Idosa perde R$ 39 mil ao acreditar na conversa de desconhecidos

GOLPISTAS abordaram a mulher no Centro de Montenegro

“Fiquei duas noites sem dormir. Não contei para mais ninguém de tanta vergonha que estou pelo meu erro”. A fala da aposentada expressa o abalo psicológico sofrido após cair em um golpe. Ela procurou a reportagem para que seu caso sirva de exemplo para outras pessoas. “Leio jornais, sou uma pessoa esclarecida, não sei como isso foi acontecer comigo”, desabafa.

Dona Graça (nome fictício pelo qual a idosa prefere ser chamada), relata que, no dia 23 de fevereiro, ao sair de uma casa lotérica, localizada na rua Olavo Bilac, no Centro de Montenegro, foi abordada de forma muito rápida por uma mulher de cerca de 30 anos. “Ela ‘jogou’ um cartão no meu rosto e perguntou onde era o endereço escrito nele. Respondi que não era em Montenegro, mas, ela insistiu dizendo que precisava ir ao local para retirar uma máquina de costura e R$ 5 mil que tinha ganho em uma rifa”, conta a idosa.

Antes que Graça saísse do local, na mesma calçada, surgiu um homem. “A mulher chamou ele e perguntou se sabia onde era aquela rua. Fiquei entre os dois, sem conseguir sair. Ela pegou outro papel e mostrou para ele, era um bilhete de loteria”, detalha a vítima. Segundo ela, o sujeito simulou ter consultado o resultado do jogo em um site e chegou a ligar, supostamente, para a agência bancária onde teria sido confirmado que o bilhete havia sido premiado.

A dona do bilhete disse ser analfabeta e que o homem e a idosa evitaram que ela caísse em um golpe, pois entregaria o bilhete para ter acesso à máquina de costura e aos R$ 5 mil. Como prova de gratidão pelo gesto da idosa e do indivíduo, a “milionária” dividiria com eles o prêmio de R$3 milhões. “Ela disse que jogo de azar já causou tragédias na família dela e que não precisava de tanto dinheiro e que, também, por isso dividiria o prêmio com nós”, conta a aposentada.

Segundo a vítima, a dupla falava muito. Aos poucos, o sujeito foi convencendo a mulher a dar R$ 1 milhão para cada um deles. Nisso, a “sortuda da loteria” pediu o celular emprestado, ao suposto desconhecido, e ligou para um indivíduo que seria seu pai. “O pai dela disse que era para pedir uma garantia de que não contaríamos sobre a negociação a ninguém. Ele disse para ela nos pedir dinheiro”.

A idosa conta que a conversa foi ficando cada vez mais confusa. “Comei a ficar tonta e nervosa. Queria ligar para meu marido, mas eles não deixaram. Diziam que não era para eu falar com ninguém”, lembra a mulher. “O homem comandou a negociação. Eu estava com o cartão do banco e extratos de contas na bolsa. Quando fui pegar minha identidade eles viram tudo, pegaram minhas coisas”, acrescenta.

Convencida pela dupla, a idosa foi com eles até um veículo prata que estava estacionado próximo ao local da abordagem. “Não consegui ver a placa, era um carro grande”, explica. O homem foi a uma agência bancária e fingiu ter efetuado o depósito como solicitado pela mulher. “Ele disse pra mim que tinha depositado um valor bem maior do que eu iria depositar, que era para eu ficar tranquila”, relata Graça.

A aposentada sacou R$ 4 mil e entregou nas mãos da estelionatária. Além disso, fez uma transferência de R$ 35 mil para uma conta, no nome dado pela mulher. “Fiquei com eles por uma hora. No fim, ficou combinado que às 11h30min do dia seguinte a gente se encontraria em frente ao banco para ela nos entregar o dinheiro”, lembra.

“Depois que consegui almoçar, me dei conta que tinha sido um golpe”, diz. A idosa procurou sua agência bancária e foi informada que a transação já havia sido concluída. Ao ir no banco para o qual foi feita transferência, para a suposta conta da golpista, a vítima descobriu que não seria possível pedir o bloqueio do repasse. “Disseram que não poderiam fazer nada sem ser solicitado pela Polícia. Na delegacia me disseram que eu poderia ter feito algo quando fui ao banco. Um empurrou para o outro e ninguém fez nada. Fiquei perdida sem saber quais são os meus direitos”, lamenta a vítima.

Fábio Júnior Barbosa e Bruno Negruni. Foto: ACOM/Prefeitura de Montenegro

Contatada pela reportagem, a entidade bancária informou que atua conforme os protocolos de prevenção a fraudes e está à disposição das autoridades para apoiar nas investigações necessárias. Além disso, reforça que promove campanhas de conscientização de prevenção a golpes e em mecanismos de segurança.

Crimes com características semelhantes, com frequencia, são registrados em Montenegro. Segundo o delegado André Roese, titular da 1ª Delegacia de Polícia, tais ocorrências ainda estão sendo investigadas. “A natureza desses crimes dificulta a elucidação, mas, eventualmente conseguimos elucidar”, aponta o delegado.

Não fale com desconhecidos
O vice-presidente da Associação dos Aposentados e Pensionistas de Montenegro (Apopesmont), Bruno Negruni, relata que a preocupação da entidade com seus associados existe há bastante tempo. A cada encontro mensal, os associados recebem dicas de como evitar se tornar vítima de estelionato.

Na reunião do mês de fevereiro, o secretário executivo da Comissão Municipal de Defesa do Consumidor (Comdecon), Fábio Júnior Barbosa, esteve presente. “Temos percebido que este público tem sido alvo frequente de golpistas que se aproveitam da boa fé dos idosos para lesá-los”, diz Fábio. Em março, a Comdecon vai lançar uma cartilha com dicas simples para auxiliar os idosos a evitarem os golpes.

Enquanto aguardam o material, os idosos devem ter em mente uma dica, normalmente, dada para as crianças. “Os pais diziam ‘não fale com estranho’ hoje isso serve para nós”, aponta Bruno. “Os profissionais do golpe estão atentos aos idosos. A gente se preocupa com isso. Nós, idosos, temos que ter precaução e medo”, conclui o representante da Apopesmont.

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