Familiares de Aline Gonçalves relatam que a sua morte teria sido causada por não atendimento da SMS e da Samu
A morte de Aline Gonçalves, de 35 anos, gerou polêmica na última semana em Montenegro. Os familiares e amigos acusam negligência por parte da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) e do Samu. Já o Samu aponta que a jovem não tinha indicação de transporte no momento do atendimento e SMS relata estar em busca de mais informações sobre o caso.
Segundo a família, a diarista Aline estava há dias sentindo fortes dores de cabeça, o que a atrapalhava no trabalho e em casa. Entretanto, após procurar ajuda na Secretaria da Saúde, seu atendimento foi negado. “A gente levava na assistência, e como ela não tinha identidade a gente não conseguia (atendimento). Só que ela tinha o cartão do SUS, e com isso as gurias não deixavam, eu até discuti uma vez com elas, mas não adiantou nada”, explica a filha mais velha, Lidiane Gonçalves, de 19 anos.
Lidiane conta que Aline perdeu os documentos e não houve tempo hábil para refazê-los. “Mesmo se ela não tivesse nenhum documento, é um absurdo não atender”, diz o marido, Iago Cardoso.
No dia 3 de julho, Aline jantou com a família e foi dormir na casa do companheiro. Foi nesta madrugada que passou mal e faleceu. “Ela foi lá pra casa no sábado de noite, e ela estava feliz e tudo. Ai deu cinco horas e ela começou a sentir uma dor forte no rim”, conta Iago. Ele e a mãe chamaram então a ambulância.
“Eles (Samu) examinaram ela, e como ela tinha tomado um vinho eles disseram que era reação do vinho. E no horário que eles estavam atendendo ela pediu socorro, ela disse: ‘me leva pro hospital que eu to tendo um infarto, eu vou morrer’, ela pediu ajuda, e eles disseram que não precisava levar”, fala Simone Cardoso, mãe de Iago. De acordo com os familiares, Aline havia tomado apenas uma taça de vinho.
Iago relata que a equipe examinou Aline, ligou para a médica que falou que não era necessário levar. “Eles disseram que ela ia dormir, ia vomitar e ficar bem. […] O rapaz ainda debochou, disse que ela tinha que parar de beber”, diz.
Após a equipe ir embora, a família relata que Aline adormeceu, e por volta das nove horas da manhã perceberam que ela não estava mais viva. “Eu fiquei ali três horas com ela, porque eu achei que ela estava viva. Ele (técnico) falou que ela estava dormindo. Ai quando era nove horas eu senti que ela já estava muito fria, e chamamos de novo, mas foi só pra dar o óbito”, relembra o esposo. De acordo com a autópsia realizada, Aline teve um derrame cerebral.
“A gente quer uma resposta, porque não é certo o que fizeram. Ontem foi com a minha mãe, mas amanhã pode ser com a mãe de outra pessoa. E isso dói, talvez ela poderia estar aqui”, reflete Lidiane. Aline também deixa um filho de 16 anos e uma filha de três anos, além de familiares e amigos.
Samu: Aline não tinha indicação de transporte
Em contato com o Samu, a reportagem do Ibiá foi informada que não houve erro técnico e que foram seguidos os protocolos do serviço. “Pelos dados que ele (técnico) passou na hora, do que estava vendo, os sinais estavam estáveis e não tinha nenhuma alteração aparente que levasse a conduta de transportar ao hospital naquele momento”, diz a responsável técnica da equipe de enfermagem do Samu, Valdinéia Druzian.
Valdinéia explica que o atendimento ocorre da seguinte maneira: “o serviço é acionado e dependendo do que a família fala, o médico regulador de Porto Alegre define qual das ambulâncias que vai, se com ou sem médico, e nesse caso foi definido que fosse a sem médico. O técnico faz toda a avaliação, vê os sinais vitais, conversa com os familiares e passa todas essas informações para o médico de Porto Alegre. E o médico de lá é quem passa a conduta, o que ele tem que fazer”.
A responsável técnica não quis expor os detalhes do chamado, mas ressaltou que não correu da maneira relatada. “Com certeza não foi culpa da Samu. Porque naquele momento ela não tinha indicação de ser transferida para o hospital, não digo que uma hora depois não fosse; se uma hora depois eles achassem necessário chamar de novo talvez tivesse alterado o quadro e aí sim fosse o caso de trazer, mas no momento não era”, fala. Ela ainda ressalta que diferente do que está circulando nas redes sociais, a equipe “não virou as costas e ocorreu o óbito”, mas houve horas até falecimento.
Sobre a conduta do técnico sobre a bebida, Valdinéia não acredita que a intenção teria sido “debochar”. “Eu acredito que os familiares, amigos e todos estão consternados com a situação, qualquer um, eu acho, estaria consternado; só que culpar as pessoas por isso não é o caminho. Foi uma fatalidade”, completa.
Prefeitura está apurando os fatos
Segundo a Administração Municipal, no momento se está buscando esclarecimentos sobre a morte de Aline Gonçalves. A secretária municipal da Saúde, Cristina Reinheimer, relata que não há registros oficiais de sua passagem pela estrutura de pronto-atendimento nos dias que antecederam ao falecimento.
“Ficamos sabendo, através da imprensa e das redes sociais, que ela teria procurado os serviços médicos da Secretaria e, por não estar com a Carteira de Identidade, o atendimento teria sido negado. De fato, a apresentação do documento é requerida porque o Cartão SUS não possui fotos e é preciso garantir que seu uso seja correto”, explica a secretária. Contudo, Cristina cita que toda a equipe é orientada a usar o bom senso para que alguém com sintomas de algo mais grave não seja prejudicado. “Diariamente, são acolhidas na policlínica 24 horas, cerca de 100 pessoas. Esse número demonstra o permanente compromisso do Município com a população que depende dos serviços gratuitos oferecidos através do Sistema Único de Saúde”, disse a pasta em nota.
Cristina explica que está tentando conversar com familiares de Aline para buscar mais informações. “Lamentamos muito o que aconteceu e certamente vamos apurar os fatos para dar uma resposta à família e à comunidade”, assegura. A secretária conclui informando que está solicitando ao prefeito Gustavo Zanatta a abertura de uma sindicância.