Todo mundo que faz dieta já ouviu falar da expressão “dia do lixo”. Alguns acreditam ser ele o – ou um dos – responsável pela manutenção do plano alimentar, afinal, ninguém aguenta seguir regras rígidas o tempo todo, sem jamais comer algo fora do cardápio. Por outro lado, há quem faça mais dias de lixo do que de boa alimentação. E aí, no descontrole alimentar, os objetivos da dieta é que vão parar no lixo.
A nutricionista Pâmela Kranz diz que é necessário atenção para não tratar nenhum alimento como “lixo” ou “milagroso”. Eles não existem. Esse tipo de rótulo serve apenas para contribuir no desenvolvimento de transtornos alimentares, afinal interfere diretamente na relação que cada um tem com os alimentos. “Tudo dependerá do momento, da quantidade e situação onde cada alimento deve ser consumido ou evitado, por cada um de nós”, diz ela.
Já o “dia do lixo” existe em muitas rotinas alimentares e é um perigo. “Se deixarmos que o “dia do lixo” exista, estamos perdidos”, brinca, citando àqueles que não sabem se controlar frente a alimentos calóricos ou que estão precisando reduzir bastante a gordura corporal.
No consultório, Pâmela utiliza com seus pacientes o termo “refeição livre” ou “refeição do lixo”. O principal objetivo da refeição livre é promover uma reativação metabólica, promovendo o aumento da leptina – hormônio peptídico, que age diminuindo o apetite e aumentando o gasto energético – que fica deprimida pela restrição calórica.
Quando alguém segue 100% uma dieta restritiva por longo tempo, pode sofrer consequências metabólicas, como alterações hormonais. Ocorre aumento do cortisol, conhecido como hormônio do estresse, que por sua vez induz a redução do hormônio leptina.
A leptina é produzida no tecido adiposo (de gordura) e controla o metabolismo energético como um “termômetro”. Um dos mais importantes efeitos da leptina é favorecer a oxidação (“queima”) de gorduras. “Quando nos submetemos a uma dieta hipocalórica durante muito tempo, os níveis de leptina caem de forma crônica, e nosso metabolismo fica mais lento”, diz Pâmela, esclarecendo a importância de refeições calóricas também serem programadas.
Porém, isso se refere a indivíduos regrados, que não saem da linha nunca e seguem todo o plano alimentar conforme a prescrição do nutricionista. Aqueles indivíduos que estão começando a mudar os hábitos alimentares, que possuem alguma patologia, ou que precisam de um resultado maior, ou, ainda, uma redução de gordura corporal significativa, o recomendável é que fiquem, pelo menos os 30 primeiros dias, seguindo 100% o plano alimentar, sem refeição do lixo.
Os benefícios dessa refeição fora do padrão vão além da questão física. “Não podemos negar que além da questão hormonal, a refeição livre também serve como uma ‘válvula de escape’ psicológica para quem segue uma dieta restrita por muito tempo”, esclarece a especialista.
Planejamento até para sair da dieta
A ideia não é sair, em qualquer momento, pra comer qualquer coisa. Pâmela Kranz indica que a refeição livre seja planejada para o momento em que haja uma confraternização “da turma” ou da família. O que evita a sensação de exclusão.
Para esta refeição, é indicado escolher o prato ou elaboração que mais agrada, sendo ele salgado – vale pizzas e fastfood – ou doce – sobremesas variadas, bolos, e derivados – desde que se mantenha a atenção quanto a quantidade. O indicado é uma porção do alimento. E, terminada a refeição livre, o plano alimentar retorna a ser seguido.
Para que a dieta e a refeição livre funcionem, a chave do sucesso é a organização. Se você se organizar, comprar os alimentos prescritos, elaborar as refeições e levar para o trabalho (ou onde for necessário), o risco de comer algo que não está no plano ou cair em tentações, é muito menor.
Sempre lembrando que comer deve ser um prazer. “Quando você está apenas querendo manter seu peso, e continuar com saúde e se alimentando bem, as refeições livres podem e devem ser feitas, pois não há grandes restrições e grandes objetivos”, finaliza Pâmela. Alcançar os objetivos, é sempre bom lembrar, também depende da prática de atividades físicas, que mantêm o metabolismo sempre acelerado.
É exceção, jamais a regra
A refeição do lixo, se feita com regularidade, vira também um problema. Tudo o que comemos regularmente cria um estímulo hormonal a longo prazo, devido a memória celular do corpo. “Ou seja, se você fizer uma refeição do lixo toda sexta-feira, seu corpo irá se adaptar, e os benefícios citados acima, não irão ocorrer, e podem ainda aumentar sua vontade e seu desejo por alimentos mais calóricos”, alerta Pâmela.