A SITUAÇÃO que não era fácil só piorou depois do desastre aos conflitos
Bernardo Matheus da Silva Dahmer, de 4 anos, foi vítima de um acidente de trânsito ocorrido em janeiro deste ano, na ERS-124, em Montenegro. O condutor que provocou a colisão estava embriagado, conforme apurado pela Polícia Rodoviária Estadual (PRE). Desde então, a família tem se desdobrado para prestar os cuidados necessários à recuperação do menino. O problema é que sem trabalho formal, pai e mãe do pequeno passam por dificuldades.
No dia do acidente, Bernardo retornava da igreja, para casa no bairro Senai, na companhia da vó e do tio, quando o veículo em que estavam foi atingido por outro. Os adultos não se feriram, já a criança ficou entre a vida e a morte.
O menino foi socorrido e transferido para o Hospital da Criança Santo Antônio, em Porto Alegre. Ele teve parte do osso craniano esfacelado, cacos de vidro atingiram seus olhos e comprometeram suas córneas. Foram mais de 20 dias internado na UTI do hospital. O garotinho mostrou força e saiu do coma. Ele passou por cirurgias na garganta e nos olhos. Mas hoje, mal consegue abrir os olhos diante da claridade, pois as córneas ficaram sensíveis.
Quando saiu do hospital, Bernardo não tinha sensibilidade do lado esquerdo do corpo, mas, aos poucos, foi recuperando os movimentos. O menino deveria, frequentemente, passar por seções de fisioterapia, mas segundo seus pais, só conseguiu atendimento pelo SUS durante um mês. Agora, aguarda ser chamado na lista de pacientes da Secretaria Municipal da Saúde.
Bernardo precisa ainda passar por cirúrgia, para implantar uma placa que substituirá a abóbada craniana – parte que envolve e protege o cérebro. Enquanto a operação não tem data marcada, mensalmente o pequeno é levado até Porto Alegre para consultas com neurocirurgião.
Na época do acidente a mãe do menino, Luíse dos Santos Vargas da Silva, estava grávida de seu segundo filho. Aos cinco meses de gestação, Luíse e o marido, Tiago Alexandre Dahmer, passaram 30 dias no hospital acompanhando cada suspiro do Bernardo.
“Na troca de turno eu não saía. A gente já tava morando no hospital, dormindo nas cadeiras”, lembra Luíse. A alimentação era fornecida pelo hospital e por pessoas que se compadeciam diante da situação. “As enfermeiras ajudavam, levavam bolacha e outras coisas pra gente”, conta.
Para ficar com a esposa e o filho, Tiago teve de abrir mão dos trabalhos que surgiam, como corte de mato e colheita de frutas. A situação financeira da família foi se complicando cada vez mais. Em junho nasceu Diana, irmã de Bernardo, e as despesas aumentaram.
Tendo como única renda fixa o auxílio do programa Bolsa Família, Luíse dos Santos Vargas da Silva passou a depender cada vez mais dos serviços do Município. Além de contar com os atendimentos em saúde, como fisioterapia, para o menino, a casa passou a ter as cestas básicas – distribuídas pela Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania – como itens fundamentais para a alimentação coletiva.
Porém, nos últimos meses, a família encontrou dificuldade para acessar esses serviços. Luíse afirma que desde março aguarda Bernardo ser chamado para as seções de fisioterapia. E, a necessidade de renovação de cadastro na Secretaria de Assistência Social também vem causando dores de cabeça na família. Isso por que foram informados que só poderão revalidar o cadastro no mês de outubro. O temor é ficar sem receber esses alimentos até lá e assim a família não ter o que comer.
casa sem banheiro
Com dois filhos pequenos, o casal de desempregados não tem condições financeiras para construir um banheiro na pequena casa de dois cômodos, em madeira. No começo do ano, eles receberam a visita de representantes da Administração Municipal e foram informados que ganhariam um banheiro. Só que, até o momento continuam sem a obra ser realizada.
O que diz a Prefeitura
Questionada, a Administração Municipal rebate as reclamações da família. Veja o que o Executivo informou sobre cada ponto:
Sobre a fisioterapia – a Secretaria Municipal da Saúde informa que a última solicitação foi apresentada – e atendida – em março. Depois, a família não procurou mais o setor. Havendo real necessidade, basta fazer contato.
Sobre o banheiro – havia a expectativa de que Montenegro seria contemplada com recursos para a construção de até dez banheiros para famílias de baixa renda. Um deles seria para os Dahmer. Contudo, o dinheiro ainda não foi liberado pelo Estado. A Secretaria busca, agora, nova maneira de financiar a obra. A previsão é de que a obra seja feita com verbas próprias, a partir do mês de setembro.
Sobre os alimentos – os cadastros para a retirada de cestas básicas precisam ser renovados a cada seis meses, mediante agendamento. Até lá, a família será atendida com doações ao Banco de Alimentos. Inclusive, na semana passada, ocorreu uma entrega na casa dos Dahmer.
Espera por justiça
O inquérito instaurado pela Polícia Civil (PC), para apurar os fatos envolvendo o acidente, ainda não foi concluído. Conforme o delegado titular da 1ª Delegacia de Polícia de Montenegro, André Roese, a PC aguarda o retorno da perícia baseada no boletim de atendimento médico. Contudo, para que o caso passe a fluir com mais agilidade, o delegado informa que irá entrar em contato com a família de Bernardo para encaminhá-lo à perícia. “Vamos encaminhar a vítima para exames”, afirma André.
Como ajudar
Quem quiser auxiliar com alimentos ou serviços que possam ajudar na recuperação de Bernardo, entre em contato pelo número 51 9 9818 8765. O endereço é Estrada Maurício Cardoso, nº 5047, última casa, fundos.