Música: um estimulante mental e físico

Não importa o gênero, ouvir música não serve apenas para entretenimento ou momentos de prazer. A ação é considerada uma das melhores opções para lidar com as emoções, além de induzir ao movimento, promover o autoconhecimento, melhorar a comunicação, diminuir os sintomas da depressão, fortalecer a memória e até mesmo amenizar dores, entre outros tantos benefícios para a saúde física e mental.

Ouvir música pode ajudar o corpo e a mente, equilibrar emoções e favorecer momentos de autocuidado. Isso acontece porque o som ativa o centro de prazer do cérebro, assim como o sexo e o chocolate, por exemplo. Ela libera dopamina, causa uma sensação de bem-estar e, por isso, tem sido usada por médicos, terapeutas e preparadores físicos como tratamento de diversos problemas, trazendo ótimos resultados. Ao longo da história ela esteve presente e influente nas sociedades. Tão antiga quanto o homem, a música primitiva era usada para exteriorização de emoções.

Danuzia Silva, psicológa montenegrina. Foto: arquivo pessoal

A psicológa montenegrina Danuzia Silva explica que a melodia, ritmo e o compasso são elementos que fazem com que a música seja importante como acalento, ou até mesmo um despertar. Segundo ela, as ondas sonoras exercem atividades sobre o corpo, além de fazer um resgate de diferentes sensações que mudam a cada pessoa. “Existe um conceito que chama pulsão invocante. É uma pulsão em que o objeto é a voz. Depois de nascer, recebemos um banho de linguagem, que inclui a sonoridade, musicalidade e também o tom da voz de quem nos cuida. Isso é a forma como se comunicam com o bebê, as canções cantadas, os sons que emitem e o tom da voz”, afirma.

A música também pode interferir diretamente no humor das pessoas, mas depende da relação da pessoa com o som, período ou fase da vida em que se encontra e até mesmo se está sozinha ou acompanhada. Isso pode vir a trazer lembranças e sentimentos, como conflitos, lembranças agradáveis ou não, saudade, amor ou até mesmo raiva. A exemplo disso, lembre-se do bebê que dorme mais tranquilamente com a canção de embalar da mãe ou crianças que saltam e dançam quando ouvem suas canções favoritas. Assim, é notável que o corpo reage às vibrações dos sons e após são despertadas emoções que interferem no funcionamento do organismo.

Danuzia diz que a música auxilia diretamente na nomeação de sentimentos e emoções. “Acredito que a música possibilita um resgate de algo dentro de si, que pode ajudar de muitas maneiras. Não é a música isolada, e sim o que ela representa e afeta”, salienta. Ela ainda pontua que muitas pessoas são ecléticas nos gostos musicais porque existem diversas possibilidades de relações entre experiências de vida e a música. “A música pode ser motivacional, estimulante, te acalmar, e te ajudar a controlar impulsos. Existem músicas que lembram a família, casamento, funeral, amigos, infância, tristeza, felicidade, da melhor balada e do namoro, por exemplo”, argumenta.

Foto: istock

Sensações são retomadas a partir da escuta das músicas
Cristina Rolim Wolffenbüttel, coordenadora da especialização em educação musical e professora de música da UERGS, destaca que a música tem extrema importância no desenvolvimento do ser humano. Ela cita o antropólogo Allan Merriam, que tem um livro sobre usos e funções da música. Dentre as ideias, ele destaca que permite a expressão emocional, fornece prazer estético, diverte, comunica, valida instituições sociais e ritos religiosos e contribui para continuidade das culturas. “A música integrada na vida das pessoas ajuda no próprio desenvolvimento de cada um. Se eu estou ouvindo ou produzindo uma música, isso vai reverberar em mim, seja no aspecto psíquico ou no corpo como um todo. A música está em nossa vida”, argumenta.

Cristina Rolim Wolffenbüttel, coordenadora da especialização em educação musical e professora de música da UERGS. Foto: arquivo pessoal

Cristina afirma que o corpo humano produz diversas sonoridades, que também são essenciais. Além disso, as relações podem ser desenhadas através da música. “Ela é extremamente importante na vida das pessoas como outras formas de relação social, como muitas vezes escutamos em conjunto, então ela se dá nesta relação que se estabelece entre as pessoas e as músicas”, salienta.

O ser humano tem um repertório musical em sua mente, com base naquilo que cada um escuta ao longo da vida e que, muitas vezes, tem relação com fatos pelos quais cada um passa, sejam bons ou ruins. “Por isso, ao ouvir a música, voltamos para aquele momento que nos trouxe alegria ou tristeza. Sensações são retomadas a partir da escuta.” Cristina enfatiza que, por ser tão importante, a música é um direito das pessoas e tem que estar nas escolas para melhor desenvolvimento de crianças, jovens e adultos.

Relação da música com os exercícios físicos
O montenegrino Leonardo Dias, além de músico, é profissional de Educação Física. Como um amante de suas duas profissões, Leonardo reitera os tantos benefícios da música com suas experiências pessoais. Os exercícios físicos, sejam realizados em ambiente aberto, como caminhadas, ou em academias, espaços mais fechados, têm grande ligação com a música. Leonardo afirma que, da mesma forma que a música tem a capacidade de acalmar, também tem de estimular e facilitar a prática do exercício, principalmente em atividades cíclicas, onde o ritmo da música se sincroniza com os movimentos. Praticante da musculação, Leonardo aponta que todos os dias, durante os treinos, a música faz parte da rotina, seja no fone de ouvido ou o som da própria academia.

Leonardo Dias, músico e profissional de Educação Física. Foto: arquivo pessoal

“A música pode dar ritmo ao exercício físico, além de contribuir na melhora do desempenho e diminuição da percepção da dor e cansaço no praticante, desde que seja uma melodia agradável aos ouvidos de quem escuta, pois do contrário, pode não gerar os mesmos efeitos”, ressalta. Ele explica que, em geral, músicas de ritmos fortes são capazes até mesmo de aumentar a frequência cardíaca. “Não consigo imaginar um mundo sem música. Ela faz parte de quase tudo e seus benefícios são inúmeros. Ela desperta sensações e sentimentos, compõe e dá característica para culturas e etnias, e ainda serve como estímulo mental e físico”, acrescenta.

Leonardo salienta que o gênero musical é apenas um detalhe. “Sem dúvida a música pode ser estimulante. Conheço pessoas que só conseguem fazer um treino bem feito escutando algum tipo de música. Quando se trata de gênero musical, depende do gosto de cada um. Há aqueles que escutam rock, eletrônicas e até mesmo pagode, sertanejo e funk”, destaca.

Saindo um pouco da área da Educação Física, Leonardo diz que a música sempre fez parte da sua vida. “Tanto é que em minhas lembranças tenho diversos momentos ou situações relacionadas com alguma música em específico. Minha infância foi bem estimulada com sons”, pontua. “Lembro que, em casa ou no carro, meus pais sempre faziam questão de colocar alguma melodia para tocar, talvez isso tenha me ajudado a desenvolver alguma percepção musical.”

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