A Polícia Civil prendeu, ainda na noite de quarta-feira, dia 2, o compadre de Valmir Ramos, conhecido como “Bilinha”, um dos acusados de participação da morte do inspetor Leandro de Oliveira Lopes, 30 anos, em Pareci Novo. Ele é suspeito de abrigar a dupla de criminosos. No celular dele, foram encontradas diversas imagens das ações realizadas na captura dos indivíduos, inclusive da formação de barreiras na ERS-124. Também estaria trocando mensagens com o foragido.
O homem, que não teve o nome divulgado para não prejudicar as investigações, estava em uma casa na localidade de Bananal. O preso é apontado como o dono de três armas, duas espingardas e uma pistola, encontradas em outra propriedade. Após ser ouvido na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) de Montenegro, ele vai responder em liberdade por não haver elementos suficientes para justificar o flagrante. O cunhado dele, que estava com o armamento, pagou fiança e também foi liberado.
Após as buscas serem realizadas durante toda a madrugada nas localidades de Matiel, Bananal e Despique, a ação na região continua, mas com efetivo reduzido. Durante as horas posteriores ao crime, a operação envolveu mais de 100 policiais civis e militares, emprego de dois helicópteros e de cães farejadores. “Estamos reduzindo o cerco e trabalhando com investigações para descobrir o paradeiro dos dois. A Polícia Civil não vai descansar até prender os dois indivíduos que fugiram”, comenta o diretor do Departamento de Polícia Metropolitana, Fábio Motta Lopes.
A vítima e mais 23 policiais, entre eles integrantes do Grupamento de Operações Especiais (GOE), foram recebidos a tiros quando ingressaram no sítio onde Bilinha, 42 anos, estava escondido com um comparsa.
O imóvel fica a cerca de um quilômetro da ERS-124. O indivíduo possui diversas passagens por tráfico de drogas, roubo e envolvimento em diversos homicídios e tinha mandado de prisão expedido pelo Poder Judiciário.
Os policiais estavam, aproximadamente, 30 metros da propriedade quando a dupla começou a atirar contra eles. O projétil ultrapassou o colete e atingiu o tórax de Lopes, que seguia no terceiro grupo. Levado por colegas, ele chegou a ser atendido no Hospital Sagrada Família, em São Sebastião do Caí, mas não resistiu ao ferimento.
Dois policiais mortos em menos de um ano
Leandro foi o segundo policial civil assassinado durante operação em menos de um ano. No dia 23 de junho de 2017, em Gravataí, na Região Metropolitana, o escrivão de polícia Rodrigo Wilsen da Silveira, de 39 anos, foi morto durante uma ação contra o tráfico de drogas em um condomínio popular.
Ele e mais seis policiais foram recebidos a tiros quando entraram em um apartamento. A vítima foi atingida na cabeça e chegou a ser levada ao Hospital Dom João Becker, mas não resistiu aos ferimentos. Na oportunidade, os cinco envolvidos no crime foram presos. “Em menos de um ano foram duas mortes, é muito”, avalia o presidente do Sindicato dos Escrivães, Inspetores e Investigadores de Polícia do Rio Grande do Sul (Ugeirm), Issac Ortiz.
O dirigente aponta a necessidade de todas as circunstâncias do crime de quarta-feira serem apuradas detalhadamente. Também ressalta como fundamental a revisão do número de ações dessa natureza. “O pessoal está bastante revoltado. Uma queixa generalizada é o número de operações realizadas. Muitos colegas têm reclamado de cansaço”, argumenta.
Homenagens e paralisação
A quinta-feira, dia 3, foi marcada por uma série de homenagens ao policial morto. Às 10h, enquanto ocorria o sepultamento dele no Cemitério Municipal de Guaíba, de onde era natural, foi feito um “serinaço” por todos os cantos do Estado. Representantes de todas as forças de segurança também estiveram presentes durante a cerimônia. Antes, a partir das 8h, se reuniram em frente ao Palácio da Polícia e seguiram em carreata até o local. Um helicóptero da Civil promoveu uma chuva de pétalas de rosas.
Em Montenegro e região, também houve o atos para destacar a atuação de Leandro. Às 19h, o Movimento Vem pra Rua Montenegro promoveu “buzinaço” com carreata. O trajeto iniciou na ERS-240, na frente da Sinoscar, e seguiu até a Praça Rui Barbosa, no Centro. “A ideia é pedir mais segurança e apoio da população para as operações policiais”, comentou a consultora de negócios e uma das organizadoras do evento, Andreia Guimarães.
Mais cedo, Brigada Militar de Montenegro realizou, no momento do enterro na Praça Rui Barbosa, no Centro, o sargento Estevão Benites, e os soldados Daiana Brandt e Diego Moreira ligaram a sirene da viatura e ficaram em posição de continência. Os três estavam de serviço e pararam por alguns instantes em respeito ao colega. “É um sentimento até difícil de descrever. Perder um colega é como perder um familiar, um irmão de farda”, comenta Benites.
Além disso, o sindicato convocou a categoria para uma paralisação durante todo dia. A orientação é para ser mantido apenas o atendimento dos flagrantes e casos de maior gravidade como: latrocínios, homicídios, estupros, ocorrências envolvendo crianças, adolescentes e idosos, além de Lei Maria da Penha.