tipo de proteção é fundamental, por exemplo, no caso da gripe. Crianças com menos de seis meses de idade não podem receber a vacina contra influenza. No entanto, se os familiares e cuidadores estiverem vacinados, o vírus encontra barreiras para circular no ambiente, diminuindo o risco de infecção do bebê. “Se o restante dos familiares estiver vacinado, a influenza não vai chegar nesse bebê. E isso acontece com as demais vacinas também”, afirma Nicole.
A imunização coletiva também beneficia pessoas imunocomprometidas, que, mesmo quando vacinadas, podem não desenvolver resposta imune eficaz. Por isso, a vacinação de quem convive com esses indivíduos torna-se parte de uma estratégia de proteção ampliada.
Montenegro amplia estratégias para o acesso à vacinação

Desde o início da campanha de vacinação contra a gripe, em abril, a Secretaria Municipal de Saúde de Montenegro tem adotado diferentes estratégias para facilitar o acesso da população às doses. A vacina chegou ao município na quinta-feira anterior ao início oficial da campanha, no dia 7 de abril, e as equipes já iniciaram as aplicações na Praça Rui Barbosa, onde, em duas horas, 180 pessoas foram imunizadas durante uma feira de saúde.
Para aumentar a cobertura vacinal, a cidade realizou dois Dias D de vacinação: o primeiro no dia 26 de abril, antecipando a mobilização nacional de maio, e o segundo, no próprio Dia D nacional. Durante o período de maior movimento, os horários das salas de vacinação foram estendidos até as 21 horas.
Atualmente, Montenegro conta com quatro salas de vacina fixas, mas a imunização está disponível em todas as unidades de saúde, mesmo naquelas que não possuem sala específica. Nesses casos, as vacinas são transportadas diariamente pela equipe da Vigilância em Saúde. A Unidade Móvel também percorre o interior do município, levando a imunização até as comunidades mais afastadas.
A vacina foi oferecida ainda durante eventos e festas no município, como a Festa de São João da Escola Walter Bellian, além de eventos organizados em parceria com o SESC, como o Dia do Desafio. As equipes também atuaram em supermercados, praças e creches, vacinando pais, professores e alunos no fim do turno escolar.
A divulgação da campanha tem ocorrido por meio das redes sociais da prefeitura e pela mídia local. Para evitar barreiras no momento da aplicação, a equipe exige apenas o número do CPF. Apenas no caso de crianças é solicitada a caderneta de vacinação, já que o esquema pode variar dependendo da dose anterior.
Com essas ações, a Secretaria de Saúde busca ampliar a cobertura vacinal e garantir que a população esteja protegida contra a influenza. Nicole explica que o município registra 17.236 pessoas vacinadas contra Influenza. A vacinação é contabilizada com base na adesão dos grupos prioritários, como gestantes, idosos e crianças de 6 meses a menores de 6 anos. Dentro desse público, 45,57% das pessoas se vacinaram até o momento.
Com frio e aumento de casos, saúde pública reforça importância da vacinação
O Brasil tem uma longa trajetória na área da vacinação. Desde 1804, quando foi introduzida a vacina contra a varíola, o país passou a incorporar diferentes imunizantes à rotina da população. A partir da década de 1970, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) passou a coordenar as campanhas em nível nacional, alcançando altos índices de cobertura. Com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) em 1988, esse trabalho foi ampliado, garantindo o acesso gratuito a vacinas em todos os municípios.
Comemorado em 9 de junho, o Dia Nacional da Imunização relembra esses avanços, mas também serve como momento de reflexão diante dos desafios atuais. Um deles é a baixa adesão às campanhas de vacinação.
Além da queda na procura, outra dificuldade enfrentada é o avanço da desinformação. Notícias falsas e discursos antivacina — que se intensificaram durante a pandemia de Covid-19 — seguem influenciando decisões individuais e reduzindo a confiança da população nos imunizantes.
As consequências da baixa cobertura vacinal já se refletem nos atendimentos. Com a chegada do frio, os casos de síndromes respiratórias aumentam e, em alguns casos, evoluem para complicações graves. A lembrança dos tempos em que a vacinação era motivo de mobilização coletiva contrasta com o atual desafio de combater boatos e recuperar a confiança da população.

Vacina da gripe não transmite o vírus
Dúvidas sobre os efeitos da vacina contra a gripe ainda são um dos principais motivos apontados por quem opta por não se vacinar. Entre as justificativas mais comuns está a percepção de que o imunizante causa a própria gripe, algo que, segundo os profissionais de saúde, não procede.
A enfermeira Nicole Ternes explica que a vacina contra a influenza é produzida com o vírus inativado — ou seja, morto — e, portanto, incapaz de causar a doença. “A gripe muitas vezes é confundida com o resfriado comum. A pessoa pode ter sintomas semelhantes após a vacinação, mas isso ocorre por outros fatores, não por conta da vacina”, explica.
A imunização contra a influenza protege contra os principais subtipos do vírus identificados como mais graves. No entanto, existem outros vírus respiratórios circulando, e a vacina não impede que a pessoa contraia, por exemplo, um resfriado comum. Além disso, é necessário um período após a aplicação para que o organismo desenvolva os anticorpos. Durante essa janela, a pessoa ainda pode se contaminar, especialmente se já estiver incubando o vírus no momento da vacinação.
Sobre possíveis reações adversas, Nicole esclarece que, como ocorre com qualquer vacina, podem surgir efeitos leves e temporários. Os mais comuns são dor ou vermelhidão no local da aplicação, febre baixa, dor de cabeça ou muscular. Esses sintomas tendem a surgir entre 24 e 72 horas após a aplicação e indicam a resposta do sistema imunológico.

Casos mais intensos, como febre acima de 39 graus ou dor persistente, devem ser avaliados por profissionais de saúde. “Cada pessoa conhece seu corpo. Se os sintomas forem muito fortes ou diferentes do habitual, é recomendado procurar atendimento médico”, orienta Nicole.
A profissional também reforça que, para qualquer vacina, é necessário observar as indicações específicas, como faixa etária e condições de saúde no momento da aplicação. Pessoas com febre ou em fase de desenvolvimento de alguma doença devem adiar a vacinação até estarem recuperadas, para evitar confusões com os sintomas da enfermidade.
Imunidade e mutações do vírus exigem reforço na aplicação
Algumas vacinas precisam ser reaplicadas em intervalos curtos, como a da influenza, enquanto outras exigem reforço após vários anos, como a antitetânica. A diferença está relacionada ao comportamento dos vírus e à duração da resposta imunológica gerada pelo organismo.
A vacina contra a influenza precisa ser aplicada anualmente por dois motivos principais: a queda natural da imunidade ao longo do tempo e a constante variação das cepas do vírus. A cada ano, novos subtipos do vírus influenza circulam entre a população, o que exige uma atualização da composição da vacina. Além disso, mesmo quem recebeu a dose no ano anterior pode apresentar diminuição na proteção, o que reforça a necessidade da reaplicação anual conforme orientação do Ministério da Saúde.
Já no caso da antitetânica, o cenário é diferente. A vacina protege contra o tétano, uma doença causada por uma bactéria que não sofre mutações frequentes. Com isso, o esquema vacinal inclui doses de reforço em intervalos maiores — normalmente a cada dez anos — para manter a proteção, já que a imunidade tende a diminuir gradualmente com o tempo.
A recomendação dos profissionais da saúde é que a população mantenha a caderneta de vacinação atualizada e participe das campanhas de imunização, contribuindo para a proteção individual e coletiva.
Confira os calendários de imunizações: https://www.gov.br/saude/pt-br/vacinacao/calendario
Vacinas: o que são e como funcionam
Vacinas são preparações desenvolvidas para estimular o organismo a produzir anticorpos, criando uma defesa contra infecções futuras. Elas são compostas por microrganismos mortos ou enfraquecidos — como bactérias ou vírus — ou ainda por derivados desses agentes. A principal função da vacina é fazer com que o sistema imunitário reconheça e destrua agentes infecciosos específicos.
Durante a gestação, os bebês recebem da mãe, por meio da placenta, anticorpos que os protegem nas primeiras semanas de vida. Essa proteção, no entanto, tem duração limitada e varia conforme a doença. No caso da tosse convulsa, por exemplo, os anticorpos maternos permanecem ativos por apenas algumas semanas. Já no caso do sarampo, podem durar até um ano, dependendo do organismo da criança.
O processo de imunização simula uma infecção, sem causar a doença. Ao ser exposto a um microrganismo atenuado ou inativo, o organismo entende que está sob ataque e reage, produzindo anticorpos. O resultado é a criação de uma memória imunitária, que permite ao corpo reconhecer o agente em futuros contatos e agir de forma mais rápida e eficaz.
Há atualmente vacinas combinadas, como as trivalentes e hexavalentes, que protegem contra várias doenças ao mesmo tempo. Os efeitos adversos geralmente se limitam a sintomas leves, como dor no local da aplicação, febre ou desconforto muscular, sendo reações graves muito raras.