Inclusão. Através da agência de Montenegro, foram disponibilizados 16 vagas e três cadastros reservas a esse público
O Ministério do Trabalho, em parceria com as agências da Fundação Gaúcha de Trabalho e Ação Social (FGTAS) promoveu na sexta-feira, 29, o Dia D de Inclusão Social e Profissional das Pessoas com Deficiência e dos beneficiários reabilitados do INSS. No Sine de Montenegro as atividades também foram realizadas, com cadastros, entrevistas e encaminhamentos dos candidatos pela manhã. O turno da tarde ficou reservado para a mesa redonda de debate “Inclusão no Mundo de Trabalho”, a partir das 14h, com participação de representantes de órgãos públicos e programas sociais. A mesa do INSS, com a colaboradora Dione Sossmeier, trouxe como contribuição conversa com os recrutadores sobre o programa de reabilitação profissional.
De acordo com o coordenador da agência Sine de Montenegro, Roque da Rocha, a edição do evento é realizado anualmente, mas não impede que ações parecidas sejam realizadas pela própria agência da cidade.
Algumas empresas montenegrinas como o Grupo Vibra, Taqi, Unimed e Agrosul estiveram presentes, ofertando vagas para as muitas pessoas que compareceram à agência em busca de um emprego. Ao total foram 16 vagas e três cadastros reservas. Como é o caso da técnica em enfermagem Ana Lúcia de Oliveira, 40 anos, que há um ano está desempregada.
Com deficiência visual monocular, ela afirma que as pessoas precisam desconstruir o pensamento de que deficiente é apenas quem não tem um membro. “Antes era mais fácil conseguir uma vaga de PCDs, sempre tinha. Agora está muito difícil de se reintegrar ao mercado”, explica.
Durante o período sem renda, e com dois filhos para criar, Ana afirma que o marido tem segurado as pontas da casa, pagando contas e comprando o sustento do mês. “Vim me cadastrar na Unimed, para tentar a vaga disponibilizada de técnico em enfermagem, e na Taqi para atendente de loja. Quem quer e precisa trabalhar, trabalha em qualquer coisa”, conclui.
Sem dinheiro, moradora do bairro Senai foi a pé até o Sine

Quase não escutando dos dois ouvidos e se esforçando ao máximo para distinguir palavras e frases pronunciadas, Elvira Ester de Oliveira, 50 anos, relata a dificuldade em conseguir um trabalho. A deficiência, segundo a moradora do bairro Senai, veio após uma grave infecção. Sem a Carteira assinada desde 2011, isso há 6 anos, ela sequer possuía o valor da passagem, R$ 3,00, para se deslocar de ônibus até a agência Sine na sexta-feira.
Mas a caminhada de mais de 30 minutos abaixo do tempo instável não foi empecilho para desviá-la de seu objetivo. “Vim a pé para tentar um emprego. Meu marido que estava há um ano e meio desempregado, graças a Deus começou recentemente na JBS, e assim vamos nos estabilizando financeiramente. Muitas foram as vezes que eu precisei de ajuda da igreja ou da minha irmã com um quilo de alimento aqui, um quilo de alimento dali, por não ter nada dentro de casa”, lembra.
Morando com dois filhos e o companheiro, Elvira diz que antes a vida era de armários cheios, com o luxo até de poder comprar uma ou outra peça de roupa em loja. Agora, até a televisão insiste em não funcionar. “A minha filha tem 17 anos e, se eu conseguir me empregar, o Bolsa Família que ganho poderá ser passado a outra pessoa necessitada. Com o salário também vou poder comprar uma nova TV, que só ‘pega’ dando com um pau em cima. Acredito que esse período de dificuldade foi como uma provação de Deus para que a gente aprenda a valorizar o pouco também quanto tiver mais”, explica.
Enquanto a oportunidade de uma porta aberta ainda não chegou, Ester fica em meio ao sonho de morar, “quem sabe um dia”, na praia. “Eu bato em tudo que é empresa, cheguei a fazer uma entrevista em uma delas e fui chamada para trabalhar. No dia em que faria a integração estava na parada esperando o ônibus quando recebi uma ligação dizendo que não tinha o perfil desejado. Eu até hoje não entendi o que é um perfil”, fala, singelamente.
Empresas apoiam a realização do evento

Gerente comercial das lojas Taqi, empresa que ofereceu duas vagas, Claudia Monalisa Diefenbach, afirma que esta foi a primeira participação no “Dia D”.
Já a cooperativa Unimed Vale do Caí, ofereceu uma vaga de enfermeiro, além de cadastro reserva para técnico de enfermagem e auxiliar de limpeza. A gerente de gestão da empresa, Cristiane Fraga da Silveira Sastre, informa que dos 580 colaboradores que compõe a equipe da Unimed atualmente, 24 são pessoas com deficiência. “E ocupando cargos diversos. Fomentar o evento é muito importante para aproximar o candidato da empresa. Nossa política de gestão é: todas as vagas podem ser ocupadas por pessoas com deficiência”, diz.
Preconceito de cada dia

Cristina Gomes da Silva, 30 anos, nasceu com uma uma deficiência na perna. Há um ano ela ocupava uma vaga na linha de produção de uma empresa. Confiante que sairia empregada do Sine, ela defende que mais edições do Dia D deveriam ser realizadas no decorrer do ano.
“O mercado é mais fechado para nós deficientes, há menos vagas. As pessoas nos olham com diferença, preconceito, como se não fossemos incapazes de realizar alguma tarefa. Se eles são capazes, sem nenhuma deficiência, eu também sou com as minhas limitações”, termina.
Laís Helena de Oliveira, 28 anos, está há menos tempo fora do mercado: três meses. “Na última edição do evento eu consegui uma vaga. Eu não tenho a visão do olho esquerdo, e gosto da forma como as coisas são feitas no Dia D. Aqui você faz o cadastro, entrevista, e sai ou não com o emprego”, conclui.