Mais de 1.400 montenegrinos já passaram pelo serviço da Prefeitura
A luta contra a Covid-19, em pessoas acometidas pela doença, vai muito além da janela de transmissão do vírus. A forma como o mal se manifesta de formas diferentes de um paciente para outro ainda intriga os especialistas. Para alguns doentes, as sequelas continuam, inclusive, bem além da alta hospitalar; várias delas impulsionadas por longos períodos acamados ou sujeitos a intubação. É situação vivida por muitos montenegrinos.
“Só esses dias que eu consegui ficar de pé, no andador, com a ajuda do fisioterapeuta. Mas não consegui dar nenhum passo ainda”, conta a auxiliar de limpeza Adriana da Silva e Silva, de apenas 48 anos. A última vez que ela caminhou foi em 28 de junho, quando acabou parando na UTI do Hospital Montenegro. Saiu de lá quase dois meses depois, em 26 de agosto; e precisou ficar no quarto por mais uma semana até, enfim, voltar para casa. Mas o tratamento continua até hoje.

Adriana é uma das cerca de 40 pacientes que, atualmente, recebem atendimento de profissionais do Ambulatório Pós-Covid. A iniciativa foi lançada pelo Governo Zanatta, com recursos do Município, em 22 de abril. Nasceu em um contexto de piora da pandemia, quando vários pacientes deixavam o atendimento hospitalar demandando outras especialidades. Desde então, mais de 1.400 montenegrinos usaram o atendimento, que conta com profissionais em áreas de Neurologia, Pneumologia, Psiquiatria, Psicologia, Fonoaudiologia, Cardiologia, Nutrição, Pediatria, Urologia e Fisioterapia.
“Nós damos um acompanhamento da recuperação do paciente”, destaca a secretária de Saúde de Montenegro, Cristina Reinheimer. “Das sequelas mais comuns nos que ficam internados por bastante tempo na UTI estão a atrofia muscular, dificuldade de respirar e cansaço. Existe também o risco da embolia pulmonar, que é bem grande nos pacientes acometidos pela Covid”.
No ambulatório, dos 1.445 atendidos até outubro, a maioria (787) precisou de acompanhamento fisioterápico, com dificuldades de locomoção como a enfrentada por Adriana. Em segundo, com 256 atendimentos, a demanda foi por atendimento neurológico. Além das citadas pela secretária, sequelas como a demora na recuperação do paladar e do olfato, além de insuficiência renal também estão entre as mais comuns.
Paciente reconhece a importância
Vivendo as sequelas da doença até hoje, a auxiliar de limpeza Adriana da Silva e Silva lembra do pesadelo que ela e a família viveram em função da Covid-19. “Começou como uma gripe e eu achei que era uma gripe normal. Mas foi piorando, piorando, até que meu filho me levou para fazer o teste no Hospital Montenegro e eu já fiquei lá”, relata. Sem comorbidades, a paciente acredita que tenha sido a demora em buscar atendimento o principal fator para as suas complicações. Infelizmente, a primeira dose da vacina contra a doença tinha sido liberada, para sua idade, só um dia antes da internação. “Eu acabei ficando um mês e 27 dias na UTI. Precisei fazer hemodiálise, precisei ser intubada. Foi tudo”, lembra Adriana. “Por duas vezes, eles até chamaram os meus filhos para se despedirem de mim lá. Mas eu estou aqui.”
Para o casal de filhos, a comadre e os irmãos que, hoje, prestam auxílio diário à familiar em recuperação, é como se ela tivesse nascido de novo. No hospital, Adriana passou dias desacordada, sem consciência. Quando pôde parar com os sedativos, acordou para fortes dores musculares em função de tanto tempo deitada. “Eu tinha que tomar morfina de tanta dor nos braços e nas costas. Também fiquei com feridas de ficar deitada”, lembra. Conseguir voltar a falar, após a intubação, também exigiu esforço e atendimento fonoaudiólogo. “Eu nem conseguia falar no começo”, relata a paciente.

No hospital, ela ainda teve outra sequela importante, considerada rara por alguns especialistas. Devido à falta de oxigênio no sangue, seus dedos das mãos e dos pés necrosaram. É quando o tecido corporal morre e fica preto. “Chegaram a pensar em amputar os meus dedos. Depois, disseram que era pra esperar secar”, relata. Adriana diz que ainda há a possibilidade de perder as pontas dos membros. “Eles me doem muito; e também prejudica pra eu parar em pé.”
Ligados ao Ambulatório Pós-Covid, fisioterapeutas visitam a residência da família três vezes por semana para trabalhar a musculatura da paciente e a colocar caminhando novamente. “Eu caminhava normal, eu trabalhava”, lembra a atendida, com a esperança de, logo, voltar ao normal. Só o fato de ter conseguido parar em pé recentemente, no andador, já foi motivo de grande alegria. Adriana e a família têm fé de que conseguirão ir muito além.