A asma é uma doença inflamatória crônica das vias aéreas, que afeta os pulmões e dificulta a passagem do ar. Essa inflamação torna os brônquios (tubos que levam o ar até os pulmões) mais sensíveis e estreitos, o que pode provocar diversos sintomas, como a falta de ar. Essa é uma das doenças crônicas não transmissíveis mais comuns no mundo, ela afeta mais de 260 milhões de pessoas e é responsável por mais de 450 mil mortes anuais, segundo dados da Global Initiative for Asthma (GINA).
A desigualdade no acesso a medicamentos é um dos principais fatores que contribuem para essa realidade. Em países de média e baixa renda, 96% das mortes por asma ocorrem, principalmente devido à indisponibilidade ou ao alto custo de medicamentos inalatórios, como os corticosteroides.
A GINA destaca a necessidade de ação conjunta entre formuladores de políticas públicas, governos, fabricantes, fornecedores e setor farmacêutico para ampliar o acesso aos tratamentos e reduzir a morbidade e a mortalidade causadas pela asma. A prevenção e o controle da doença dependem não apenas da prescrição médica adequada, mas da garantia de que os pacientes tenham acesso contínuo aos medicamentos indicados.
Iniciativas de conscientização, diagnóstico precoce e tratamento contínuo são medidas fundamentais para reduzir os impactos da doença. O fortalecimento das políticas públicas e o compromisso com a equidade no acesso à saúde podem ajudar a evitar milhares de mortes por ano relacionadas à asma.
Sinais que merecem atenção
*Tosse frequente, especialmente à noite ou de madrugada
Tosse persistente, sem causa aparente, que piora durante o sono ou após atividades físicas, pode ser um indicativo de asma.
*Chiado no peito (sibilância)
Um som semelhante a um apito durante a respiração é comum em crises de asma, principalmente quando a criança expira.
*Falta de ar ou respiração rápida
Dificuldade para respirar, sensação de aperto no peito ou esforço para puxar o ar podem indicar obstrução das vias aéreas.
*Fadiga em atividades físicas
Crianças com asma podem se cansar com facilidade ao correr, brincar ou fazer exercícios, evitando essas atividades.
*Desconforto respiratório após infecções virais
Resfriados que “descem para o peito”, com tosse prolongada após o fim da febre ou dos sintomas gripais, são um sinal de alerta.
*Histórico familiar de asma ou alergias
Filhos de pais com asma, rinite ou outras condições alérgicas têm maior chance de desenvolver a doença.
*Melhora com uso de broncodilatadores (bombinha)
Resposta positiva ao uso de medicamentos inalatórios prescritos pode reforçar a suspeita de asma.
Asma causa sete mortes por dia no Brasil, aponta especialista
Dados recentes apresentados pelo pneumologista pediátrico Paulo Pitrez, do Hospital Moinhos de Vento e membro da Global Initiative for Asthma (GINA), revelam um cenário preocupante sobre a asma no Brasil. Segundo o especialista, entre 80% e 90% dos pacientes vivem com a doença fora de controle, independentemente da idade.
A falta de controle se caracteriza pela presença constante de sintomas, crises frequentes e uso recorrente de medicamentos de alívio, como corticoides orais. Pitrez explica que o objetivo do tratamento deve ser o controle completo da asma, com ausência de sintomas e possibilidade de uma rotina normal. Ele compara a situação ao tratamento do diabetes, que busca a estabilização da doença para evitar complicações clínicas.
Um dos dados mais preocupantes, segundo o médico, é o aumento da mortalidade por asma no Brasil. Com base em levantamento feito em conjunto com colegas e publicado no Jornal Brasileiro de Pneumologia, Pitrez afirma que mais de sete brasileiros morrem por dia em decorrência da doença. Um terço dessas mortes ocorre fora do ambiente hospitalar, incluindo casos registrados em domicílio ou durante o deslocamento até uma unidade de saúde.
Para o especialista, os números refletem falhas no acesso à informação, diagnóstico e tratamento, além de desafios estruturais em regiões com menor cobertura de saúde. Pitrez destaca que, apesar de ser uma doença com tratamento eficaz, a asma ainda é subestimada por parte da população e requer maior atenção.

Mudanças de temperatura aumentam crises e exigem atenção preventiva
Mudanças climáticas repentinas, especialmente a queda de temperatura, estão entre os fatores que mais contribuem para o aumento das crises de asma. Em regiões onde as variações térmicas são frequentes, como no Sul do Brasil, esse impacto é sentido de forma significativa. De acordo com o pneumologista pediátrico Paulo Pitrez, do Hospital Moinhos de Vento, uma mudança de dez graus em poucas horas já é suficiente para aumentar a procura por atendimento médico.
O especialista reforça que a asma é uma inflamação dos brônquios, que possui tratamento eficaz, inclusive com terapias modernas, como os imunobiológicos. Além disso, o controle adequado permite que o paciente leve uma vida sem limitações.
Entre os cuidados recomendados estão a redução da exposição à poeira, mofo, ácaros e ambientes com fumaça, incluindo cigarro tradicional e eletrônico. Para crianças e adolescentes, a prevenção começa pela orientação sobre os riscos do tabagismo e pela importância de evitar contato com fumantes.
Além do controle ambiental, o uso correto dos medicamentos preventivos é essencial. Pitrez destaca que a adesão ao tratamento contínuo reduz o risco de crises e evita a progressão da doença ao longo dos anos. O médico reforça que o acesso a esse tratamento deve ser garantido em todas as regiões, já que a asma pode ser controlada independentemente do local onde o paciente vive.

Cuidados no ambiente doméstico
Evite poeira acumulada
Limpe a casa com pano úmido, evitando vassouras e espanadores que levantam partículas no ar.
Evite tapetes, cortinas pesadas e bichos de pelúcia que acumulam ácaros.
Reduza a umidade
Mantenha o ambiente seco e arejado.
Evite mofo nas paredes, armários e tetos. Use produtos anti-mofo, se necessário.
Use roupas de cama adequadas
Troque lençóis e fronhas semanalmente.
Prefira capas impermeáveis contra ácaros em colchões e travesseiros.
Evite cheiros fortes e fumaças
Não use produtos de limpeza com odor forte, incensos ou perfumes intensos.
Evite exposição a fumaça de cigarro, lareiras e fogões a lenha.
Projeto testa novas estratégias para reduzir internações
Está em andamento um estudo clínico voltado à redução das internações por asma no Sistema Único de Saúde (SUS). O projeto, intitulado Cuidar: reduzir mortalidade e custos da asma no país, é liderado pelo pneumologista Paulo Pitrez, no Hospital Moinhos de Vento, e envolve 40 unidades de saúde em diferentes regiões do país.
A proposta tem como foco a capacitação de equipes da Atenção Primária à Saúde (APS), por meio de um curso em formato de educação a distância (EAD), chamado Manejo de Asma na Atenção Primária à Saúde (MAAPS). O conteúdo foi desenvolvido com base nas diretrizes do Ministério da Saúde, incluindo o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) da asma e a Linha de Cuidado da Asma.
O projeto também avalia a efetividade do peak flow meter, um equipamento de baixo custo utilizado para medir o pico do fluxo respiratório. O objetivo é compará-lo com a espirometria, exame de maior custo, analisando a viabilidade do uso do primeiro como ferramenta de triagem na identificação de casos de asma não controlada.
Com o apoio do Ministério da Saúde, a iniciativa visa produzir dados nacionais relevantes e propor soluções para o SUS. De acordo com Pitrez, o estudo busca contribuir para a redução da mortalidade, da frequência de crises graves e dos custos associados à doença.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 71,5% da população brasileira depende exclusivamente do SUS, sendo que 47,9% utilizam as Unidades Básicas de Saúde como principal porta de entrada no sistema. Diante disso, o fortalecimento da APS com foco no controle da asma é apontado como estratégia com potencial de impacto direto na redução das internações.
Experiências pontuais em municípios brasileiros já indicaram que programas assistenciais voltados à asma podem reduzir hospitalizações entre 30% e 80%. O estudo do projeto Cuidar busca confirmar esses resultados em escala nacional.
Avanços no tratamento da asma ampliam controle
Nos últimos dez anos, o tratamento da asma passou por importantes transformações, com impacto direto na prevenção de crises e no controle dos sintomas. Segundo o pneumologista Paulo Pitrez, houve avanços significativos, especialmente para os casos classificados como graves.
Para a maioria dos pacientes — cerca de 90% — o controle da doença pode ser alcançado por meio do uso regular de medicamentos inalatórios, popularmente conhecidos como “bombinhas”. Esses medicamentos não atuam apenas no alívio imediato dos sintomas, mas têm função preventiva, sendo indicados para uso contínuo, conforme orientação médica.
Já para os cerca de 10% dos pacientes que convivem com formas mais graves da doença, surgiram novas opções terapêuticas. Entre elas, destacam-se os imunobiológicos, que são anticorpos produzidos em laboratório com capacidade de bloquear processos inflamatórios associados à asma.
Essas medicações específicas têm custo elevado, estimado em torno de R$ 10 mil por paciente, mas vêm sendo disponibilizadas com maior regularidade nos últimos anos. Pitrez destaca que, para os pacientes com asma grave, o acesso a essas terapias pode representar uma mudança significativa no controle da doença, com redução de sintomas, crises e da necessidade de hospitalizações.
Os avanços nos tratamentos, aliados a políticas públicas que garantam acesso às tecnologias disponíveis, são apontados como elementos fundamentais para que mais pessoas com asma possam viver com a doença controlada.

Assista a entrevista: https://www.facebook.com/share/v/16kjrFEboK/