Dois anos de luta até a conquista da emancipação

História. Vice-presidente do movimento emancipacionista e ex-prefeito, Jorge Hoerlle fala da luta pela autonomia

O livro de atas do movimento de emancipação de Pareci Novo, então distrito de Montenegro, mostra que foi em 22 de junho de 1990 a assembleia popular que provou o anseio do povo daquela localidade de se ver independente. Também foi nesta data que se definiu a comissão emancipacionista. Apesar de 325 terem assinada o documento naquele dia, a estimativa é de que muito mais gente se fez presente no salão principal da Sociedade da Várzea do Pareci. “Calculamos mais de 500 participantes, mas nem todos estavam com título de eleitor e, assim, não assinaram a ata”, recorda Jorge Renato Hoerlle, 69 anos.

Na época com 42 anos, Jorge era vereador em Montenegro e foi escolhido 1º vice-presidente do movimento. A presidência coube a Armin Adolfo Heldt, que viria a ser o primeiro prefeito do município. Apesar de a data oficial apontada na ata ser 22 de junho de 1990, Jorge recorda que a mobilização iniciou antes disso. “Quem pega o livro de atas hoje e não acompanhou o processo, pensa que aquela foi a primeira reunião, mas não. Houve reuniões em Porto Maratá, na sede, na Várzea do Pareci, em Matiel, no Despique, no Bananal e no Coqueiral para ver a disposição”, revela.

Lei que transformou o distrito de Pareci em município foi publicada em 20 de março de 1992

Somente após se perceber a viabilidade e apoio é que foi deflagrado o movimento. Segundo o ex-prefeito de Pareci Novo, o início da movimentação que resultou, em 20 de março de 1992, na emancipação do município, teve como maior entusiasta justamente Armin, que era incentivado pelo advogado Arno Eugênio Carrard, que participou de ações semelhantes em diversas comunidades. “Ele era um defensor emancipacionista. Era um cidadão que percorreu todos os municípios que estavam em processo de emancipação”, comenta Jorge.

Apesar de não encontrar resistência por parte de Montenegro, nem tudo foram flores no processo. Uma ação de lideranças de Matiel e Despique tentou fazer com que estas duas localidades, junto com Coqueiral e Bananal, fossem anexadas ao território de Harmonia, que havia sido criado como município em 1988. Então morador de Bananal e vereador em Montenegro, Jorge recorda que, numa noite, apareceu na sua casa Arialdo José dos Santos, único morador da localidade que tinha telefone. Ele avisou que o então vereador Eduardo Carlos Bergamaschi, o Gringo, ligou alertando que Jorge deveria ir para Montenegro, com urgência, no outro dia de manhã cedo para tratar de um assunto importante sobre a emancipação de Pareci Novo.

“O Bergamaschi tinha uma amizade com o ex-prefeito de Venâncio Aires, que era responsável pelas comissões emancipacionistas na Assembleia Legislativa. Lá, ele ficou sabendo que havia esse movimento de Harmonia. Fomos ver e era mesmo: a questão estava encaminhada”, relata Jorge.

Vendo o movimento de Pareci Novo minado, o grupo precisou tomar uma atitude drástica. “No outro dia, eu e uma meia dúzia fomos falar com o líder que estava ‘melando’ nosso movimento. Falamos: ‘tu não vai mais passar por Pareci para ir para Montenegro. Nós tivemos uma reunião com 300 e tu está de responsável por trair o movimento’. Aí ele tirou o cavalinho da chuva”, recorda o então vice-presidente do movimento.

Sem esse entrave, o município conquistou a sua autonomia em 20 de março de 1992. Na primeira eleição municipal de Pareci Novo, Armin Adolfo Heldt, então com mais de 70 anos, venceu Jorge no pleito. “Nós nos dividimos, mas sem briga. Tanto que eu vim na posse, vim na festa da vitória. Hoje não acontece mais isso”, salienta Jorge, que assumiria posteriormente o município por dois mandatos, de 1997 a 2004.

Livro de atas do movimento de emancipação carrega a história da criação do município de Pareci Novo

Jorge: “Está muito além da expectativa”
Classificando Pareci Novo como o filé mignon de Montenegro, Jorge Renato Hoerlle diz que o município já superou as expectativas que ele possuía para a cidade na época da emancipação. Ele lembra que, antes do advento do cancro cítrico, Pareci Novo chegou a ter o melhor índice de retorno de ICMS dos municípios com menos de 15 mil habitantes no Rio Grande do Sul. “A situação hoje está muito além da expectativa”, reforça.

O integrante da comissão emancipacionista lembra que, quando Pareci Novo ainda fazia parte de Montenegro, a sensação era de abandono. “Não se conseguia uma lâmpada para iluminação pública. A patrola passava, no máximo, quatro vezes ao ano e não em todas as localidades. Na estrada geral, passava talvez uma vez por mês, mas no interior às vezes nenhuma vez por ano. Há ainda os avanços na saúde, na educação”, destaca Jorge. O ex-prefeito comenta que sua melhor atitude foi municipalizar toda a rede de ensino.

Apesar de já ver suas expectativas superadas, Jorge crê que Pareci Novo ainda tem muito a crescer, principalmente em razão de sua localização privilegiada. “A Amvarc tem 18 municípios, sendo que Montenegro e São Sebastião do Caí têm mais habitantes que os outros 16 e nós estamos bem no meio deles”, aponta. Ele cita ainda a proximidade do município com importantes rodovias, como a BR-386 e a RS-122, como um fator que pode auxiliar a desenvolver ainda mais a cidade.

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