Em roda, os pequenos vão passando o “objeto da palavra” um para o outro. Só podem falar quando estão com eles em mãos. A pergunta é simples: “como estão se sentindo?”
“Eu tô muito feliz porque, quando o meu avô chegou, ele me deu de presente”; “Eu tô feliz, mas eu to triste, porque o meu pai tá doente”; “Eu tô muito triste, porque eu ainda me lembro daquele gatinho que morreu”; “Eu tô feliz porque hoje eu vou cortar cabelo”.
As mais variadas respostas das crianças foram filmadas durante a realização de um “Círculo de Construção de Paz” e exibidas ontem, 25, no 1º Seminário da Justiça Restaurativa da Comarca de Montenegro, que ocorreu na Fundarte. O objetivo foi justamente apresentar a metodologia dos círculos para a comunidade, fomentando a sua aplicação nas escolas do Município e região.
Para aquelas crianças do vídeo, serem ouvidas pareceu fazer toda a diferença. “O círculo auxilia a criança a se conhecer e também a esperar a sua vez”, destacou uma das palestrantes do Seminário, a pedagoga Katiane Boschetti da Silveira. “Ali, eu passo a enxergar o outro como um ser humano, e também aprendo que o outro também tem a dor que eu tenho.”
A especialista destacou que é papel dos educadores sair do meio acadêmico e também entender a realidade de seus alunos. “Como eu vou aprender a somar se eu tenho fome? Como que eu vou interpretar um texto se eu não dormi uma noite inteira, com medo?”, provocou.
Oportunizar espaços de fala para tratar das dores emocionais nas escolas, diante disso, é imprescindível. “Como que a gente vai lidar com tudo o que está borbulhando naquelas cabeças”, questionou Katiane. Para ela, a participação no círculo ajuda o educador a entender o jovem, ajuda que ele mesmo se entenda e lhe traz mais tranquilidade. Isso, consequentemente, reflete em seu aprendizado.
A palestra foi ouvida por um auditório cheio. Repleto de educadores de Montenegro e municípios como Viamão, Pareci Novo, Portão e Novo Hamburgo, que se fizeram representados. Vereadores de Montenegro, membros da secretaria municipal de Educação e Cultura, da Coordenadoria Regional de Educação e de entidades como a Defensoria Pública, a Polícia Civil e a Diocese também ouviram, atentos, as orientações da pedagoga.
Seguindo durante todo o dia, o Seminário também contou com fala do juiz de Direito do Tribunal de Justiça do Estado e titular do Juizado Regional da Infância e da Juventude, Leoberto Brancher. Ainda, da doutora em Serviço Social, Rosane Bernadete Brochier Kist. A organização do evento foi da equipe do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania de Montenegro, o Cejusc.