Uma semana após o crime que gerou comoção, seguem os questionamentos
O diretor do Departamento de Polícia Metropolitana, Fábio Motta Lopes, falou à reportagem do Jornal Ibiá sobre o planejamento da operação realizada no dia 2 deste mês, na localidade do Bananal, em Pareci Novo. A diligência teve como objetivo cumprir um mandato de prisão contra Valmir Ramos, de 42 anos, acusado de assassinato. No entanto, a ação resultou na morte do policial civil Leandro de Oliveira Lopes, 30, na fuga do acusado e também de Paulo Ademir de Moura, 36, suspeito de ser comparsa de Valmir.
Desde a semana passada, a Polícia realizou uma série de ações na tentativa de localizar os foragidos. Na sexta-feira, Paulo chegou a ser encontrado em um sítio no município de Sapiranga, porém, novamente conseguiu escapar dos policiais. Ambos os foragidos continuam sendo procurados.
O modo de operação da Polícia Civil levantou uma série de questionamentos, por parte da população. O delegado Fábio esclarece críticas e dúvidas levantadas sobre a atuação dos agentes.
Veja os esclarecimentos
Jornal Ibiá: Por que a Polícia não cercou os fundos da residência?
Delegado Fábio – Por se tratar de uma mata fechada. Na lateral não tem como e nos fundos é mato. Não tem como entrar pelos fundos porque a estrada mais próxima fica uns cinco quilômetros pra trás. O deslocamento seria muito grande e os policiais teriam que entrar numa mata fechada que eles não conhecem.
JI: A Polícia fez um estudo da área antes da invasão?
Delegado – Sempre se faz, não somente nesse caso. Seja em zona urbana ou rural, esse levantamento prévio é sempre feito.
JI: Como esse estudo de área é feito?
Delegado – Tomamos cuidado para não divulgar esse tipo de informação para não alertar nossos alvos de investigação, mas esse levantamento prévio foi feito.
JI: Pelo horário em que ocorreu a operação, a Polícia esperava que os suspeitos estivessem dormindo?
Delegado – Essa é uma cultura, normalmente se entra cedo porque é o horário de sono profundo. A probabilidade de encontrar a pessoa dormindo é maior. A Polícia sempre se prepara para o pior, mas às vezes acontecem fatalidades.
JI: Quando começou a troca de tiros, os suspeitos estavam dentro da residência?
Delegado – Estavam dentro da casa, já saindo em direção a pedreira que tem à esquerda da residência.
JI: Os policiais focaram apenas no socorro ao policial enquanto os suspeitos tiveram tempo para fugir. Isso procede?
Delegado – Isso não procede. A doutrina policial no mundo todo é de que havendo alguém ferido, a prioridade é salvar a vida, seja de policial, vítima ou de quem quer que seja. Então, isso realmente foi priorizado, quando se percebeu que o Leandro estava ferido, um grupo focou no socorro, para levá-lo ao hospital, mas não quer dizer que outra parte da equipe não tenha avançado em direção a casa, isso também aconteceu. O grupo se dividiu.
JI: Os policiais chegaram a subir o barranco em busca dos foragidos?
Delegado – Isso foi feito na sequência. Claro que depois que foi feita uma varredura na casa, não podemos sair correndo aleatoriamente, existe uma técnica de análise de ambiente. Depois que isso foi feito, um grupo de policiais subiu o barranco.
JI: Sobre a diligência realizada em Sapiranga, por que a Polícia não atirou no suspeito Paulo Ademir de Moura quando o mesmo foi encontrado em Sapiranga, e acabou fugindo?
Delegado – Ele não ofereceu nenhuma resistência. Não se pode atirar em quem está fugindo. Às vezes a população não entende, querem que o cara seja mandado para o espaço, mas precisamos ser técnicos. Não se atira em pessoas que estão fugindo, independentemente do contexto. Fazemos o cerco para prendê-lo, se ele aponta a arma em nossa direção ou atira, aí é diferente. Mas em Sapiranga isso não aconteceu, ele fugiu em direção ao mato sem oferecer resistência ativa.
Quem são os foragidos
Valmir Ramos, 42 anos, é natural de Santa Catarina. Ele esteve preso em 2016, mas fugiu da Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento de São Leopoldo. Valmir havia sido detido pela Polícia Rodoviária Federal com 445 quilos de maconha na BR-116.
Em 2012, ele foi preso pela Polícia Civil de Montenegro por tráfico de drogas. Atualmente, ele tinha relação com crimes cometidos, principalmente, no município vizinho de Nova Santa Rita.
Já Paulo Ademir de Moura, 36 anos, apontado como comparsa de Valmir, possui cinco mandados de prisão por homicídio. Na tarde de sexta-feira, o indivíduo consegui mais uma vez fugir, em Sapiranga. Ele estava em um sítio semelhante ao do município do Vale do Caí, na volta de um morro e com mata fechada.
Relembre o caso
O inspetor Leandro de Oliveira Lopes, 30 anos, foi atingido por um tiro durante cumprimento de mandado de prisão contra integrante de uma facção com atuação na Região Metropolitana de Porto Alegre.
A ação ocorreu na quarta-feira da semana passada. Foi o primeiro homicídio em Pareci Novo desde 2002, quando a Secretaria de Segurança do Estado (SSP) iniciou a divulgação dos dados de criminalidade nos municípios.
Leandro era ex-policial militar e se formou em novembro de 2017 na 51ª turma de inspetores de polícia. Ele ingressou na instituição dia 8 de dezembro. Estava lotado na Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa, de Canoas.
O policial deixou a esposa, Mariane Gianbastiane Lopes, e a filha, Marjorie, de apenas sete meses.