Um grupo de 16 apenados da Penitenciária Modulada Estadual de Montenegro se formou nesta terça-feira, 3, no projeto de Justiça Restaurativa da entidade. Pioneira, a atividade foi posta em prática em parceria com o Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc) ao longo de seis meses. Formados em uma cerimônia com a presença de autoridades, o grupo receberá as horas dedicadas como remissão de pena, mas, como os mesmos fazem questão de destacar, devem usufruir de benefícios bem maiores.
“Esse meio ano me ajudou a conversar e a ter comunhão com a sociedade”, destacou um dos apenados, em um emocionado discurso durante a formatura. “Eu tô há praticamente sete anos preso e esse tempo todo eu pensei que estava abandonado. Isso mostrou que eu tenho chance. Que eu posso olhar olho no olho do outro e dizer que eu tenho um passo a mais na minha vida.”
Durante os seis meses, os participantes se reuniram com facilitadores voluntários para a aplicação dos Círculos de Paz, uma das ferramentas da Justiça Restaurativa. Por duas horas, duas vezes por mês, eles sentavam, acessavam seus sentimentos, falavam sobre suas experiências e anseios e, mais importante, aprendiam a escutar a dor do outro. Uma vez por mês, ainda, com eles eram praticadas as Constelações Familiares, uma forma de resgatar e corrigir padrões de comportamento repetidos de geração em geração.
Dentre os benefícios buscados pela iniciativa, o principal é o auxílio à ressocialização. Conforme a juíza Priscila Gomes Palmeiro, diretora do Foro da Comarca de Montenegro que deu os primeiros passos para transformar o projeto em realidade, a ideia nasceu diante da percepção de que muitos dos que estavam para sair do regime fechado tinham que recorrer a remédios calmantes. “A gente sabe da dificuldade que é sair para quem está aqui”, ela colocou, durante a cerimônia. Com o sucesso da primeira tentativa em dar um norte aos apenados, os responsáveis querem repetir a prática no ano que vem e, talvez, tornar a iniciativa referência para outras unidades prisionais pelo Estado.