Conhecer para cuidar: Montenegro trabalha saúde com foco na realidade local

Para alcançar a terceira idade com saúde e condições adequadas de vida, é necessário adotar práticas de cuidado desde os primeiros anos. Com esse objetivo, a Mobilização Nacional pela Promoção da Saúde e Qualidade de Vida tem incentivado, em todo o país, ações voltadas à prevenção de doenças e ao estímulo de hábitos que favorecem o bem-estar da população. A campanha, intensificada em abril, envolve diferentes setores da sociedade. Em Montenegro, a Rede Bem Cuidar RS norteia ações com foco no bem-estar e saúde dos cidadãos.

Segundo o Ministério da Saúde, a promoção da saúde deve ser construída de forma conjunta entre o poder público, instituições e a comunidade. “Trata-se de um conjunto de estratégias para que as pessoas tenham condições de adotar práticas saudáveis em seu cotidiano. Isso envolve desde alimentação adequada até ambientes de trabalho seguros e cidades planejadas”, informa nota técnica da Secretaria de Atenção Primária à Saúde.

Para o Conselho Nacional de Saúde, a mobilização também contribui para o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com o presidente do Conselho, Fernando Pigatto, “a prevenção é uma diretriz fundamental do SUS. Investir em promoção da saúde é uma forma de reduzir desigualdades e evitar o agravamento de doenças crônicas”.

Fatores como a alimentação, a prática de atividade física e o consumo de álcool e tabaco são influenciados por elementos que ultrapassam o controle individual. Pressões da indústria e da publicidade sobre produtos ultraprocessados e bebidas alcoólicas têm impacto direto na rotina da população, especialmente nas regiões urbanas. O ambiente em que as pessoas vivem pode dificultar escolhas mais favoráveis à saúde.

A Agenda 2030, plano global da Organização das Nações Unidas (ONU), estabelece metas voltadas ao desenvolvimento sustentável, relacionando saúde à educação, redução da pobreza, acesso a bens e serviços públicos e garantia de direitos. A proposta é promover condições de vida que permitam decisões conscientes e acessíveis à maioria da população.

Governos de diferentes países têm adotado estratégias para ampliar o acesso a escolhas alimentares e comportamentais que reduzam o risco de doenças. Dados do Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) no Brasil, de 2011 a 2022, apontam que essas enfermidades são responsáveis por cerca de 70% dos óbitos no país. Entre os grupos mais atingidos estão pessoas com baixa renda e escolaridade.

A mobilização segue com a proposta de promover o cuidado contínuo e o acesso a informações que contribuam para a melhoria das condições de vida em longo prazo.

Montenegro desenvolve ações da Rede Bem Cuidar RS

Desde 2022, Montenegro integra a Rede Bem Cuidar RS, iniciativa do Governo do Estado voltada à qualificação da Atenção Primária à Saúde. O município começou as ações pela Unidade de Saúde da Família 3, localizada no Bairro Industrial, escolhida como projeto-piloto para o desenvolvimento das atividades.

Segundo a enfermeira Angelita Moraes, da Secretaria Municipal de Saúde, os primeiros trabalhos da equipe ocorreram no primeiro semestre de 2022, com foco na avaliação do envelhecimento saudável da população.

“A gente começou a fazer avaliações multidimensionais da pessoa idosa, acima de 60 anos”, explica. As avaliações verificam aspectos físicos, cognitivos e sociais do paciente idoso, identificando diferentes níveis de autonomia.

Angelita exemplifica a aplicação prática da metodologia: “É pegar a Dona Maria, que tem 67 anos, e ver como é que ela consegue ir ao mercado, se ela consegue fazer as suas compras, pegar o seu dinheiro da aposentadoria, se consegue lidar com a parte financeira, com o dia a dia de sair e buscar as coisas necessárias para casa, se consegue tomar o seu medicamento no horário certo, se compreende as coisas e tem força física e motora para desenvolver suas atividades”.

A enfermeira Angelita Moraes atua na Unidade de Saúde da Família 3, do bairro Industrial. Foto: arquivo pessoal de Angelita Moraes

Conforme a enfermeira, o objetivo é mapear as condições de vida dos idosos e classificar o grau de fragilidade de cada um, de acordo com sua autonomia. Desde o início do projeto, a equipe realiza ciclos semestrais de avaliação e acompanhamento.

Em 2024, a atenção foi ampliada para gestantes, recém-nascidos e puérperas e seus companheiros. “Estamos fazendo agora avaliações de gestante, do RN, da puérpera e do companheiro dessa gestante”, informa a enfermeira. A proposta é garantir cuidado integral desde o início da vida.

Angelita destaca que o objetivo é acompanhar a saúde da população desde antes do nascimento até a velhice. “Queremos cuidar da saúde desse paciente para que ele chegue na idade madura aos 60 anos, rígido, com menor probabilidade de doenças que se adquire com o decorrer da vida”, afirma.

A importância do acompanhamento multidisciplinar e da prevenção, desde a gestação até a terceira idade

A promoção da saúde deve começar ainda na gestação, segundo a enfermeira Angelita Moraes. Para ela, o cuidado no pré-natal é essencial para garantir o desenvolvimento adequado do bebê e contribuir para uma vida adulta mais saudável. A profissional reforça que o bem-estar na terceira idade começa com escolhas feitas ao longo da vida, e que a prevenção é um processo contínuo.

Entre os principais fatores de risco identificados nas unidades de saúde está o excesso de peso, que pode desencadear doenças como hipertensão, diabetes e problemas articulares. Angelita destaca que o controle de peso, aliado à prática regular de exercícios físicos, é fundamental para manter a mobilidade e preservar a funcionalidade do corpo.

A profissional também reforça a necessidade de hábitos saudáveis voltados à qualidade de vida e não a padrões estéticos. Além do exercício físico, ela enfatiza a importância do convívio social e da manutenção de uma rotina com leveza.

Em relação à assistência obstétrica, Angelita informa que, mesmo diante de dificuldades enfrentadas no Hospital Montenegro, há um protocolo de contingência em funcionamento para garantir atendimento adequado. Ela afirma que os partos seguem sendo assistidos, com suporte das redes estadual e municipal.

A rotina de atividade física é fundamental em qualquer faixa etária e deve ter como foco a Saúde. Fotos: reprodução internet

Avaliação contínua fortalece cuidado em saúde

A Unidade de Saúde da Família 3 (USF 3), no Bairro Industrial, em Montenegro, tem cerca de 4,5 mil pessoas cadastradas no Rede Bem Cuidar RS. A enfermeira Angelita Moraes explica que o trabalho envolve uma equipe multiprofissional e é feito com base em avaliações periódicas do estado de saúde de cada paciente. “Ninguém faz nada sozinho. A gente tem apoio de toda uma equipe multidisciplinar da rede de saúde de Montenegro”, afirma.

O acompanhamento permite identificar alterações no bem-estar físico e emocional ao longo do tempo.

“Vamos pegar um exemplo, em 2022, quando avaliamos a dona Maria, ela conseguia fazer tudo, estava bem dentro do quadro dela. Agora, ela chegou aqui, está meio triste, disse que não tem muita vontade de fazer as coisas. A partir disso, são adotadas medidas como encaminhamento ao clínico, avaliação para possível medicação, e, se necessário, atendimento psicológico ou psiquiátrico”.

O mesmo cuidado tem sido aplicado a puérperas que apresentam dificuldades no pós-parto. “A que acabou de ganhar bebê e que está muito deprimida, que não está gostando de estar com aquela situação do neném fora da barriga, precisa de auxílio maior no cuidado dela”, completa Angelita.

A avaliação multidimensional da pessoa idosa e os atendimentos priorizados conforme as faixas etárias, previstos pela Rede Bem Cuidar, já estão sendo implementados em outras unidades de saúde de Montenegro. Segundo enfermeira, embora apenas a USF-3 possua placa e certificação oficial como “Unidade Amiga do Idoso”, os protocolos do programa já foram repassados às demais equipes pela coordenação da Secretaria Municipal de Saúde.

Rotina intensa e falta de recursos comprometem prevenção

De acordo com Angelita, um dos principais desafios enfrentados pelas equipes, que visam o fomento a qualidade de vida, é a dificuldade que parte da população tem em cuidar da própria saúde. Ela aponta que muitos adultos vivem sem incorporar práticas preventivas em razão de rotinas intensas, cuidados com filhos e familiares idosos, além de limitações financeiras.

A profissional da Saúde observa que as condições de vida influenciam diretamente na saúde física e mental. Em muitos casos, as pessoas conhecem as recomendações de uma alimentação saudável, mas não conseguem segui-las por falta de recursos. A nutricionista, segundo ela, tenta adequar a dieta à realidade do paciente, mas ainda há obstáculos estruturais.

A enfermeira também destacou os impactos da enchente de 2024. Muitas famílias ainda enfrentam dificuldades com moradia, o que compromete o acesso a uma alimentação adequada e a outras condições básicas de saúde. Ela reforça que, sem estrutura mínima, é difícil garantir o cuidado integral previsto pela Rede Bem Cuidar.

Vínculo entre profissionais e comunidade melhora atendimento

O trabalho das equipes de saúde no atendimento a públicos específicos, como crianças e idosos, exige capacitação e acolhimento. Segundo a enfermeira Angelita, todos os profissionais, desde a recepção até os técnicos e especialistas, recebem orientações da coordenação para garantir que os usuários sejam bem acolhidos desde o primeiro contato com a unidade.

Angelita destaca que o acolhimento qualificado é fundamental, mesmo quando o atendimento imediato não pode ser realizado devido à alta demanda. Nesses casos, a escuta atenta e a orientação adequada sobre agendamentos e encaminhamentos contribuem para a satisfação do paciente.

No caso da Rede Bem Cuidar, implantada na Unidade de Saúde Industrial, houve uma qualificação no atendimento aos idosos. A equipe passou a conhecer melhor a população por meio de visitas domiciliares, inclusive a pacientes que não estão acamados. Essas visitas permitiram identificar necessidades específicas e fortalecer os vínculos entre profissionais e comunidade.

A manutenção de equipes fixas por mais tempo nas unidades também tem colaborado para a construção de relações de confiança. A enfermeira relata que conhecer o histórico dos pacientes e manter contato contínuo com eles, inclusive por meio de atividades nos centros comunitários e ações como a vacinação domiciliar, contribui para um cuidado mais efetivo.

No acolhimento, profissionais coletam informações importantes do dia a dia dos pacientes. Foto: freepik

Unidade de Saúde oferece atendimentos complementares para a população

A Unidade de Saúde do bairro Industrial tem concentrado atendimentos de práticas integrativas que atendem pacientes encaminhados por outras unidades do município. Segundo a enfermeira Angelita, o local realiza agendamentos para sessões de acupuntura, conduzidas por uma médica nas segundas e quartas-feiras. A prática é voltada principalmente ao alívio de dores crônicas e inflamações localizadas.

Além da acupuntura, a unidade oferece atividades físicas com orientação profissional. Inicialmente voltadas aos idosos, as aulas com educador físico nas quartas-feiras, às 14 horas, foram ampliadas para toda a população. Outro atendimento disponível é a aplicação de reiki, oferecida por uma voluntária nas quintas-feiras pela manhã.

Angelita destaca que todas as unidades de saúde do município possuem atividades diferenciadas. Ela orienta que a população busque informações nas unidades para saber quais ações estão disponíveis e onde podem ser acessadas. De acordo com a enfermeira, esses cuidados, mesmo sem uso de medicamentos, são respaldados por evidências científicas e contribuem para a qualidade de vida dos usuários do sistema público de saúde.

O município oferece atendimentos de práticas integrativas que contribuem para a qualidade de vida

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