Do sonho de iniciar à determinação de concluir

EDUCAÇÃO. Nas aulas do EJA, mães e filhos aprendem e ensinam juntos

Em 2025 o Município de Brochier percebeu a necessidade de ampliar o acesso à alfabetização e à conclusão do Ensino Básico por meio do EJA – Educação de Jovens e Adultos. A decisão se mostrou acertada, diante da procura significativa de 35 cidadãos para 3 turmas do 1º ao 9º Ano, abertas na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Leonar Ricardo Bauer. O sistema compreende em cursar um Ano Letivo em um semestre e com aulas em apenas 3 dias da semana, focado em pessoas com mais idade que pretendem retomar aos estudos. Mas Brochier repete a realidade vista em outras cidades, de jovens que necessitam desta oportunidade.

A diretora, Jurema de Lurdes Souza, defende o programa, assinalando que os alunos aprendem mais do que Matemática e Língua Portuguesa. Eles saem das aulas com a auto-estima, ao receber o simples dom de sentar para ler um livro; além do convívio social com pessoas de fora do seu ciclo cotidiano de amigos. “Para que vejam novos horizontes”, assinala. Em relação aos jovens, a professora destaca a oportunidade de alcançarem uma qualificação para o mundo do trabalho.

Mundo no qual já estão João Paulo de Mattos Santos, concluindo o 9º Ano, e Gabriel de Jonhan Rech, concluindo o 6º Ano do Fundamental. Além da idade de 15 anos, também coincidem na história de vida, tendo largado a escola diurna para ajudar a família trabalhando em carvoaria. “Eu dizia para minha mãe que não queria ir pra aula, e ela me colocava para trabalhar”, recorda João Paulo, que hoje trabalha em restaurante.

Devido à necessidade, ambos tiveram as notas prejudicas pelo excesso de faltas. Então, Gabriel agradece a oportunidade de estudar à noite e manter o emprego de dia. “Eu já tinha que estar no primeiro ano do Ensino Médio”, lamenta.

Mãe e filho: colegas de escola

Neste clima de fortalecimento mútuo, as salas da Leonar testemunham também mãe e filho retomando os estudos. Três noites por semana, Kauã Fernando Pacini Pinheiro, 20 anos, e Meri Cristina Pacini, 55, deixam Morro Paris juntos. Ele para concluir o Fundamental (8º e 9º) e ela as Séries Iniciais (4º e 5º). Neste caso, se inverte o papel, e o jovem é incentivado pela mãe.

Kauã abandonou a escola na adolescência, enquanto Meri tinha o desejo de retomar o aprendizado que largou na infância. “Eu disse, ‘filho, a mãe também quer estudar’, porque parei na quarta série para ajudar meus pais, então disse, ‘vamos lá, vamos nós dois”, recorda a mãe. Sorridente, Meri destaca a felicidade que a iniciativa do EJA lhes trouxe. Com alfabetização básica, ela decreta que quer aprender mais e mais, completar o Fundamental e talvez até o Médio.

Um motivador foi a vergonha que sentia ao responder que tinha apenas 4ª série. Kauã é mais seguro, pois, mesmo fora da escola, lia muito, buscava conhecimento e estruturou opiniões próprias. “Quero estudar para ter mais recursos, conseguir um emprego melhor”, define. Mas admite que o exemplo da mãe, de tomar a frente para se matricularem, foi decisivo. “Foi bem positivo, pois, pra fazer isso na idade dela, tem que ter muita coragem”, declara.

Meri fez de sua vontade motivação para o filho Kauã completar os estudos

Mãe e filha: aluna e professora

A Educação de Jovens e Adultos é permeada por essas histórias de força de vontade, e que em Brochier recebe ainda o afeto entre mães e filhos. A aluna mais idosa neste semestre, Eva Lucilda Borba, de 73 anos, encontra na escola a filha Luciana Borba, 50 anos, professora de Ciências que leciona as Sérias Finais (6º ao 9º), e que foi sua grande incentivadora. “Nunca sentei em um banco escolar”, revela a idosa.

Em tempos ainda mais difíceis na localidade de Bom Jardim (hoje de Montenegro), Lucilda teria que caminhar 7 quilômetros até a escola, saga que os pais acharam perigosa para uma menininha. Aos 11 anos ainda precisou dar assistência ao pai, que havia adoecido, restando o estudo em casa. “Minha madrinha Doralice me ensinou”, recorda. Sabendo ler e escrever, ela ingressou nas Séries Iniciais com nível de 3º Ano, e há expectativa de vê-la na turma da filha. “Eu tinha o sonho de estudar; e só estou aqui por causa da Lulu”.

Quando soube que haveria EJA na cidade a filha, logicamente, ficou empolgada para ver a mãe indo pra escola. “Eu sabia que era um sonho para ela estar na sala de aula, com a professora e os colegas”, relata a professora Lulu. Ela valoriza a iniciativa da mãe, pois a própria, por motivos de saúde, estudou em casa e tardiamente ingressou no meio escolar, completando o Fundamental com 22 anos e a faculdade de Ciências Biológicas aos 30.

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