Dia do Professor. Profissionais da área revelam que o amor pela docência prevalece, mesmo com dificuldades no país
Fazer o que gosta é a chave para o sucesso. Seja na Medicina, na Engenharia, na Publicidade, no Jornalismo ou nas infinitas áreas que hoje existem.
Mas uma coisa é fato: trabalhar em um campo que passa por turbulências, ou melhor, escolhê-lo sabendo das dificuldades a seguir… Ah, isso sim significa amor à profissão. Licenciaturas são um bom exemplo. Em meio a tantos problemas de parcelamento de salários e baixa remuneração, dar aula ainda é um ato que conquista o coração da juventude que entra agora na faculdade e permanece brilhando na mente daqueles que já ganharam o canudo.
De fato, não é fácil passar 15 anos estudando – Ensino Fundamental, Médio e graduação, receber pouco mais de R$ 2 mil e, na maioria das vezes, ter casa para manter e família para sustentar. Mas a verdade é que, na hora da difícil decisão do quê cursar na universidade, a licenciatura acaba sendo a escolhida.
E hoje, 15 de outubro, o brinde vai àquela pessoa que tem força de vontade de levantar da cama e ir à escola ensinar os alunos, na tentativa de torná-los seres humanos melhores e capazes de mudar o país: é o Dia do Professor.
Jovem aposta que qualificação melhora a educação do Brasil
A jovem Kaiane Mendel, 21 anos, formou-se há menos de um ano em Letras – Inglês/Português – na Universidade Federal do Rio grande do Sul (Ufrgs). Como tirava boas notas muito bem em Matemática e Língua Portuguesa, ela decidiu que seria professora de uma dessas disciplinas, mas Letras acabou “falando mais alto” pela sua aptidão na escrita e gosto pela leitura. “Cheguei a pensar também em fazer Jornalismo na federal de Santa Maria, mas acabei desistindo para fazer Letras na Unisinos, caso não passasse na Ufrgs”, conta.
Kaiane é filha de agricultores e foi bastante influenciada por sua dinda, professora. “Ela me dava livros nas datas comemorativas. Acho que acabou sendo uma referência”, afirma. E sua mãe, apesar de não ter tido oportunidade de estudar quando jovem, concluiu a faculdade de Pedagogia em 2013. “Olhando para trás, consigo entender claramente o porquê de sempre ter valorizado a escola e o professor, pois tive esse incentivo em casa, tanto da minha mãe, que queria estudar, quanto do meu pai, que não retomou os estudos, mas sempre nos apoiou.”
Fatores cruciais para escolher Letras foram os bons professores que teve, principalmente de Português, porque o gosto por ler e escrever poderia ter levado Kaiane a outras profissões que têm como tarefas diárias essas atividades. “Eu via a forma como eles interferiam na minha vida, que gostava disciplina, mas de outros colegas também”, recorda.
Ao entrar na faculdade, ela se envolveu no âmbito educacional. A partir do terceiro semestre, entrou para o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), em que trabalhava em escolas públicas da Capital. “Foi um choque de realidade. Percebi o quanto minha escolaridade foi privilegiada, embora sempre ter estudado na rede estadual”, confessa. Depois foi contemplada com bolsa de pesquisa, fazendo-a interromper o PIBID. “Mas permaneci atuando em outros contextos, como no Programa de Português para Estrangeiros da Ufrgs e em pré-vestibulares populares.”
Depois de formada, Kaiane faz mestrado em Linguística Aplicada e não deixa que os estudos a façam se distanciar da profissão. “Infelizmente, existe um desprestígio muito grande em relação à docência, então a busca pela formação é um meio de se qualificar, mas também de ter melhores condições de trabalho, o que envolve questões financeiras, contudo não se limita a isso”, defende. Como todo profissional, Kaiane tem insegurança de não conseguir ter uma vida digna ou de não poder exercer em sala de aula as práticas docentes nas quais acredita, dada a situação da educação no país.
“Ainda assim, não me vejo fazendo outra coisa.”
A futura professora que desistiu do curso de Nutrição
Jordana Lopes estuda Educação Física na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), no campus de Montenegro. “Na verdade, minha primeira opção de curso era a Nutrição, mas quando começaram as aulas eu me surpreendi muito, porque vi que é uma profissão totalmente diferente do que eu imaginava”, afirma. Para ela, hoje é complicado escolher ser professora, sobretudo pelas dificuldades já conhecidas, mas o lado positivo é poder mudar a realidade dos alunos. “É importante mostrar que fazem diferença. Não tem preço saber que a vida de um aluno vai melhorar em função do teu trabalho e, possivelmente, seu futuro”, revela. “E fazer isso sob a perspectiva do esporte é mais gratificante ainda”, complementa.
Nessa área, segundo Jordana, há muitas atividades em equipe que contribuem para o crescimento do estudante. “Ele aprende a trabalhar as diferenças, precisa ajudar uns aos outros, tornando-se cooperativo, participativo e entendo que, quando um grupo te ajuda, tudo fica mais fácil”, reforça.