Réu Alexsandro Gunsch está preso desde janeiro do ano passado
“Nós estamos apreensivos, para que tenha um desfecho”. A declaração é do professor aposentado Davi Rodrigues da Silva, de 71 anos. Pai da personal trainer Débora Michels Rodrigues de Oliveira, a “Debby”, ele acordou na madrugada de 26 de janeiro do ano passado com o corpo da filha na calçada de sua casa, no bairro Centenário. Desde então, ele e a esposa Rosane não conseguem dormir. Junto com o filho Alex Michels, os três seguravam fotos de Debby em frente ao Fórum de Montenegro no início da manhã do último dia 6 de março, data em que o julgamento estava previsto inicialmente, mas acabou sendo adiado. Agora estarão novamente nesta sexta-feira, 25, para quando foi remarcado o júri popular a partir das 8h da manhã. “O que nós queremos é justiça. Já estamos condenados a sofrer para o resto da vida”, afirma Davi.
O júri ganhou ainda mais repercussão em razão do aumento nas mortes por feminicídio do último feriadão de Páscoa, quando dez mulheres foram mortas no Estado. A Polícia Civil, inclusive, lançou uma nova plataforma, para que vítimas de ameaças e agressões possam pedir medidas protetivas de forma online. Nenhuma das vítimas do último feriadão, assim como a própria Debby, tinham solicitado medidas protetivas de urgência, onde o agressor é proibido de se aproximar.
Como será o júri
O Tribunal do Júri será presidido pela Juíza de Direito Débora de Souza Vissoni, da 1ª Vara Criminal da Comarca de Montenegro, responsável pelo processo. O júri, que estava marcado para o mês passado, acabou não acontecendo após o réu revogar os poderes concedidos à sua defesa técnica um dia antes da sessão. Os trabalhos serão transmitidos ao vivo através do canal do TJRS no Youtube, pelo link: Transmissão Júri Caso Personal Débora. O Ibiá irá retransmitir em suas redes.
O réu Alexsandro Alves Gunsch, 49 anos, que também é fisiculturista e atuava com Debora em uma academia do Centro de Montenegro, responde pelo crime de homicídio qualificado por feminicídio (cometido contra mulher em contexto de violência doméstica e familiar), motivo torpe, meio cruel e recurso que dificultou a defesa da vítima. Ele está preso na Penitenciária Estadual de Canoas I desde janeiro do ano passado, quando se apresentou à Polícia dois dias após o crime.
Na acusação, atuará a Promotora de Justiça Rafaela Hias Moreira Huergo e a Assistente de Acusação Samanta Dannus. Fará a defesa do réu o Advogado Ezequiel Vetoretti, acompanhado dos advogados Rodrigo Grecellé Vares e Eduardo Vetoretti. Serão ouvidas seis testemunhas: três de acusação e três de defesa. Ocorrerão também o depoimento de um perito e o interrogatório do acusado.
A denúncia
Conforme o Ministério Público, o réu cometeu o crime na residência do casal, na Vendinha, de forma premeditada. O motivo seria a inconformidade com o término do relacionamento, após onze anos de casamento. Depois, o acusado teria recolhido o corpo, colocado em seu veículo e o abandonado em frente à casa dos pais. A morte, conforme certidão de óbito, foi causada por asfixia mecânica. De acordo com a denúncia, o motivo torpe está caracterizado pelo sentimento de posse do réu em relação à vítima.
A defesa do réu, em nota, disse que espera que a ampla defesa e o contraditório sejam plenamente respeitados, assegurando que todas as circunstâncias dos fatos sejam devidamente analisadas no Tribunal do Júri, sem nenhuma forma de prejulgamento. Informou que irá se manifestar exclusivamente nos autos do processo, até por lealdade aos jurados, que serão instigados a analisar elementos inéditos que só os autos revelam. Alegou que alguns pontos da denúncia estão equivocados e que no júri serão apresentados os detalhes dos fatos.
À Polícia, quando preso, Gunsch disse que durante uma briga, teria agarrado a companheira pelo pescoço e arremessado contra um guarda-roupas. Ao ver que ela estava passando mal, colocou-a no carro para levar ao hospital, mas aí ela estava sem vitais e decidiu deixar o corpo na frente da casa dos pais dela.
A expectativa é de que a sentença seja conhecida entre o final da tarde e o início da noite de sexta-feira.
Quarta-feira teve outro júri
Na quarta-feira, 23, aconteceu outro júri popular no Fórum de Montenegro. Foi julgado Elias da Rosa, acusado de tentativa de homicídio. O fato ocorreu em 12 de novembro de 2022, na Rua Assis Brasil, onde a vítima foi atingida por golpes de facão. Em plenário, o Conselho de Sentença afastou a configuração de crime doloso contra a vida, sendo então acusado de lesão corporal. A pena foi fixada em 1 ano e 4 meses de reclusão.