Distribuição chegará à localidade de Rua Nova, mas moradores ainda resistem à novidade. Pesquisa conquistou o troféu de primeiro lugar na Femic 2018
Após anos de tratativas, a localidade de Rua Nova, no interior de Montenegro, está prestes a receber o atendimento da Corsan para o abastecimento de água. Até hoje, a comunidade vive com o uso dos poços artesianos que, já há algum tempo, têm se mostrado contaminados. A própria escola da região, a Etelvino de Araújo Cruz, que atende a quase 280 alunos, já não tem água potável. Recebe remessas semanais de galões de água mineral vindos da Prefeitura.
As obras da Corsan ainda não começaram. Serão instalados cinco mil metros de tubulação vindos da Superintendência de Tratamento de Efluentes Líquidos (Sitel) ainda neste semestre. Visto como uma grande conquista para a direção da instituição de ensino e para as autoridades locais, a instalação, no entanto, vai enfrentar um desafio: convencer os moradores da Rua Nova a deixarem os poços se ligarem a nova rede.
Foi diante desta situação que os estudantes Alessandro de Sá da Silva, Jean César Kipper e Luis Henrique de Oliveira Leote – todos de quatorze anos e alunos do nono ano da Etelvino – deram início ao projeto de pesquisa “A questão da água na Rua Nova: adesão ou resistência da comunidade à água tratada pela Corsan”. O objetivo foi levantar a opinião dos moradores, entender a situação atual de abastecimento e sensibilizar sobre a necessidade de ligação à nova rede.

A iniciativa ganhou destaque. Acabou selecionada para a Feira Municipal de Iniciação Científica de Montenegro, a Femic, e conquistou o troféu de primeiro lugar do evento. Os estudantes, inclusive, estarão em Novo Hamburgo apresentando o trabalho realizado na Feira Mostratec, que é realizada pela Fundação Liberato e reúne estudantes de diferentes partes do país. E mesmo com todo o reconhecimento, o foco do trio ainda segue na transformação da comunidade em que estão inseridos.
Com os resultados do projeto, Alessandro conta que, além da taxa de abastecimento da Corsan, um dos fatores que os moradores mais citam para a não aceitação da água tratada é o cloro. “Muitos têm medo de que o cloro colocado possa trazer algum malefício, o que não é verdade”, aponta. O medo de não se acostumarem com o gosto da água também foi citado pelos entrevistados. A ideia dos estudantes é levar algum técnico especializado que esclareça as dúvidas da comunidade.
“Já tentaram uma vez fazer com que eles aceitassem a vinda da Corsan, mas os moradores não quiseram”, conta Luis Henrique, o único dos três que vive na localidade de Pesqueiro, mas que também busca o bem do local onde mora a maior parte de seus colegas. Hoje, muitos dos poços artesianos da Rua Nova estão causando doenças. O da escola só é usado para abastecer os banheiros e, lá, a água sai com um alarmante tom amarelado.
“Os poços, com o passar do tempo foram começando a sujar. Muito por causa dos arrozeiros próximos que usam muita química”, explica Alessandro. Sempre preocupados com a qualidade da água, o mesmo grupo foi responsável por um projeto, em 2016, que, por meio de um processo físico de aquecimento e resfriamento, conseguiu purificar a água contaminada. O trabalho também foi destaque na Femic daquele ano e chegou a ser reconhecido pelo prefeito da época, Luis Américo Aldana. Em uma hora e meia, 50 litros de água eram purificados. O trio esperava mais incentivos para que o abastecimento da escola passasse pela invenção, mas a ideia acabou não indo para frente.
Orgulhoso da iniciativa dos estudantes, o diretor da Etelvino, Rodrigo Fernandes, destaca a importância do atual projeto. “A gente acredita que a vinda da água é fundamental. Neste trabalho, o intuito deles também foi mostrar os benefícios de uma água tratada. A obra está certa, mas é um investimento alto. Nós, por sabermos da importância do saneamento, acreditamos que todos devem fazer a ligação”, salienta. Como afirma o trio de alunos, ainda há muitos passos a se trilhar.