Professora Leani defende o conhecimento dos colonizadores
Na semana dos 200 Anos da Imigração Alemã no Brasil, uma verdade deve ser evidenciada: os colonos não eram ignorantes. Ao longo dos anos se tornou comum dizer que aquelas pessoas não falavam uma Língua Alemã culta e que o idioma falado hoje aqui é dissonante daquele do país europeu. A verdade é que no Brasil predomina uma língua germânica derivada da reoão do Hunsrück, um dialeto com 1.500 anos, reconhecido e disseminado por diversas nações da Europa, chamado de Hunsrückisch.
Um dos defensores desta verdade é filha de Brochier, nascida na comunidade rural Batinga – quando ainda era tudo Montenegro – e que hoje é profunda pesquisadora desta história: a professora e escritora Leani Veiga Koppe. Sua primeira observação é que o Hunsrückisch evoluiu de dialeto à Língua, ao ter escrita oficial.
Sob o nome de “Platt”, é a Língua oficial de Luxemburgo, falado ainda na Alsácia-Lorena e sendo denominada de língua regional. “Também é falado em vários outros países, como Holanda, Thecoslováquia”; e na Alemanha em 4 estados: Rheinland Pfalz, Nord Rheind/Wesfália, Saarland e Hesse. Na Europa Central, está presente no Norte da França e, no Leste Europeu, chegou à Ucrânia. A professora assinala ainda que no Brasil é 2ª língua mais presente, com 3 milhões de falantes.
Montanhas dão origem ao Hünsrik
O nome faz relação a “cão” (hund), o que também serviu para difamar os imigrantes. A docente explica que o significado é “língua do Hünsrik”, se referindo aquela que é falada na região chamada de Hunsrück. Esta é um contorno de planalto, localizada no estado da Renânia-Palatinado (Central), no centro-oeste da Alemanha, cercada por rios.
Uma das versões para sua provável denominação é a forma de seu relevo, que lembraria o ‘dorso de um cachorro’. Assim, não há relação com a pobreza ou baixa instrução daqueles agricultores, sapateiros, marceneiros e outros trabalhadores que desembarcaram em São Leopoldo.
A contribuição de Lutero
Há informações que devem ser consideradas ao falar do assunto. Primeiro, os imigrantes vieram de uma região diferente da Alemanha atual, que só passou a existir como país em 1871, por isso é mais correto se referir aos colonos como pessoas “de língua alemã” (informação da Deutsche Welle Brasil). A segunda, é que uma língua sofre variações ao longo dos anos, com influências na pronúncia e adesão de palavras.
Professora Leani assinala que a língua nacional do país surgiu no Século 16 e foi consolidada somente no 18, com definição de uma ortografia. Aponta ainda que muito se deve ao trabalho do teólogo Martin Lutero (Eisleben; 1483 – 1546), que defendeu a alfabetização da classes baixas do povo, inclusive para terem o direito de ler a Bíblia.
O próprio foi um dos principais tradutores, do Novo Testamento, do grego antigo (usando traduções latinas como auxílio) e do Velho Testamento, do hebraico antigo e do aramaico (com outros teólogos e linguistas), ambos do antigo ‘alto alemão’, revela reportagem da Deutsche Welle Brasil.
Estes acontecimentos datam de 1522 e 1534 (marcando início da alfabetização do povo), e as famílias foram trazidas por Dom Pedro I em 1824. “Ir à escola era muito importante para os imigrantes alemães” reforça Leani.
Uma língua culta era restrita
Em suas leituras, a professora Leani descobriu que não há isso de uma língua alemã refinada, sendo que escrita e leitura – com diferenças das contemporâneas – eram restritas a alguns nobres. A docente pontua que o Hunsrückisch foi um dialeto entre cerca de 20 falados na região que inclui a atual Alemanha; sendo que hoje ainda é falado em quatro estados: RheinlandoPfalz, Nord Rheind/Wesfália, Saarland e Hesse.
Por experiência própria, afirma que um falante brasileiro da Hunsrückisch consegue se comunicar muito bem em regiões sul e sudoeste da Alemanha, mas encontraria um pouco de dificuldade ao viajar para o norte. Ainda segundo a professora, no Brasil essa é 2ª língua mais falada, com 3 milhões de falantes, sendo que o termo ‘dialeto’ foi extinto por Decreto Federal. O idioma tem a padronização da escrita e várias obras já foram traduzidas para o idioma, como “O Pequeno Príncipe”.
Aqui é “Riograndenser Hunsrückisch”
No Brasil há dois estudos em andamento. Um tem coordenação da professora Solange Johann Mamester, pela Sociedade Internacional de Linguística (SIL) e parceria da Unesco. Essa frente inclui a capacitação de docentes e aula aos jovens; tem diversas publicações e participação em feiras literárias na Alemanha. “Nosso objetivo é manter a Língua, a identidade e a cultura do nosso povo vivos através do ensino para crianças”, declara Solange.
Outro é realizado na UFRGS, sob orientação do professor Cleo Altenhofen, que resultou no “Inventário do Hunsrückisch como Língua Brasileira de Imigração (IHLBrI)” (2017/ 2018), com o Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Linguística (IPOL); Iphan e Atlas Linguístico-Contatual das Minorias Alemãs na Bacia do Prata: Hunsrückisch (ALMA-H).
Há o objetivo de introduzir a Hunsrückisch no “Inventário Nacional da Diversidade Linguística” (INDL), com reconhecimento de “patrimônio cultural imaterial” sendo somada às atuais sete línguas da Referência Cultural Brasileira. Aqui no estado é designada “Riograndenser Hunsrückisch” e no Brasil chamada de “hunsriqueano”.