Envelhecimento começa a ser decidido na juventude

Dados do IBGE confirmam o aumento na expectativa de vida e, no Rio Grande do Sul, a média já alcança 77,8 anos

A expectativa de vida está cada vez maior e os gaúchos se destacam por viverem acima da média do país. Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) demonstram que no Rio Grande do Sul se vive, em média, 77,8 anos, enquanto que, no Brasil, a média é um pouco menor, ficando em 75,8 anos.

O Rio Grande do Sul é o quarto estado com maior expectativa de vida. O primeiro é Santa Catarina, com 79,1 anos, enquanto o último do ranking é Maranhão, com média de 70,6 anos. Os dados apurados se referem a 2016 e representam aumento significativo em comparação com o ano de 2000. Naquele ano, a esperança de vida ao nascer era de 68,6 anos no Brasil e, entre os gaúchos, era de 72,4 anos.

Ao avaliar esse aumento, o médico clínico geral Dirceu Mauch observa que, individualmente, a genética influi, e isso explica por que pessoas em condições de vida iguais têm diferenças em longevidade. Ele, no entanto, acrescenta que o estilo de vida adotado também tem um peso importante. “É na mocidade que começamos a definir o modo como queremos envelhecer, e até mesmo morrer”, afirma. “Mas, acima de tudo, a qualidade e facilidade de acesso aos serviços de saúde, e as condicionantes sociais são o que há de mais importante do ponto de vista coletivo e populacional”, afirma.

Nesse contexto, o médico cita alimentação, moradia, saneamento básico, trabalho, renda, educação, transporte e lazer, entre outros. “São condicionantes que tem tudo a ver com redução de morbidade e mortalidade materno-infantil, e com aumento de expectativa de vida”, acrescenta.

Para Mauch, não há dúvidas de que são estes os aspectos que colocam o Rio Grande do Sul entre os primeiros e com média acima da verificada no país. “E os países mais pobres tão distantes dos mais ricos e desenvolvidos”, analisa. Ele menciona dados que reforçam o aumento na expectativa de vida. “Não é raro pessoas afirmarem que antigamente se vivia mais”, afirma. O médico acrescenta, no entanto, que essa afirmação está longe de ser verdade. Embora existissem pessoas que vivessem muito, a média era bem inferior a verificada atualmente.

No auge dos impérios grego e romano, se vivia em torno de 30 anos. Em 1855, a vida média na Alemanha era 37,2 anos, mas, em 1900, a vida média na Europa já era 45 anos. Mauch cita ainda um dado que considera curioso. “Há poucos anos, em Andorra (na Europa), a expectativa de vida era de 83,5 anos, enquanto que, em Botsuana, na África, apenas 30,9 anos”, compara. “Vemos, portanto, que a expectativa de vida, de modo geral, vem aumentando muito com o passar dos tempos, embora de modo muito desigual entre diferentes regiões”, constata o profissional da Medicina.

Mulheres vivem sete anos mais que homens
As estatísticas do IBGE confirmam que as mulheres vivem mais do que os homens, chegando à média de 81,1 anos, no Rio Grande do Sul. Enquanto isso, a expectativa de vida deles é de 74,1. Nessa diferença, o médico Dirceu Mauch observa alguns fatores que influenciam. Entre eles, o fato de se preocuparem mais com a saúde.

“Fazer consultas e exames anuais, especialmente de prevenção em ginecologia, há bastante tempo faz parte de sua rotina”, observa. “E os homens, só há pouco tempo e de forma bem mais tímida, procuram o médico para fazer o tão temido exame de próstata”, compara. O médico observa que é muito comum que a mulher consulte por iniciativa própria e desacompanhada do parceiro. Já os homens, se estiverem sozinhos, confessam que só foram pela insistência da parceira.

Em sua avaliação, porém, Mauch faz referência a outros fatores que também influenciam para que as mulheres vivam mais. Ele cita características diferentes entre eles e elas. “Não só anatômicas, mas também funcionais, desde as diferenças cromossômicas, passando pelas hormonais e outras tantas”, resume.

E há outro fator, mais recente, que contribui para a longevidade das mulheres. Mauch cita as mortes em decorrência da violência. E aí lembra as provocadas por acidentes de trânsito, mas principalmente os homicídios. Nestes casos, ele percebe que os homens figuram mais entre as vítimas, e principalmente os jovens.

O que fazer para viver mais e melhor?
O médico Dirceu Mauch afirma que tratar doenças é incumbência dos sistemas de saúde, sejam públicos ou privados. “Mas cuidar da saúde é uma tarefa individual e indelegável de cada um, ninguém pode fazer isto pelo outro”, acrescenta.

Dirceu Mauch oferece conselhos preciosos

Ele observa que, com o acesso facilitado à informação, cada vez mais as pessoas sabem o que fazer para viver mais e melhor, mas que é preciso transformar esse conhecimento em motivação para agir. Mauch afirma que não há dúvida de que a expectativa de vida é cada vez maior, mas não basta viver mais. “É preciso querer viver bem”, observa. “Dar vida aos anos, e não apenas anos à vida.”

Em relação ao crescente aumento do número de pessoas idosas, ele pondera que muito mais importante do que o envelhecimento saudável é manter-se ativo. E acrescenta que quanto mais cedo se começar a “mentalizar e a praticar ações com esse objetivo”, melhores serão os resultados.

POR QUE VIVEMOS MAIS?
Vacinação – Já conseguiu eliminar do mundo doenças como varíola e reduzir dramaticamente outras tantas.
Alimentação saudável – Em decorrência do estilo de vida moderno, da correria e da falta de tempo, as pessoas estão cada vez mais consumindo alimentos processados, com todos os seus aditivos químicos, como conservantes, corantes, edulcorantes, entre outros. E muitos dos alimentos consumidos in natura são cultivados com uso de produtos químicos, incluindo agrotóxicos.
Atividade física – A modernidade nos oferece cada vez mais equipamentos que fazem quase todo o esforço, no trabalho e na vida diária, para o qual nosso corpo foi programado. Automóveis, elevadores, guindastes, máquinas e controles remotos, entre outros “auxiliares permanentes”. Juntos, desvios alimentares e sedentarismo são os principais responsáveis pela epidemia de obesidade, com toda sua repercussão sobre as mais diversas doenças crônicas não transmissíveis.
Fumo, álcool e drogas – O consumo exagerado de álcool, o fumo e as drogas, impactam sobre a saúde física ou o desempenho pessoal e social de seus dependentes.
Trânsito – Embora todas as medidas legais e de conscientização, a imprudência ainda cobra um preço muito elevado em vidas e deixa sequelas definitivas e incapacitantes.
Violência interpessoal – Essa é ainda pior do que o trânsito, a grande responsável por perda de vidas, especialmente em homens jovens, e afetando a qualidade de vida nas grandes cidades ou nas pequenas comunidades, pela insegurança em que se vive.
Sexo seguro – A prática sexual desprotegida aumenta o risco de doenças sexualmente transmissíveis, ainda com elevados riscos de mortalidade e cronicidade, além de gravidezes não planejadas, especialmente em jovens.
Exames preventivos – São importantes porque muitas doenças ou fatores de risco, por um bom tempo, podem cursar de forma assintomática. Só poderão ser diagnosticados por uma consulta médica e por determinados exames. Mas é importante lembrar que não é fazendo vários exames, sem critérios ou protocolos, que se está cuidando da saúde. Conforme o médico Dirceu Mauch, existe muita fantasia a respeito, por parte de muitas pessoas, que chegam à consulta pedindo “todos os exames”. Esses devem ser precedidos pelo interrogatório médico, em que se deve levar em conta sexo, idade, antecedentes familiares e pessoais, hábitos de vida, entre outros aspectos. “Atirar para todos os lados e sem pontaria não garante nenhum resultado”.

*Dicas e orientações apresentadas pelo médico Dirceu Mauch

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