Os efeitos da falta de vagas em creches municipais

Problema. Casos de avós cuidando de netos e pais tendo que deixar o empregado para cuidar dos filhos são relatados

Como já foi assinalado pelo Defensor Público Rodrigo dos Santos Ribeiro, autor do processo coletivo na Justiça, a falta de vagas na Educação Infantil afeta, além das famílias, toda a cadeia socioeconômica de Montenegro. Na publicação de notícia no Facebook e Portal do Jornal Ibiá sexta-feira, 9, alguns cidadãos descreveram o que lhes resulta o problema da falta de creche para os filhos. O exemplo escolhido é do casal Rosana Maysa Escher da Silva, 29 anos, e Marcos Adriano da Silva Lotterman, 41.

Ela trabalha em um supermercado na cidade, ele em empresa do segundo setor no Polo Petroquímico. Enquanto isso, os filhos Bernardo, 7 anos, e Betina, de 1 ano, precisam ser cuidados pelos avós idosos. Assim que nasceu, a menina foi inscrita na Secretaria Municipal de Educação e Cultura (Smec). A mãe tirou quatro meses de licença maternidade e mais 45 dias de férias. Voltou a trabalhar durante alguns meses até ser obrigada largar o emprego para cuidar da Betina.

“Fiquei três meses em casa. Nesse meio tempo fui lá (na Smec) ver a situação e me falaram que ela é a primeira a ser chamada. Fiquei faceira né. Logo vão chamar! Mas até agora nada”, desabafou. Inclusive na quinta-feira passada o esposo voltou a procurar a Secretaria para ouvir a mesma resposta: a filha será a primeira a ser chamada, mas precisam aguardar.

Com a proximidade do fim do ano, a expectativa do casal é que seja atendido somente em fevereiro. Ao menos Rosana conseguiu novo trabalho, mas para tanto seus pais, ambos com 70 anos, precisam cuidar dos netos. “Porque senão, não sei o que seria. Vou me virando com a ajuda dos meus pais”, declarou Rosana.

A dura rotina de cruzar a cidade todos os dias
Mas a tranquilidade dos Silva Lotterman se resume ao fato das crianças estarem com alguém conhecido, sob todo com carinho de avós com netinhos. Isso porque há uma logística diária desgastante, uma vez que a família mora no bairro São Paulo e os pais de Rosana no Centenário. Ela sai de casa com as crianças de manhã cedo e quando o esposo trabalha no turno da noite opta por dormir na casa dos pais.

“Aí, nos outros dias, vou e volto pra casa”, descreve. A trabalhadora roga para que surja logo essa vaga para a filha, pois se soma as preocupações naturais o desgaste que essa responsabilidade representa aos idosos. Na semana passada a juíza da 2ª Vara Civil, Deise Fabiana Lange Vicente, deferiu Ação Civil Pública determinando que a Prefeitura oferte vagas em Educação Infantil em Montenegro.

A Ação foi movida pela Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Sul (DPE/RS) que obteve, em tutela de urgência, decisão favorável. Todavia, na tarde desta segunda-feira a Prefeitura ainda não havia sido notificada (o oficial tem 30 dias para cumprir a ordem). O governo diz que somente irá se manifestar após ser oficialmente informada pela Justiça.

São vários os casos de falta de creche
Assim como Rosana e Marco, muitos montegrinos vivem o martírio diário de não ter onde deixar os filhos. E com a divulgação da notícia da semana passada, ontem diversos pais foram à Defensoria, junto ao Fórum, procurar seu direito. Em um dos casos acompanhado pela reportagem, o cidadão revelou pagar R$ 1,4 mil de creche particular; além dos custos de deslocamento diário do interior para a cidade.

O órgão de direito informa que, para ser incluso na Ação Civil Pública que ajuizou, primeiro é preciso realizar a inscrição junto a Smec, exigindo comprovante de inscrição em papel timbrado do Município. Esse documento deve informar: número de protocolo; data da inscrição; identificação completa da criança (s) e dos pais, com endereço; identificação da escola solicitada; declaração da necessidade ou não de transporte; identificação e assinatura do servidor responsável e do pai.

A informação que a Defensoria tem recebido dos cidadãos é que a Secretaria da Educação não estaria entregando esse documento no ato de inscrição. Na publicação do Ibiá no Facebook, dia 9, famílias montenegrinas deixaram depoimentos.

Confira alguns dos comentários
Ana Vargas: “Já faz mais de 2 meses que estou esperando uma vaga integral pra minha bebê e nada. Só dizem que estão dando prioridade pra quem está pedindo meio turno. É uma vergonha com tantas creches em Montenegro e várias mães atrás de vaga integral e não dão. A minha bebê tem 2 anos, ela fica com a minha sogra até eu chegar. Mas eu preciso muito da vaga porque nem sempre a minha sogra pode ficar com ela. Está afetando o horário, porque já perdi um emprego por causa da falta de vagas. O meu filho de 8 anos fica com o meu marido e a tarde vai pra escola. E eu saio muito cedo de casa e o meu marido tem que descansar para ir trabalhar a tarde. E a Smec sempre diz que não tem vaga integral”.

Crislaine Cruz: “Meu bebê está inscrito desde o dia 02/01/2018. Trabalho turno integral. Mesmo assim estou solicitando meio turno e nada até agora. Só dizem que não tem vaga. É preciso sempre entrar com ação judicial pra conseguir vaga?”

Samuel Tabita: “Que ótima notícia. Há dois meses fui na Promotoria e eles entraram com uma ação judicial comunitária para conseguir as vagas, e a uma semana me ligaram dizendo que estaria chegando ao fim. Porém, na Smec me falaram que só em fevereiro pra conseguir vaga.”

Carine Julio Hendges: “Eu, esse mês, está fazendo um ano na espera de uma vaga, mesmo levando comprovante de serviço… isso que moro nos fundos duma creche.”

Dheny Renata Pereira: “Fui lá na Smec hoje e nada. Já faz quase 4 meses que já inscrevi meus meninos.”

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