Cerimônia ocorrerá na localidade de Calafate, numa propriedade cujos donos vivem das frutas há três gerações
Acontece na próxima sexta (25), a 19ª Abertura Estadual da Safra de Citros em Montenegro. O evento começará às 13h30, contando com a participação de autoridades estaduais, lideranças de todo o Vale do Caí, entidades envolvidas com o meio rural e produtores de citros. Aberta à comunidade, a cerimônia terá a apresentação de um grupo da Fundarte. A edição 2018 ocorrerá na propriedade da família Viegas, na localidade de Calafate.
O local já está sendo preparado pelos donos. Tudo já foi limpo. Na quinta, deverá ser instalado o palco e a estrutura onde ocorrerá a cerimônia. Um coquetel será oferecido, preparado pelas integrantes dos GOL’s – os grupos de mulheres do lar do interior – e tudo será à base de bergamota. Também haverá uma colheita “simbólica” com as autoridades, representando a abertura oficial. O evento é custeado pela Prefeitura e por patrocinadores. A expectativa de público é de 300 e 500 pessoas.
A propriedade dos Viegas fica a cerca de quatro quilômetros da ERS 124. Até lá, passa-se por ponte e até pelos trilhos de trem. A Prefeitura, nos últimos dias, tem trabalhado no alargamento da estrada. A família já sabia desde o ano passado que sediaria a cerimônia. “A gente se sente honrado pela escolha. É como se fosse uma recompensa pelo trabalho”, avalia Fabiano Gustavo Viegas, administrador da propriedade. A escolha se deu – como em todos os anos – por meio da comissão organizadora, que já está buscando sugestões para a edição 2019.
Fabiano, 31 anos, marca a terceira geração da família que trabalha com os citros. Tudo começou com seu avô paterno, que morava em Pareci Novo, produzia laranjas e vendia em Porto Alegre. O agricultor conta que ele costumava ir de barco até a capital gaúcha, pegando a embarcação no antigo Porto dos Pereiras, que deu origem ao nome da localidade. Em meados dos anos 70, a produção passou para o pai de Fabiano, que casou-se com a esposa, Vera Lúcia Viegas, e começou a focar na produção de bergamotas.
A família mudou-se para Montenegro em 1996. Os dez hectares que tinham em Pareci viraram 75 em Montenegro em uma sociedade entre irmãos. O pai Viegas faleceu em 2010 e coube ao filho, Fabiano, dar seguimento ao negócio da família – coisa que faz, com muito gosto, até hoje. A sociedade que tinham com o tio foi desfeita e ele ficou com 30 hectares, no mesmo local, onde 20 são plantados com bergamotas dos tipos Caí, Pareci, Ponkan, Morgote e Montenegrina. Ali será aberta a safra 2018, na “cidade da bergamota”.
“O mercado tem muito a crescer ainda”
Desde 2010, Fabiano Gustavo Viegas toca o negócio da família com a mãe. Tendo crescido no ramo, ele vê o mercado dos citros na região com bons olhos e enxerga perspectivas de expansão, principalmente no que se refere à exportação. “A produção cresceu. Todo mundo teve que plantar mais, porque tem saído muito para fora do Estado”, coloca. “Pessoal vende para Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso. Se não saísse para fora, nem teria como absorver toda a produção local.”
Os Viegas já passaram por diferentes fases mercadológicas e, em alguns períodos, também aproveitaram a fatia da exportação. Fabiano conta que, no começo, o avô vendia somente para o Ceasa, em Porto Alegre. Entre os anos 80 e 90, eles trabalharam com exportação para Santa Catarina, até que fecharam um contrato de fornecimento com o Grupo Zaffari. Entre 2000 e 2005, novamente a exportação virou a opção mais viável. De 2006 até hoje, no entanto, eles voltaram a trabalhar somente com o comércio para o Ceasa.
Mesmo não contando com a venda fora do Rio Grande do Sul, o produtor confirma que está ali o maior potencial para o setor, em geral. “A bergamota daqui compete praticamente sozinha lá. Como aqui é mais frio, ela chega lá fora quando a de lá já está praticamente acabando”, explica. Para ele, eventos como a cerimônia de abertura ajudam a dar visibilidade à fruta, impulsionando o consumo, principalmente em regiões onde ele não é comum. “O mercado tem muito a crescer ainda”, avalia o citricultor montenegrino.
A realidade do produtor mudou bastante
A propriedade dos Viegas tem cerca de dez mil pés de bergamota, que rendem, anualmente, em torno de 160 toneladas de fruta. Nos muitos anos no ramo, a família viu as vendas aumentarem, mas percebeu, com isso, uma maior necessidade de investimentos. “O produtor, hoje, é praticamente uma empresa”, aponta Fabiano. “Envolve muito mais organização. Antigamente ele só colhia. Hoje colhe, beneficia, vende. Tem que ter muito planejamento”. Na propriedade, a aquisição de máquinas de beneficiamento, de uma câmara fria e de toda uma estrutura de apoio foi necessária para impulsionar a produção.
A mãe, Vera Lúcia, já é aposentada. Fabiano conta que, com poda, limpeza, adubação e renovação de pomar, o serviço na propriedade dura o ano todo. Na safra, ele contrata, em média, três “safristas” para ajudar no trabalho. Mesmo com a esposa trabalhando fora, está na bergamota a principal fonte de sustento da família, que vive no local. E a quarta geração, com a pequena Alice, de apenas quatro anos, parece bem interessada em dar seguimento ao negócio. Como bem resume a matriarca Vera, “o citros já vem de berço”.