Prefeitura desocupa área invadida no Aeroclube

Moradores, que passaram a edificar no local, reclamam da falta de aviso prévio e do abandono aos mais pobres

A Prefeitura de Montenegro, juntamente com a Guarda Municipal e a Brigada Militar, realizou ontem uma ação de desocupação de área verde no bairro Aeroclube, no final da rua Elita Griebeler. De acordo com o secretário municipal de Obras Públicas, Argus Oliveira Machado, a iniciativa foi necessária para evitar que mais famílias se instalassem no espaço de forma ilegal.

Uma máquina do município colocou abaixo uma casa e outras estruturas, que estavam em fase de construção. Atendendo a pedidos dos moradores, duas residências permaneceram de pé, com prazo de retirada de móveis e desconstrução até quinta de manhã, quando o trabalho será concluído. O material das edificações será encaminhado para a secretaria de Viação e Serviços Urbanos, onde posteriormente poderá ser solicitado e retirado por seus donos.

Segundo o secretário, houve tentativas de avisar os posseiros sobre a desocupação, mas quando os funcionários da Prefeitura estiveram no local, não havia ninguém nas casas. “Nós tentamos avisar, pois como é uma área municipal, não há notificação. A fiscalização vinha durante o dia e não encontrava ninguém”, explica.

As moradias teriam sido construídas durante o período de Carnaval, mas Argus afirma que o monitoramento já estava sendo feito bem antes. Ele reforça que havia planos de edificação para mais três casas no local. “Vamos fazer essa retirada cuidando para não danificar os materiais, pois poderão ser recolhidos depois”, observou.

Argus declara que, caso o município se mantivesse omisso, teria de responder pela irregularidade junto ao Ministério Público. “Nós temos de fiscalizar e, se ficasse assim, poderia haver uma ação depois contra o município. E se deixar a população construir, depois tem que partir para a reintegração de posse. No momento em que famílias já estiverem morando, fica muito mais difícil”, comenta.

E agora? Para onde ir?
O sonho de conseguir edificar uma casa gastando menos virou pesadelo. Michael Ferreira Kalkmann, de 24 anos, sua esposa Elisangela, de 25, e a filha ainda criança, planejavam habitar uma residência na área que pertence ao município. O casal está desempregado. “Nós precisamos morar em algum lugar e não temos como pagar o aluguel. A Prefeitura também não ajuda. Precisamos do dinheiro para comprar comida e não temos condições de adquirir um terreno ou construir uma casa boa”, diz Michael. Eles já tinham demarcado o início da estrutura, o que foi desfeito.

Cunhada de Michael, Kelly de Azevedo, de 23, ficou revoltada com a situação. Era a única opção para o casal morar. “Isso é desumano. Para quem não tem lugar para morar, eles não estendem a mão”, desabafa. Ela solicita à Administração Municipal que forneça ao casal um terreno e os materiais, para construir uma casa.

Mal chegou e já vai sair. Essa é a situação de dona Celita Golz, de 59. Ela e o marido, Paulo César, de 36, se mudaram na segunda-feira. “Faz três semanas que estamos construindo e agora vem esse pessoal querendo colocar tudo abaixo. Por que não comunicaram antes, para que a gente tivesse tempo de tirar tudo?”, questiona.

Dona Celita conseguiu o direito de retirar os pertences do local até hoje à noite. Amanhã cedo, a Administração Municipal finalizará o serviço. “A gente não sabe para onde ir. Essa já não era a primeira opção, mas devido à situação em que estamos e ao abandono do lugar, optamos por construir”, conta. Ela explica que não entrou em contato com a Prefeitura, mas afirma que funcionários públicos passavam pelo local, faziam fotos e não informaram da proibição.

Angélica Maria Dias, de 22, o marido, sogra e seus quatro filhos iriam construir dentro de poucos dias. “Com essa proibição, não sei onde vamos morar, porque não temos condições de ficar pagando aluguel”, diz.

Abandono

Alex de Araújo da Rosa, 20, se diz “abandonado” pelo poder público municipal. Atualmente ele está desempregado e pretendia construir um lar para viver com sua namorada, grávida de três meses. “Há anos atrás, eu morava debaixo da ponte e acho que vamos precisar voltar para lá. Foram gastos aqui cerca de R$ 1.400,00 que a gente ficou guardando um bom tempo. E agora? A gente perde esse dinheiro, assim?”, desabafa. Ele iniciou a construção há duas semanas e a sua residência, quase pronta, também permanece de pé até amanhã, prazo final para a retirada dos materiais.

José Vilson de Souza, de 52, foi quem abrigou a Alex, que mais tarde tornou-se seu genro. José mora na região há 13 anos e diz que a Prefeitura nunca se preocupou com o espaço e, por isso, as pessoas que estavam precisando tomaram posse. “Isso aí sempre esteve cheio de mato. Várias vezes o pessoal precisou matar cobras para não correr o risco de ser picado. Até depósito de lixo foi essa área. Aí agora, que essas pessoas limparam e iam construir, eles demonstram interesse”, reclama.

Não há como realocar os envolvidos agora
De acordo com o secretário municipal de Habitação, Desenvolvimento Social e Cidadania, João Marcelino da Rosa, não há como auxiliar as pessoas que estavam construindo no local neste momento. Ele diz que a área invadida é um espaço que deve ser preservado e que não será tolerado nenhum ato de ocupação. “A gente sente muito pesar em ter de tomar atitudes desse porte, mas se fizeram necessárias. Ninguém tinha permissão para construir”, comenta.

Quem necessita de ajuda do Município deve ir à secretaria, na rua Coronel Apolinário de Moraes, 1705, para a realização de um cadastro. O contato pode ser feito também via telefone, pelo número 3632-9133.

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