Projeto na Esperança transforma vidas pela costura

Iniciativa é mantida há mais de 40 anos pelas Irmãs de São José

Desde o início dos anos 1980, um projeto transformador é mantido com dedicação pelas Irmãs da Congregação de São José na Vila Esperança, em Montenegro. Batizado de “Promoção Humana”, o grupo reúne mulheres da comunidade para atividades manuais, de formação e convivência, promovendo autonomia, acolhimento e fé.

Hoje com 84 anos, a Irmã Eva Therezinha Magoga é uma das grandes responsáveis pela continuidade do projeto. “A história desse projeto começou com as alunas do Colégio São José, que estudavam para o magistério, mas não tinham onde fazer estágio. Aqui, havia uma escola aberta e as normalistas vinham para cá. Enquanto as crianças estudavam, as mães ficavam por aqui sem ter o que fazer. Foi aí que pensamos: vamos fazer algo para que essas mães se ocupem”, relembra.

Assim nasceu o que viria a se tornar o projeto atual. Em um pequeno espaço, com um forno a lenha improvisado, as mulheres começaram a se reunir. “Faziam pão, costuravam acolchoados, travesseiros… Era um lugar pequeno, mas muito significativo”, conta Irmã Eva. Com o tempo, o espaço foi cedido para construção da UBS da Vila Esperança e, como contrapartida, a Secretaria Municipal da Saúde cedeu um novo terreno para a construção de um novo espaço para o grupo.

Irmã Eva é uma das responsáveis pelo projeto que tem mais de 40 anos de existência na Vila Esperança

Resistência e renovação

Mesmo com estruturas modestas e desafios constantes, o grupo cresceu. “No início, tínhamos uma casa de madeira velha, mas os cupins destruíram. Fomos atrás de ajuda e a Prefeitura colocou os alicerces da casa atual. O resto foi construído com doações”, relata Irmã Eva. Até hoje, o projeto é mantido pela Congregação das Irmãs de São José, com apoio da comunidade e de empresas locais.

Hoje, 32 mulheres frequentam o espaço, localizado na Rua Tietê, número 30. O grupo se reúne duas vezes por semana e produz uma variedade de itens, como travesseiros, almofadas, guirlandas e acolchoados.

“Agora elas estão trabalhando com fibra doada por empresas, fazendo travesseiros. No inverno se produz bastante acolchoado. E perto do Natal, fazemos guirlandas, coroas de advento”, explica Irmã Eva.

A venda desses produtos é o que sustenta financeiramente o projeto. “O que é confeccionado aqui é vendido. Todo o dinheiro arrecadado é revertido para a manutenção da casa — água, luz, reparos… também realizamos brechós com roupas doadas. A casa é para elas, então tudo que entra aqui é para mantê-la funcionando”, detalha.

Das máquinas de costura saem itens como travesseiros, almofadas, guirlandas e acolchoados

A proposta vai além da costura e do artesanato. O espaço é também lugar de escuta, troca, amizade e fé. “É um momento de convivência. Nos sentimos como irmãs. Refletimos sobre a Palavra de Deus, mas também sobre o que acontece no mundo e como podemos colaborar para melhorar. Já tivemos palestras sobre reciclagem, cuidados com a natureza… Fizemos até um jardim aqui fora”, destaca Irmã Eva.

Uma vez por mês, o grupo ainda recebe uma pequena cesta básica com itens como arroz, feijão e farinha. “Essa doações são mantidas pela nossa Congregação. De vez em quando recebemos doações de empresas. Teve uma que nos ajudou por muito tempo com as cestas”, comenta.

Entre uma agulha e outra, também há espaço para muita troca e conversa entre as participantes do projeto

Aprender e ensinar

Entre as participantes mais antigas está dona Ládia Fernandes dos Santos. Ela conta que está no projeto desde o começo. Nesse tempo, Ládia relata que aprendeu tricô, além de dominar o trabalho com fuxico, almofadas e travesseiros. “Agora estou fuxicando. Eu adoro isso aqui”, afirma, brincando.

Para ela, o projeto é uma missão. “O que Deus me deu foi esse trabalho. Me sinto feliz aqui. É importante porque sempre está chegando gente nova. A gente conhece pessoas, aprende, ensina o que sabe. Algumas querem aprender, outras não, mas a gente ensina quem quer”, afirma.

A força do grupo está na generosidade mútua, em um ambiente onde cada mulher é valorizada e acolhida. O aprendizado é coletivo e contínuo. “A gente está aqui para aprender, trabalhar, ensinar o que elas não sabem e aprender também o que elas podem nos ensinar”, resume Ládia.

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