Empresariado vai em busca de uma cidade melhor

ACI. Nova gestão quer unir comunidade e poder público para resgatar a autoestima do município e de seus habitantes

Voluntariamente e sem alarde, a diretoria da Associação Comercial, Industrial e de Serviços (ACI) de Montenegro e Pareci Novo para o biênio 2018-2019 tem se reunido desde o ano passado, a partir da eleição por aclamação, em novembro. Sob a presidência do corretor de imóveis Karl-Heinz Kindel desde a primeira semana do ano, a entidade ainda ensaia os passos que vai dar rumo ao futuro, mas os membros da diretoria não têm dúvida de que o município precisa resgatar a sua autoestima. Os líderes empresariais sabem que não se pode esperar tudo do poder público, por isso devem conclamar a comunidade montenegrina para envolver-se neste movimento de resgate. “Pertencimento é uma palavra de que gosto muito”, destaca o presidente.
Nesta entrevista, Kindel anuncia que a ideia é dialogar com o Executivo e o Legislativo a fim de propor um novo momento para Montenegro, sustentado na participação social e voltado ao bem-estar dos moradores. Quanto à ACI, a ideia central é instituir um planejamento estratégico com a colaboração de técnicos especializados. Acompanhe a entrevista a seguir.

Ao ser eleito, em novembro, o senhor comentou que o empresariado precisa assumir uma posição de protagonismo, inclusive para além dos interesses da classe. O que se busca neste sentido?
Acredito que os empresários têm que se mostrar um pouco mais, ser mais participativos. Somente pagar mais imposto não vai adiantar para que ocorram mudanças. A gente tem que aparecer e dizer como quer [os rumos de Montenegro]. Senão, acontece o que aconteceu. Criou-se um distanciamento muito grande, em nível local, da administração pública em relação à área empresarial. O empresário foi muito estigmatizado em função da política nacional, na última década, quando se viu que a corrupção foi patrocinada por empresários. Mas não podemos nivelar pela parte ruim. A grande maioria deles são pessoas boas. Temos que olhar para o município como alguém que quer o melhor. Não pode olhar apenas para si, pensar ‘comprei meu carro, construí minha casa, tenho meu dinheiro, e estou satisfeito com isso’.

O senhor acredita que estamos muito individualistas?
A Federasul, de cujo Conselho Superior faço parte, utiliza muito a palavra pertencimento, da qual gosto muito. É a sensação de você fazer parte de algo. Temos que resgatar e estimular essa ideia. Não apenas o empresariado, mas toda a sociedade. Se as pessoas tiverem mais convicção, acreditarem mais, vão cuidar mais das coisas, da praça, evitar sujar a cidade. Em diversos municípios já estão acontecendo movimentos neste sentido. São locais onde há envolvimento da comunidade cuidando das praças, das ruas, calçadas. Isso melhora a autoestima, porque é inerente ao ser humano. Quando algo vai mal, aquilo nos puxa para baixo como ímã. Essa síndrome do caranguejo na lata a gente tem que romper. Romper essa sina. Temos que trazer o jovem para junto, porque tem criatividade, e não atribuir tanto ao poder público.

Por onde começar?
A sociedade passa por ciclos de transformação e agora é um momento para isso, para a comunidade se envolver mais. Tem cidades pequenas perto de nós fazendo bonito. Muita gente acha que isso só acontece na Europa. Mas à medida que se envolve a comunidade, as ações vão ter repercussão até na segurança. Se diz que a gente desprotegeu os grandes centros porque não existem mais apartamentos. As pessoas não moram mais nas áreas centrais [das cidades]. Fizeram ‘caixotes’, o que fez com que houvesse uma desabitação dos centros. Durante a noite, eles ficam desprotegidos. Por que não ter um olhar com mais carinho, mais comprometido para onde a gente mora? Nós podemos fazer bonito. Atribuir apenas a um governante, um prefeito ou a uma Câmara de Vereadores para resolver, não é assim que vai acontecer. Infelizmente, não é assim que vai acontecer. Algumas pessoas preferem dizer que é a prefeitura que tem que fazer.

Falar é fácil…
É muito fácil falar. Porque aí se continua terceirizando as responsabilidades, dizendo ‘eu não tenho a nada ver com isso’. ‘Foi tu que quis ser prefeito, vereador’. Claro que tem coisas que não há como interferir. Ter vontade e planejamento é fundamental, pois não basta ter dinheiro [na área pública]. Se tem um problema e tem planejamento, pode até demorar mais, mas se resolve. Problema é que a maioria dos gestores públicos não tem a formação de gestor. Aí se assessoram de pessoas que não são gestoras de nada. Nem sabem o que é planejar. Aí se faz de acordo com quem grita mais. Percebo isso nos municípios, no Estado. Existem municípios se mobilizando, mas se não houver trabalho em conjunto, nada vai acontecer. Alguns dizem que a situação vai ter que piorar mais ainda para a população acordar. Espero que não. Mas o momento por que a gente passa, do ponto de vista da economia, das finanças públicas, ele é caótico, está à beira do colapso. Tem gente que não acredita nisso. Os poderes não se relacionam muito bem entre si e não acreditam muito nisto.

Neste momento, quais as prioridades de Montenegro, em seu ponto de vista?
Qualquer administração pública que fizer o básico, que é cuidar da cidade, zelar pela educação, saúde e segurança — principais pilares de uma comunidade — vai para frente. Mas se precisa saber o que fazer. Tem que informar a comunidade o que você vai fazer [enquanto gestor público], para onde você vai. Vamos limpar uma rua por semana, por mês, aí o cidadão sabe o que está acontecendo. Falta comunicação do poder público para a comunidade. Já tive uma conversa com o prefeito, colocando a entidade à disposição para debater e auxiliar. O prefeito precisa contar com a comunidade empresarial, que está disposta, mas para isso precisa saber qual é o planejamento do município.

Pecamos até no básico…
[A Prefeitura] Não precisa inventar muito. Basta trabalhar com as questões básicas e cuidar da educação, da saúde, da limpeza, da infraestrutura da cidade. E agir com transparência. Só vai ir bem. Tem cidade que possui um painel eletrônico na praça central com essas informações, quanto se arrecada, quanto se gasta. Acho importante ter transparência. Porque é igual ao orçamento doméstico. Se você gasta mais do que ganha, não vai dar certo. Por isso que o Estado não consegue investir, porque não sobra dinheiro. E até ter dinheiro de novo para investir vai demorar muito. Em Montenegro, infelizmente… o então presidente, Waldir Kleber, foi feliz em dizer [que houve erro] com relação ao plano de carreira [dos servidores municipais] que foi aprovado. Na época, tivemos conversas com algumas lideranças para saber a respeito e nos diziam que não teria impacto negativo nenhum [nos cofres da Prefeitura]. Só que não precisou de muito tempo: Montenegro saiu de uma situação invejável, de um município que pagava tudo em dia, para uma situação de dificuldade e sem perspectiva de dizer se tem dinheiro para investir. Tanto é que o último prefeito, ao chegar, não sabia qual era a situação do Município. Falta muita informação. Se a gente não sabe o dinheiro que tem e o dinheiro que deve, nem consegue planejar.

E a ACI, o que prevê internamente como prioridade?
Queremos revisar o planejamento da entidade através de uma consultoria. Faço parte do Conselho Superior da Federasul e tenho vinculação com Porto Alegre. A Federasul tem o suporte técnico para desenvolver. As linhas que imagino contemplam a busca de um envolvimento maior do empresariado, mas em termos de planejamento se pode ter várias pautas. Acaba que pontuaremos o aspecto da política, da segurança, do comércio informal. Fica neste círculo. Mas em termos de planejamento, a ideia é fazê-lo de médio e longo prazo, por isso vamos buscar um assessoramento técnico. Não vamos ter um grupo tão inchado, é mais fácil de trabalhar. Adotaremos metodologia de núcleo [para a governança da entidade], mas buscaremos auxílio técnico. O planejamento será bem útil, porque no meio do caminho quem assumir poderá enxergar na frente como vai ser. Claro que, no meio disso, aparecem novas pautas. Não adianta dar muito murro em ponta de faca nesses assuntos em que se depende muito do poder público.

Saiba Mais
Além de Karl Heizn Kindel, a diretoria executiva da ACI reúne Lorenzo Mattana Müller (vice-presidente para administração e finanças); Leomar Hommerding (vice-presidente para assuntos de indústria, comércio e prestação de serviços); e Ubirajara Rezende Mattana, vice-presidente para assuntos sociais, educação e saúde.

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