Se engana quem pensa que o diagnóstico do câncer de mama não mudou em nada a vida da técnica de enfermagem Patrícia Azevedo de Almeida, de 32 anos. Ela se define como uma nova mulher, mesmo ainda em tratamento. “Você aprende a dar valor às coisas de forma diferente. Coisas que antes me estressavam muito, hoje já não valem tanto a pena.”
A mudança no visual, a rotina de idas ao hospital e as “amizades da quimioterapia” também foram significativas para ela. “O câncer me trouxe muito mais coisas boas do que ruins”, afirma, categoricamente. “Eu tinha o cabelo muito comprido. Sempre quis cortar curtinho, mas não tinha coragem. Quando tive o diagnóstico e sabia que ele ia cair, fui lá, cortei bem curto e pintei de roxo”, recorda, rindo. “Então, quando comecei as quimioterapias, o cabelo começou a cair e eu raspei.”
Assim começou uma nova fase na vida e no visual de Patrícia. Totalmente careca, mas com a autoestima nem um pouco abalada, ela fez curso de maquiadora e se mantinha linda. “Eu tinha uma peruca, mas não me acostumei a usar. Nem lenços. Para mim, era como se não estivesse careca. Eu me amava daquele jeito”, recorda. Agora, um ano e cinco meses após o diagnóstico e com a certeza de que a doença não a acompanha mais, Patrícia exibe um novo visual, com os cabelos crescendo, encaracolados e negros.
Para ela, mais do que a autoestima elevada, o tratamento realizado correta e rapidamente mais o apoio da família foram fundamentais. “No dia que peguei o resultado da biópsia, eu li e não absorvi a informação. À noite, quando caiu a ficha, eu liguei pro médico e, em seguida, já fiz os encaminhamentos para a cirurgia”, conta. Apenas 15 dias após a confirmação de que estava com o câncer de mama, em maio de 2016, ela já estava sendo operada para retirar os dois tumores da mama direita e realizar o esvaziamento da axila, onde haviam nove linfonódulos com metástase.
Logo, começou a quimioterapia, que acabou somente em dezembro. “É complicado, mas se tu estiver bem, consegue passar de forma bem tranquila”, conta Patrícia. O segredo era não se deixar abater pela doença. “Tem dias que tu quer cavar um buraco e se enterrar ali. Mas então eu saía de casa. Nem que fosse pra ir na esquina, mas saía. Isso me distraía e eu voltava a ficar bem”, garante. Após as quimios, vieram as radioterapias. Agora, ela faz o tratamento com medicamentos, além do acompanhamento periódico para garantir que a doença não volte. “Cada etapa que a gente termina, é uma vitória. Eu sei que estou ainda mais longe do câncer.”
Câncer tem cura
Segundo dados da Agência Internacional para a Pesquisa do Câncer, da OMS, um a cada quatro tipos de câncer nas mulheres é de mama. Uma pesquisa do Instituto Datafolha mostra que 15% das brasileiras, com idade entre 40 e 69 anos, nunca realizaram mamografia. O dado é ainda mais preocupante quando comparado ao índice de câncer de mama no Rio Grande do Sul, estimado em 5.210 casos no ano passado, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA). Esse número representa 47% dos casos na região Sul do País.
De acordo com o ginecologista, obstetra e mastologista Túlio Farret, o câncer de mama, se não tratado, pode levar à morte. O risco acontece quando a doença já está muito avançada e se espalha por outros órgãos, como pulmão, fígado e cérebro. “Não tem como prever quanto tempo isso pode levar, porque depende de cada paciente”, explica. “O câncer de mama é uma doença que tem até 90% de possibilidade de cura”, afirma. “Quanto mais cedo for descoberto, maior a chance de ter sucesso no tratamento.”
O processo envolve três etapas principais: a cirurgia para a retirada dos linfomas, a quimioterapia e a radioterapia. A ordem dessas etapas varia de acordo com a situação. “Em tumores já grandes, as pacientes precisam fazer sessões de quimioterapia antes da cirurgia, com a intenção de reduzir esse tumor para tornar mais fácil e melhor a cirurgia. Outras são operadas e depois partem para a quimio.”
Após receber alta desses processos, a paciente ainda segue com medicamentos e acompanhamento clínico, etapa que Patrícia está passando. “É muito importante a paciente cumprir o tratamento até o final para que não haja uma recidiva da doença”, afirma Farret.
10 anos de Amigas do Peito
Para a psicóloga e psicanalista Paulina Pölking, os avanços da Medicina e a desmistificação do câncer contribuem para que a doença seja encarada de forma mais tranquila. “O câncer deixa de ser uma sentença de morte e passa a ser falado, consequentemente menos temido, e ao ser olhado de frente, com a devida seriedade, passa a ser um desafio a ser enfrentado, estimulando ações de cuidado e adesão aos tratamentos, seja a cirurgia, químio ou radioterapia”, afirma.
Ela, que coordena o grupo Amigas do Peito, de apoio a mulheres que passaram ou estão passando pelo câncer de mama, garante que a saúde psíquica contribui para a saúde física. A família e os grupos podem ajudar a passar por cada etapa com mais segurança. “Saber, através da vivência e do relato, que outras mulheres enfrentaram e superaram a doença, se constituiu em um testemunho e não somente uma promessa de esperança”. Esse ano, o Amigas do Peito comemora uma década na Unimed Vale do Caí. “Iniciou a partir da necessidade de oferecer um espaço de fala às pacientes com câncer de mama, buscando o fortalecimento emocional através da troca e convivência com outras mulheres, assim como o acompanhamento psicológico do grupo”, explica Paulina.