Jovem abrigado supera limitações e passa na Ufrgs

Superação. Tetraplégico, Adrian mora na Fundação de Proteção Especial e conquistou vaga em Ciência da Computação

PBixo ganhou uma faixa expondo sua conquista, motivo de orgulho para o abrigo. Foto: Eveline Medeiros/Especial Palácio Piratini

Adrian Torres tem 21 anos, é fanático pelo Inter, ama computadores e acabou de passar no vestibular mais concorrido do Estado, o da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O curso escolhido foi o de Ciência da Computação, com 10 candidatos por vaga. E o que o diferencia de milhares de jovens que conseguem ingressar em um curso superior? As circunstâncias é que tornam a conquista de Adrian ainda maior.

O rapaz não sente quase nenhum movimento dos ombros para baixo. Ele ficou tetraplégico em 2013, quando foi atingido por uma bala perdida no pescoço. Passou três meses no hospital e, de lá pra cá, teve que se acostumar com a vida em uma cadeira de rodas. Não foi fácil, mas Adrian sempre contou com o apoio de várias “mães e pais”. É assim que ele chama os agentes educadores do abrigo Cônego Paulo de Nadal, da Fundação de Proteção Especial (FPE) do governo do Rio Grande do Sul. A FPE tem cerca de 400 abrigados. São crianças, adolescentes e jovens que precisam de proteção e cuidados especiais e, por determinação judicial, vivem sob a tutela do Estado. A maioria sai aos 18 anos de idade, mas os que têm deficiência permanecem, como é o caso do Adrian.

“Depois do meu acidente, eu vim pra cá porque a minha mãe não tinha condições de cuidar de mim. Estudar foi o caminho que eu encontrei”, conta o jovem. Foco e determinação não faltaram. A preparação para o vestibular da Ufrgs durou um ano. “Quando eu terminei o colégio, eu fiz o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), mas não fui muito bem na redação”, recorda. Por isso, ele procurou um cursinho pré-vestibular popular, Dandara dos Palmares.  “Os professores e os colegas me ajudaram muito”, acrescenta. As aulas eram à tarde, mas os estudos continuavam à noite, no abrigo. “Nem que fosse só uma coisinha, mas alguma matéria eu revisava”, conta.

Por causa da limitação nos movimentos, Adrian tem uma maneira especial para mexer no teclado do computador. Em vez das pontas, usa os ossinhos do meio dos dedos. O toque ele não sente, mas tem coordenação para digitar. Resultado de muita fisioterapia.

A ideia dele era ver o listão dos aprovados no notebook, mas a notícia veio de outro jeito. “Na verdade, eu nem tive tempo de ver o listão. Já veio todo mundo correndo e gritando que eu tinha passado”, lembra, dando risada.

O bixo, é claro, ganhou uma faixa, que está no pátio, pra todo mundo ver. Francisca de Godoy é uma das agentes educadoras. Ou melhor, uma das ‘mães’ do calouro. “O coração tá batendo até agora. Nossa! Eu me emocionei muito. A gente dizia: ‘Guri, tu passou! Tu tá na Ufrgs!’”. E acrescenta: “A gente é como mãe pra eles. É o nosso trabalho. A gente dá carinho, faz as coisas pra eles, chama atenção quando precisa, como toda mãe”.

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