Julgamento de Alexsandro Gunsch é cancelado por falta de advogado

Réu da morte de Debby Michels destituiu advogada de defesa momentos antes do júri

Estava tudo pronto para um dos julgamentos mais esperados dos últimos anos. Aparato das forças de segurança, incluindo Brigada Militar, Polícia Penal e vigilância do Judiciário. Jurados convocados estavam presentes, bem como representantes da acusação e defesa. Familiares da vítima seguravam fotos e aguardavam ansiosos, assim como parentes do réu. Entretanto, cerca de meia hora antes do previsto para o início do tribunal do júri, foi anunciado o seu cancelamento.

Na noite de quarta-feira, 5, às 23h25min, através de sua representante, o fisiculturista Alexsandro Alves Gunsch, de 48 anos, enviou ofício ao Judiciário, informado a revogação e cancelamento de procuração outorgada quando da nomeação da advogada de defesa, Daniela Schneider Couto. Com isso, estava sem representante para atuar no seu julgamento, marcado para iniciar às 7h da manhã de quinta-feira.

Alexsandro está preso há um ano, acusado da morte da então companheira, a personaltrainer Débora Michels Rodrigues da Silva, a “Debby”, de 30 anos. O crime ocorreu na madrugada de 26 de janeiro, na localidade de Vendinha, interior de Montenegro, onde o casal residia.

A juíza Débora de Souza Vissoni esclareceu que sem advogado, Alexsandro Alves Gunsch não poderia ser julgado. “É um direito constitucional do réu. Não é possível fazer julgamento sem que esteja representado. Ele foi intimado para nomear outro advogado ou se será representado pela Defensoria Pública”, explicou a juíza, dando um prazo de dez dias e informando que provavelmente o julgamento deva acontecer em abril.

A magistrada lamentou que foi o segundo adiamento de júri popular em questão de uma semana, o que também aconteceu no ano passado. Na terça-feira da semana passada, estava marcado um julgamento com seis réus e, na véspera, um dos advogados de defesa apresentou atestado de saúde que o impedia de atuar. “É um desperdício não só de dinheiro público, mas de esforços de todos que trabalham para que a justiça seja realizada”, lamenta.

A acusação

Alexsandro Alves Gunsch foi levado novamente para a Penitenciária Estadual de Canoas, onde vai aguardar a nova data do julgamento. Conforme denúncia do Ministério Público, ele é acusado de feminicídio, por motivo torpe e meio cruel, mediante emprego de asfixia, com recurso que dificultou a defesa da vítima, em contexto de violência doméstica e familiar, com incidência na Lei dos Crimes Hediondos. A acusação entende que o crime teria ocorrido de forma premeditada, após o réu ter consumido cocaína e não aceitar o fim do relacionamento.

Em depoimento à Polícia, o acusado alegou que teria ocorrido uma briga e que o casal teria trocado agressões. Admitiu ter pego a companheira pelo pescoço, levantando-a e tendo a arremessado contra um guarda-roupas. Foi quando ela teria passado mal e disse que a colocou no carro para levar ao hospital, mas no caminho percebeu que Debby já estava sem vida e, devido ao desespero, decidiu deixar o corpo em frente à casa dos pais dela. “A defesa segue com a mesma linha defendida durante toda a instrução processual, que na realidade dos fatos houve uma agressão motivada pelo calor da discussão e que sem intenção acarretou o óbito da vítima”, declarou a advogada do réu, que momentos antes do júri foi destituída por ele e impedida de atuar no tribunal.

Alexsandro Gunsch foi levado ao Fórum e depois retornou para a Penitenciária

Frustração

Pais, irmão e amigos de Debby, que aguardavam o julgamento, empunhando fotos dela e usando roupas pretas, ficaram decepcionados com o cancelamento. “A família e a comunidade estão indignadas com essa situação. Não tenho palavras”, disse, Alex Michels, enquanto segurava um quadro com a foto da irmã. “Não adianta protelar. Tem que ser feita justiça. É uma angústia de mais de um ano, um pesadelo que vai ficar para sempre para a gente. Não conseguimos dormir. O júri seria pelo menos um alento, mas agora acontece essa transferência que judia ainda mais”, diz o pai, o professor aposentado Davi Rodrigues da Silva, de 71 anos, ao lado da esposa Rosane.

A promotora Rafaela Hias Moreira Huergo, que iria atuar na acusação junto com a advogada Samanta Dannus, também lamentou o cancelamento. “Estamos desapontados com o rumo que o plenário tomou”. Ela citou que no dia anterior já tinham ocorrido tentativas de adiamento, mas o júri tinha sido mantido pela magistrada justamente porque havia um esforço para que o julgamento fosse realizado na quinta-feira. “Infelizmente isso não ocorreu em função da mudança processual de advogado. É um gasto público e desgaste mito grande. Estava tudo mobilizado para a realização de um plenário de um crime que trouxe muita comoção. Frustrou toda a comunidade, mas principalmente a família enlutada. Vamos buscar garantir que o réu continue preso e que o julgamento ocorra o quanto antes para que se possa trazer justiça”.

De acordo com a advogada Daniela Schneider, na noite anterior o réu teria tentado retirar a própria vida através do uso de medicamentos. “Buscamos relatórios médicos e informamos à Justiça. Ele foi levado para a emergência e teve choque anafilático. Não tinha condições de comparecer ao júri”, alega. “Não estava bem. Disse que não estava preparado para ficar em frente a família dela. Disse que se eu não conseguisse adiar o júri iria procurar outro advogado”, completa, citando que foi destituída a procuração para que atuasse no tribunal e deve ser contratado um novo defensor.

Juíza destacou que sem advogado de defesa não pode ocorrer julgamento

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