Geração Y. Num mundo cada vez mais digital, educadores enfrentam dificuldades no processo de formação de crianças
Amplamente conhecida por ser a precursora da era de tecnologia digital, a Geração Y tem sido o centro de diversas discussões entre pesquisadores no mundo inteiro. Em uma sociedade cada vez mais conectada, agora o debate se constrói sobre o desafio das escolas com os pais dessa geração, de modo a conciliar a correria do dia a dia desse grupo social com a rotina escolar dos filhos.
Geração do milênio, Geração da Internet ou Millennials também são nomenclaturas usadas para definir os nascidos a partir de 1978 até meados dos anos 90. Essa foi a primeira geração a conviver, desde a vida escolar, com a tecnologia da informação, responsável por experimentar os primeiros videogames, computadores domésticos e depois a internet. Hoje, esses adultos são considerados por muitos estudiosos como pessoas mais individualistas, autônomas e que não abrem mão de gerenciar sua vida pessoal simultaneamente com a profissional.
De acordo com dados do Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Geração Y, naquela época, representava 36% da população nacional e atualmente já somam 68 milhões de pessoas. Durante esse período, muitas mudanças ocorreram no perfil dos pais das crianças que hoje ocupam os jardins de infância e para acompanhar as exigências dos hiperconectados, alguns aspectos têm preocupados os educadores, sobretudo, os que trabalham nos primeiros anos de ensino.
Há 30 anos, a empresária Valéria Mezzari atua no setor de educação infantil e afirma que nos últimos tem percebido as diferenças impostas no processo de ensino das crianças devido ao avanço da tecnologia digital. Segundo ela, o imediatismo de informações e o uso exagerado do celular têm refletido diretamente nas salas de aula, o que tem prejudicado o processo de aprendizagem de alguns alunos.
“São notórias as mudanças que ocorrerem nos últimos anos e nós [professores] percebemos isso a partir do comportamento dos pais, já que antes eles eram muito mais participativos e presente na vida dos filhos”, disse Valéria, criticando o uso descontrolado da internet através dos aparelhos eletroeletrônicos no processo de desenvolvimento das crianças dentro de casa. “A hiperconectividade dos novos pais tem sido transmitida para os filhos. Com isso, desacelerar os pequenos tem sido um desafio diário”, confessa.
A professora de ensino infantil Catiane Mafra lembra dos tempos em que fazer a tarefa de casa representava um momento especial e de muita interação familiar. “Antigamente era uma felicidade para as crianças fazer esse tipo de atividade, porque eles tinham a atenção dos pais. Hoje, porém, devido à correria e à dependência dos meios digitais imposta pelos novos comportamentos sociais, parece que sentar e ensinar as crianças se tornou um grande sacrifício”, lamenta a educadora.
Ela completa: “Trabalhar com crianças nos primeiros anos de escola requer uma atenção especial, mais cuidados e acompanhamento detalhado, já que é aqui onde elas aprendem as primeiras palavras e primeiros passos. Por isso, é importante que os pais participem mais ativamente da vida dos filhos”.
O risco da internet para distração
Na era da internet e das novas tecnologias, os smartphones têm conquistado cada vez mais adeptos pelo mundo, inclusive crianças, que aos poucos estão substituindo brincadeiras tradicionais pelos modernos celulares, seja para jogos, redes sociais ou até mesmo para fazer ligações. Quando se trata dos pais, estes têm encontrado nas telas dos aparelhos uma grande fonte de distração para os filhos, mas poucos percebem o perigo e as sérias consequências disso no decorrer do tempo.
Diversas pesquisas já apontam indícios de que o uso do equipamento pode causar problemas na visão, hipertensão, distúrbios do sono e danos ao cérebro. Em 2011, a Organização Mundial da Saúde classificou o celular como potencial cancerígeno. A dúvida que permanece é sobre a idade certa para liberar o uso dos aparelhos e controlar o tempo sem prejudicar o desenvolvimento, saúde e vida social dos filhos.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda que crianças com menos de dois anos não sejam expostas a celulares, computadores e tablets. Já aquelas acima de cinco anos não podem ficar mais de duas horas fazendo uso de aparelhos eletroeletrônicos. A psicóloga Roberta Nebel, especialista em psicologia da criança e do adolescente, explica que é preciso verificar se a criança tem maturidade intelectual e emocional para lidar e ter o equipamento digital.
“Os pais devem decidir se o seu filho está pronto para a responsabilidade de usar o aparelho de maneira consciente. Dessa forma, eles precisam se questionar ‘por que meu filho precisa de um celular?’ e ‘será que ele é maduro o suficiente para usar o telefone de maneira responsável?”, orienta Roberta, ressaltando que o uso desses parelhos pode ser prejudicial ou não, dependendo da forma como a criança e o adolescente vão estabelecer esta relação.
Educação mais presente
Diante de uma sociedade cada vez dependente dos recursos digitais, a doutora em Educação Cláudia Cardoso Niches explica que existe um elemento que marca essa cultura conhecida pelo imediatismo. “Dessa forma, não se pode abrir mão da educação enquanto um processo de humanização dentro desse congestionamento de informações onde estamos inseridos”, disse.
Com muitos anos de experiência na área da educação, Claúdia conta que criar estratégias isoladas para lidar com os problemas do dia a dia focando sempre na criança não é o melhor caminho a ser tomado. “Na maioria das vezes, o problema está no comportamento dos pais e estes precisam assumir a responsabilidade e tomarem consciência da importância que têm com seus filhos”, orienta Claúdia.
Para a psicóloga Roberta Nebel, especializada em psicologia da Criança e do Adolescente, as consequências do uso abusivo dos meios eletrônicos são extremamente nocivas para o convívio, tendo como principal resultado o distanciamento entre pais e filhos devido à pouca atenção que é dada a eles.
“Sabemos que o desejável não é apenas a presença física dos pais, mas as possibilidades de interação que podem ser estabelecidas com os filhos, como brincar juntos, conversar, estar atento à criança [a seus gestos, falas, atitudes]. Outro aspecto importante é que se temos um adulto que fica muito conectado à tecnologia, do outro lado, podemos ter uma criança que acaba imitando este comportamento”, alerta a especialista.
A psicóloga também ressalta que na criança que ainda está se desenvolvendo, o uso excessivo dos meios virtuais pode contribuir para um isolamento social, diminuição na formação de instrumentos psíquicos para lidar com o outro e consigo mesmo, danos à saúde pelo sedentarismo e atraso no desenvolvimento neuropsicomotor e de aprendizagem.
Veja no quadro abaixo alguns motivos que ressaltam a necessidade dos pais protegerem as crianças contra o uso excessivo do celular e as possíveis consequências.
Aprenda a proteger seu filho
Desenvolvimento cerebral das crianças: um desenvolvimento cerebral causado pela exposição excessiva às tecnologias pode acelerar o crescimento do cérebro dos bebês entre 0 e 2 anos de idade e, juntamente com a função executiva e o déficit de atenção, vêm atrasos cognitivos, problemas na aprendizagem, aumento da impulsividade e da falta de controle (birras).
Atraso no desenvolvimento da criança: o uso excessivo das tecnologias pode limitar o movimento e consequentemente o rendimento acadêmico, a alfabetização, a atenção e capacidades.
Obesidade infantil: o sedentarismo que implica o uso das tecnologias é um problema que está aumentando entre as crianças. Obesidade leva a problemas de saúde como o diabetes, deficiências vasculares e cardíacos.
Alterações do sono infantil: os estudos revelam que a maioria dos pais não supervisiona o uso da tecnologia pelos seus filhos nos seus quartos. Isso faz com que seus filhos tenham mais dificuldades para conciliar o sono. A falta dele afetará negativamente o rendimento escolar.
Doença mental: alguns estudos comprovam que o uso excessivo das novas tecnologias está aumentando as taxas de depressão e ansiedade infantil, distúrbios do processo de vinculação entre pais e filhos, déficit de atenção, transtorno bipolar, psicose e outros problemas de conduta infantil.
Condutas agressivas na infância: a exposição das crianças a conteúdos violentos e agressivos pode alterar sua conduta. As crianças imitam tudo e a todos. Assim, os pais devem acompanhar e limitar o uso de smartphones e tablets pelas crianças.
Vício infantil: os estudos demonstram que uma em cada 11 crianças são viciadas às novas tecnologias. Cada vez que as crianças usam os dispositivos móveis, elas se distanciam do seu meio, de amigos e familiares.
Muita radiação: a Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica os celulares como um risco na emissão de radiação. As crianças são mais sensíveis a esses agentes e existe o risco maior de contrair doenças como o câncer.
Falta ou Déficit de Atenção: o uso excessivo das novas tecnologias pode contribuir para o déficit de atenção, diminuir a concentração e a memória das crianças, graças à grande velocidade dos seus conteúdos.
Superexposição: a constante e superexposição das crianças à tecnologia as tornam vulneráveis, sujeitas a serem exploradas e expostas a abusos.
Lado bom e saudável da tecnologia digital
A tecnologia digital é considerada por muitos pesquisadores como um pilar da atual sociedade e tem sido fundamental no processo de aprendizagem pelo mundo. No entanto, conciliar o imediatismo e a correria desse novo mundo com as interações sociais é um desafio que a população mundial atravessa sem muita convicção do que é certo e do que é errado.
Entre críticas e elogios, a professora de ensino infantil Catiane Mafra reconhece que a tecnologia digital auxilia e contribui com a educação, além de fortalecer laços entre professores e alunos. “É muito bom, por exemplo, receber dos pais dos alunos uma foto dos pequenos durante o final de semana, pois esses são laços possíveis que os aparelhos celulares possibilitam, mas isso deve ser feito de maneira saudável”, disse a professora. “Precisamos reaprender sobre o valor do contato físico e principalmente, ter tempo para tudo, inclusive para ser criança”, acrescenta.
“Conecte-se ao que importa”
O Conselho Regional de Medicina do Paraná, por meio do Programa Dedica – Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente criou em 2016 a campanha intitulada “Conecte-se ao que importa”. A psicóloga Roberta Nebel, especializada em psicologia da Criança e do Adolescente, comenta que a iniciativa é justamente abordar sobre a falta de cuidado do pais em relação aos seus filhos devido ao uso indiscriminado da internet.
“Essa campanha traz à tona uma das formas atuais do abandono caracterizado como ‘violência virtual’, que se define pela negligência dos pais e cuidadores de grande parte das crianças e adolescentes pelo desvio de seus olhares e atenção para as telas do mundo virtual”, explica a psicóloga. “O ato de cuidar acaba sendo uma omissão cada vez mais frequente e há uma negligência na atenção familiar, determinando um verdadeiro descuido no relacionamento interpessoal”.
“O Poder do eu te amo”, um livro que pode ajudar os pais
Muita gente se tornar pai sem estar bem preparado, mas uma boa leitura pode enriquecer bastante esse processo. “O poder do eu te amo”, livro de Marcos Piangers lançado nesta semana, é uma boa dica neste sentido. Você pode ter uma degustação procurando no YouTube pelo vídeo de mesmo nome, que já foi visto por mais de 50 milhões de pessoas.
Publicada pela editora Belas Letras, a obra chega às principais livrarias do país ainda em maio a R$ 40,00. “O poder do eu te amo” convida os leitores a não terem medo de dizer essas três palavras, porque elas têm poder e significado. “O eu te amo constrange; o eu te amo muda vidas”, ressalta o comunicador. Para ele, a frase revolucionária e, quando essas palavras se materializam, elas quebram barreiras invisíveis. Verbalizadas, se transformam em verdade e libertação. E nunca é tarde para começar a praticar.
Com texto simples, o autor brinca com as palavras, que dançam nas páginas do livro com fontes desenhadas e arte criada pelo designer Fabio Haag. A obra traz episódios emocionantes envolvendo sua esposa, Ana Cardoso (autora de A Mamãe e Rock e A Mamãe é Punk, também pela Belas Letras), e suas filhas Anita e Aurora Piangers, fazendo refletir sobre a importância de dizer “eu te amo” para as pessoas e o quanto essa frase pode influenciar relacionamentos e mudar vidas.
“Depois que escrevi sobre o poder do eu te amo, recebi inúmeros depoimentos. Filhos que passaram a valorizar mais os pais. Pais que passaram a estar mais próximos dos filhos. Casais que estavam distantes e, ao dizerem essas três palavras mágicas, redescobriram a paixão que um dia tinham. São palavras encantadas, que vencem a força da distância. Que recuperam o tempo perdido”, conta Piangers.