192. Serviço de Atendimento Móvel de Urgência enfrenta uma grave crise, mas continua atendendo as comunidades
Gestante de cinco meses, 35 anos, com sangramento, na cama. No quarto, o marido angustiado acompanha o trabalho do técnico em Enfermagem do Samu, que rapidamente avalia o quadro da mãe e já busca reanimar o bebê, que estava morto. Em questão de segundos, o quadro muda. A mãe anuncia que o outro está nascendo. São gêmeos e o técnico volta as atenções para salvar o outro prematuro que está a caminho. É uma menina. Chega a equipe com a unidade avançada e auxilia na remoção para o hospital.
Esse é apenas um dos milhares de relatos verídicos da equipe do Salvar Samu, que neste dia 14 de março completa 11 anos de atividades em Montenegro.
Fica até mesmo difícil de imaginar como esses atendimentos eram realizados antes. “Viaturas dos Bombeiros, da Brigada e o S.O.S Unimed ajudavam as pessoas. Muitos carros particulares, de vizinhos também. De um hospital para outro, a remoção eram feita pela prefeituras”, lembra a enfermeira, responsável técnica pelo serviço, Valdinéia Druzian de Moura, que está lá desde o primeiro dia.
No Serviço Móvel de Atendimento de Urgência (Samu) de Montenegro são cinco pessoas por turno de 12 horas. Atendem, em media, 200 casos/mês entre zona urbana e rural do município, além de Capela de Santana, Tabaí e Triunfo. Nos dois últimos casos, os contratos foram realizados recentemente.
“Com Tabaí, foi firmado no ano passado e, em Triunfo, as Secretarias Municipais de Saúde das duas cidades estão finalizando a formalização do contrato”, aponta a enfermeira.
São duas ambulâncias, uma básica e outra avançada, que já foram substituídas em 2012 e a expectativa é de que sejam renovadas ainda este ano. Na básica, deslocam-se um motorista e um técnico, enquanto que, na avançada, vai equipe completa com médico, enfermeiro além do motorista. Por ser uma UTI móvel, a viatura também possui equipamentos para atender casos mais complexos.
O Serviço é mantido através de gestão compartilhada entre município, Estado e Governo Federal. “Até ano passado, funcionava bem. Desde que o Estado deixou de fazer os repasses, começaram os atrasos. Hoje o município é quem está cobrindo”, relata a enfermeira. Assim como os demais colegas, ela ainda não recebeu os vencimentos relativos ao mês de fevereiro e espera por parte do pagamento de janeiro. Os contratos também não foram renovados.
“Mesmo assim, a equipe está de prontidão, cada um no seu turno”, pontua.
Os atrasos nos repasses para o Samu ainda obrigaram a equipe a colocar uma viatura um pouco mais antiga em operação. “Por falta de manutenção nas demais, a reserva está em funcionamento”, explica Valdineia.
Localização dos endereços é uma dificuldade
Desde que o Samu entrou em funcionamento, muita coisa mudou. No início, os motoristas não davam sequer passagem para as ambulâncias. Uma das queixas que ainda persistem é a demora nos atendimentos. Quem liga para o 192 é direcionado para a sala de filtragem dos casos em Porto Alegre. “É essa a demora. Nós saímos tão logo recebemos o chamado. Também podemos avisar a central caso sejamos acionados pelos Bombeiros, Brigada e pelas polícias rodoviárias. Nos demais casos, tem que ligar para o 192”, afirma a enfermeira chefe do Samu, Valdinéia Druzian de Moura.
No caminho de quem presta os atendimentos domiciliares, existem ainda muitos percalços, principalmente na zona rural. “São áreas distantes, às vezes sem sinal de telefonia móvel e nem sempre as pessoas nos passam o endereço corretamente. Dizem ‘é na rua do bar do fulano… ou é passando a segunda porteira aberta’.
Entendemos que eles estão com pressa, mas nos dar todos os dados detalhadamente ajuda no nosso deslocamento. Temos os mapas para nos auxiliar, mas não dá para sair assim, sem ter certeza”, destaca a enfermeira.
Pai de dois filhos com idades entre sete e três anos, o técnico em Enfermagem José Carlos Rodrigues Nessy estava de plantão durante o chamado da gestante com gêmeos prematuros. “Me marcou muito, pois essa situação resume todo nosso trabalho…tem a aflição dos familiares, a luta pela vida, justo onde ela começa. A dor da perda. Chorei muito naquela noite”, revela. A chance de sobrevivência de um prematuro de cinco meses em um hospital com toda a estrutura e suporte médico já é remota. “Em casa, não teria nem como dizer quais as probabilidades de manter essa vida”, aponta Nassy.
O caso ocorreu há três meses e, de lá para cá, não houve mais notícias desta família. “Nós fazemos o primeiro atendimento e não damos acompanhamento”, diz o técnico. Mas esta semana, por acaso, Valdineia encontrou com um dos familiares e dividiu a boa nova com toda a equipe. Mãe e filha tiveram alta do Hospital de Lajeado há cerca de 10 dias. “Fiquei tão feliz que não tenho palavras para descrever o que a gente sente”, diz a profissional, que nos últimos 11 anos se dedica ao Salvar Samu.
SAIBA MAIS
O Samu 192 deve ser acionado nos seguintes casos:
– Acidentes/traumas com vítimas;
– Choque elétrico;
– Falta de ar intensa;
– Suspeita de Infarto ou AVC (alteração súbita na fala, perda de força em um lado do corpo e desvio da comissura labial);
– Engasgo;
– Queimaduras graves;
– Trabalhos de parto em que haja risco de morte;
– Tentativas de suicídio;
– Urgências psiquiátricas;
– Vítima inconsciente;
– Intoxicação/envenenamento;
– Crises hipertensivas;
– Dores súbitas no peito;
– Crises Convulsivas.