Reconhecimento. A peça nasceu na Uergs e foi premiada como Melhor Espetáculo, Figurino e Cenário em 2016
Na próxima sexta-feira, 25 de agosto, Montenegro mais uma vez será palco do espetáculo “Ramal 340: sobre a migração das sardinhas ou porque as pessoas simplesmente vão embora”. A apresentação ocorrerá a partir das 20h, no Teatro Therezinha Petry Cardona, da Fundarte. Os ingressos já podem ser retirados, gratuitamente, na Fundarte, e o evento é aberto para a comunidade. A peça surgiu a partir de uma pesquisa do Coletivo Errática, e foi indicada em todas as categorias do Prêmio Açorianos de Teatro 2016, ganhando os de Melhor Espetáculo, Melhor Figurino e Melhor Cenário.
O Coletivo Errática é um grupo teatral que nasceu com alunos do curso de Graduação em Teatro: Licenciatura da unidade montenegrina da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs). “Ramal 340” tem direção de Jezebel De Carli e dramaturgia original de Francisco Gick. Conta, no elenco, com Diogo Rigo, Francisco Gick, Guega Peixoto, Gustavo Dienstmann, Mani Torres e Nina Picoli.
O espetáculo surgiu nas antigas ruínas da Estação Ferroviária de Montenegro, sendo apresentado, no local, em 2015. O processo criativo foi feito pelo grupo, através de ensaios nas ruínas. O “Ramal” surgiu da ocupação dessas ruínas, com ensaios abertos que eram vistos por pessoas que por lá transitavam, mostrando um dos principais temas abordados na trama: o trânsito humano. “Acredito que a vocação do Coletivo seja essa, de falar sobre esses movimentos humanos de diversas maneiras, e essa inserção profunda na cidade, que são temas dos nossos trabalhos e motores de criação”, afirma o ator e dramaturgo Francisco Gick.
Francisco conta que o processo de pesquisa e de criação, não só para as cenas, como também para a dramaturgia, foi realizado coletivamente, entre atores e direção. A dramaturgia veio a partir de uma série de referências, que vão desde a Odisseia de Homero até textos do contista paquistanês Saadat Hasan Manto. Os textos de Manto dialogam sobre a divisão da Índia e do Paquistão na metade do século passado. “Esse processo de divisão provocou grandes jornadas e caravanas, com milhões de pessoas em trens ou a pé”, explica o artista, mostrando esse trânsito humano.
“Ramal” foi financiada pelo Fundo de Apoio a Cultura do Rio Grande do Sul – FAC-RS/2013, como parte de atividades do projeto “Ramal Montenegro/ Islamabad: trajetórias erráticas e não-lugares”. A proposta do projeto era um ramal, ou seja, um caminho imaginário que ligasse Montenegro com Islamabad, capital do Paquistão. “O objetivo foi construir um caminho que fizesse caber no teatro, no palco do espetáculo, esse mundo inteiro, esses movimentos todos que acontecem no mundo”, relata Francisco. “Islamabad é, pela distância e pela exoticidade, uma imagem de distância, de mundo e de diferença, uma questão muito importante no espetáculo”. Discutir não apenas os trânsitos humanos, mas também o que leva as pessoas até esses trânsitos e como as pessoas são diferentes pelo mundo, são ideias apresentadas pelo Coletivo no espetáculo.
Sobre o título, “Ramal 340”, o dramaturgo conta que 340 é a velocidade do som, fazendo uma referência a essa propagação. O subtítulo, “sobre a migração das sardinhas ou porque as pessoas simplesmente vão embora”, dá uma ideia de mistério. Assim como o espetáculo, não é uma resposta, e sim um questionamento “O ‘Ramal’ é uma pergunta”, diz Francisco. “As sardinhas migram todas na mesma direção, juntas, e nunca se confundem, e isso é um mistério, assim como porque as pessoas vão embora”, explica.
“Ramal 340: sobre a migração das sardinhas ou porque as pessoas simplesmente vão embora” foi indicado a todas as categorias do Prêmio Açorianos de Teatro 2016, ganhando três desses prêmios. “Isso nos faz honrados e felizes, porque esse reconhecimento demonstra a capacidade da peça de dialogar com o público e mostra o quanto o ‘Ramal’ é relevante”, admite Francisco, em nome do Coletivo Errática.
Desde o início, o espetáculo já mudou muito
A primeira apresentação do espetáculo “Ramal 340” ocorreu ainda em 2015, nas ruínas da antiga Estação Ferroviária de Montenegro. Desde aquele momento, muita coisa mudou. Francisco Gick conta que, com a mudança da apresentação para o palco, a peça mudou muito. “O espetáculo está o tempo todo em movimento constante. Muda em todo o ensaio, conforme o lugar onde vamos apresentar, conforme as mudanças do mundo, as mudanças em nós”, conta.
Segundo o artista, as constantes mudanças no mundo vão moldando os atores e também o próprio espetáculo. Questões contemporâneas como machismo, homofobia, e a própria questão dos imigrantes, que vem crescendo nos últimos anos, são pautas que vão entrando em suas apresentações.
Sinopse
Um homem espera pelo pai na plataforma da estação de trem, outro arruma as malas enquanto sua mulher desarruma as malas, outra mulher não dorme por causa de um sonho e ainda outra segue para o outro lado do mundo atrás de alguém que lhe escreveu uma carta. Tudo acontece enquanto um homem caminha sem parar atrás da filha e outro foge atormentado por uma imagem de trinta anos atrás. São narrativas que não são causas ou consequências umas das outras, que concorrem no tempo e no espaço e se atravessam na cena em movimento constante do “Ramal”.